A dieta cetogénica, mais conhecida como keto, pode estar associada a níveis mais elevados de colesterol LDL, também conhecido como “mau colesterol”. Este aumento pode duplicar o risco de desenvolver problemas cardiovasculares, como ataques cardíacos, artérias bloqueadas e AVC, segundo uma nova pesquisa publicada a 15 de março no site da Faculdade de Medicina da University of British Columbia, em Vancouver (Canadá).

Este novo estudo vem apenas dar força às várias outras publicações científicas que afirmam que a dieta keto traz vários riscos. No início do ano passado, a US News & World Report fez um ranking com vários regimes alimentares e afirmaram que o cetogénico era o pior. Quanto aos riscos, apontaram muitos daqueles descritos pela investigação norte-americana que acaba de ser divulgada, acrescentando ainda que quem inicia este plano costuma reportar sintomas comuns, semelhantes ao de uma gripe, nomeadamente dores de cabeça, enjoos, tonturas e mal-estar geral.

De forma resumida, pode descrever-se a dieta keto como rica em gorduras e baixa em hidratos de carbono. Normalmente, o nosso corpo utiliza os hidratos como fonte de energia. No entanto, quando eles não existem em quantidade suficiente o nosso organismo passa a queimar gordura mais depressa para a utilizar como fonte de energia.

“O nosso estudo descobriu que o consumo regular de uma dieta com baixo teor de hidratos de carbono e alto teor de gordura estava associada ao aumento dos níveis de colesterol LDL e a um maior risco de doenças cardíacas”, disse Iulia Iatan,a investigadora do Centro de Inovação Heart Lung da University of British Columbia e a principal autora da pesquisa.

Já Cristopher Gardner, professor de medicina do Stanford Prevential Research Center, acrescenta que “este estudo sugere que os danos superam os benefícios, e corroborar a restante literatura científica”. “O colesterol LDL elevado não deve ser descartado como um simples e insignificante efeito secundário de uma dieta muito baixa em calorias ou cetogénica”, realça.

No âmbito da pesquisa, os investigadores criaram um plano alimentar com baixo teor de hidratos de carbono e alto teor de gordura: 45 por cento do total das calorias diárias vinham da gordura e 25 por cento dos hidratos de carbono. “A lógica do nosso estudo surgiu do facto de vermos pacientes na nossa clínica de prevenção cardiovascular com hipercolesterolemia grave após terem feito uma dieta deste tipo”, aponta Iatan.

Os responsáveis compararam 305 pessoas que seguiam um regime keto com cerca de 1.200 que se alimentavam de forma padrão, utilizando informações de saúde da base de dados britânica Biobank UK, que os acompanhou durante pelo menos uma década. Aqueles que seguiam uma dieta LCHF (Low-Carb High Fat, ou seja, baixa em hidratos de carbono e com alto teor de gorduras) tinham níveis mais altos de lipoproteína de baixa densidade e apolipoproteína B (que reveste as proteínas do colesterol mau e que pode prever doenças cardíacas).

“Após uma média de 11,8 anos de acompanhamento — e ajuste para outros fatores de risco para doenças cardíacas, como diabetes, tensão arterial alta, obesidade e tabagismo — as pessoas numa dieta LCHF tiveram um risco duas vezes maior de desenvolverem episódios cardiovasculares graves, como obstruções coronárias que tiveram de ser tratadas através de stent coronário (angioplastia), ataque cardíaco, AVC e doença arterial periférica”, aponta a equipa de investigação.

Entre os participantes, 73 por cento eram mulheres. Para Iulia Iatan, este facto é “bastante interessante, mas também apoia a teoria de que as mulheres em geral tendem a adotar outros padrões dietéticos e estão mais interessadas em mudarem os seus estilos de vida.” E acrescenta: “O que importa lembrar é que cada paciente responde de maneira diferente. O que descobrimos é que, em média, os doentes que seguem esta dieta tendem a aumentar os seus níveis de mau colesterol”.

Apesar dos argumentos contra, a dieta keto é uma das mais populares do mundo. Carregue na galeria e conheça outros regimes alimentares igualmente famosos.