Todos os fumadores sabem que curar a dependência do tabaco pode significar ganhar uns quilos extra. Vamos ser realistas: isto não é lá grande incentivo. Mas deixar o aspeto físico para segundo plano é muito fácil. Basta decorar estes dados: “Fumar é a primeira causa evitável de doença, incapacidade e morte prematura nos países desenvolvidos, estando associada a seis das oito primeiras causas de morte a nível mundial”.
Isto pode ler-se no ebook da Direção-Geral de Saúde (DGS), “Cessação Tabágica e Ganho Ponderal — Linhas de Orientação”, escrito por Patrícia Simas, Ana Raquel Marinho e Tiago Dias.
Mas calma, porque há mais. De acordo com o que relata o mesmo livro de 2015, em Portugal, o tabaco foi responsável pela morte de 11 mil fumadores e ex-fumadores, causada por cancro, doenças respiratórias ou do sistema cardiovascular só em 2010 (dados mais recentes). No século XX, estima-se que o tabaco tenha sido responsável pela morte de 100 milhões de pessoas em todo o mundo.
Torna-se, assim, claro que são mais e muito mais importantes os benefícios de não fumar do que de fumar. Engordar é um pormenor reversível e puramente estético. O resto — tudo aquilo que o tabaco destrói — é que é verdadeiramente importante.
Posto tudo isto, vamos ao principal propósito deste artigo: fornecer dicas práticas para não engordar enquanto deixa de fumar. É importante mencionar que não é mito — existe mesmo uma relação entre o aumento de peso e a carência de nicotina: de acordo com a DGS, no primeiro ano, depois de se deixar de fumar, a média de aumento de peso está entre os quatro a cinco quilos e entre “13 a 14% dos indivíduos ganham mais dez quilos”. Contudo, estas médias não são sempre iguais: o aumento de peso é mais acentuado nos três primeiros meses após se deixar de fumar, altura em que é possível ganhar-se um quilo por mês.
Sim, é verdade que o ato de comer de forma menos controlada é uma forma de preencher o vazio que deixar de fumar provoca. Ainda assim, antes de conhecer as dicas práticas para não engordar, é preciso que conheça três motivos específicos (e científicos) que explicam este padrão tão comum em recém ex-fumadores.
1. O metabolismo basal diminui
O metabolismo basal corresponde às calorias que o nosso organismo gasta mesmo quando não nos mexemos.
“A nicotina presente no tabaco provoca um aumento no metabolismo basal em 5 a 10%”, pode ler-se no ebook da DGS. Por esta ordem, é também natural que, o metabolismo se torne mais lento quando se deixa de fumar. “Estima-se que por si só, este fator seja responsável por 40% do ganho ponderal durante a cessação” de tabaco.
2. Há uma maior tendência para o armazenamento de gordura no corpo
A nicotina também tem um efeito termogénico, isto é, faz-nos gastar mais calorias do que o normal — sem contar com o metabolismo basal. Este efeito cria uma maior “oxidação lipídica”, ou seja, faz com que o organismo utilize mais a gordura como fonte de energia, impedindo-a, assim, de se armazenar no corpo. Por isso, quando se deixa de fumar, além de se queimar menos calorias, aumenta-se o armazenamento de gordura corporal, “principalmente na zona abdominal”.
3. Tem-se mais vontade de comer
A nicotina provoca uma diminuição da fome, ou seja, reduz o apetite. Quando o corpo deixa de receber nicotina acontece, naturalmente, o inverso. Além disso, o consumo de açúcar e gordura tem uma reação no cérebro semelhante à da nicotina: “Tanto os alimentos, principalmente os ricos em gordura e açúcares, como a nicotina, levam à libertação de substâncias idênticas no cérebro como a serotonina e a dopamina, que proporcionam uma sensação de prazer e recompensa”. Por isso, é natural compensar a falta de tabaco com o maior consumo de alimentos deste género, que ajudam a melhorar “o humor e irritabilidade”. A somar a isto está o facto do palato estar mais apurado, o que faz com que comer seja mais prazeiroso.
Se é fumador e está a pensar, ou a tentar, deixar de fumar, todos estes dados podem ser um pouco assustadores, mas lembre-se dos dois primeiros parágrafos deste texto — no século XX morreram 100 milhões de pessoas por causa do tabaco.
Há formas de evitar o aumento de peso. Mas se aumentar, não dramatize. Tudo o que se ganha, perde-se. Além disso, não convém restringir-se muito do ponto de vista alimentar na mesma altura em que está a deixar de fumar. Segundo a DGS, quem limita muito a sua dieta tem uma menor probabilidade de ter sucesso em largar o tabaco.
Mas vamos a dicas práticas para que consiga deixar de fumar, sem ganhar muito ou peso nenhum. Temos nove, todas recomendadas pela DGS.
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