“Desde abril de 2009, milhões de pessoas concluíram com êxito o programa Whole30 com resultados impressionantes e transformadores.” É uma das primeiras frases que se pode ler no site de uma das dietas do momento — e assim entramos num mundo que promete mudar vidas em apenas 30 dias.
Já perdemos a conta ao número de dietas que apareceram nos últimos tempos. Umas mais simples, outras meio bizarras, sem esquecer aquelas nada sensatas. Provavelmente já ouviu falar do jejum intermitente, da dieta Keto e a do café —para referirmos apenas algumas — e talvez até tenha experimentado seguir algum destes planos alimentares.
Porém, tendência do momento é outra. Busy Philipps, da série “Freaks and Geeks” e Emmy Rossum de “Shameless” são duas das celebridades que mais têm partilhado e elogiado a fórmula. O programa Whole30 tornou-se conhecida em 2019 e nos últimos meses voltou a estar sob as luzes da ribalta graças às redes sociais.
Pelo nome, percebe-se que tem algo a ver com o número 30. São os dias necessários para “transformar a sua saúde, os seus hábitos e a sua relação emocional com a comida”. A dieta tem até direito a um site próprio, onde explicam tudo o que se pode ou não fazer, o que comer e como a seguir. Como seria de esperar, relatos de casos de sucesso não faltam e elogios também não. Será que é assim tão benéfica e eficaz quanto afirmam? A NiT foi à procura de respostas e foi a nutricionista Helena Cid da HeartGenetics quem as deu.
“O Whole30 é muito mais do que um programa de perda de peso. Quem se focar apenas na composição corporal vai ignorar todos os outros benefícios dramáticos e vitalícios que este plano tem a oferecer”, afirmam no site. É por isso que, entre as várias regras a seguir, uma delas dita que não deve pisar a balança nem fazer qualquer outra forma de medição corporal durante um mês. Ainda assim, é recomendado que se pese antes e depois do processo.
O objetivo é que ao fim de 30 dias, após tantas alterações, “se sinta motivado a alterar definitivamente o seu plano de refeições”. Para isso, o programa Whole30 é definido em duas fases. Os primeiros 30 dias são de eliminação, seguidos de outros dez de reintrodução. “Nos primeiros, come-se carne, frutos do mar e ovos; muitos legumes e frutas; e gorduras naturais e saudáveis.”
Os defensores do plano argumentam que, eliminar os “grupos de alimentos inflamatórios e prejudiciais ao intestino” mais comuns durante 30 dias consecutivos, ajuda a alterar a composição corporal e tem um impacto positivo na saúde a longo prazo. Durante este período não poderá ingerir açúcar, álcool, grãos, legumes, laticínios e alimentos processados, bem como alternativas à carne, como o tofu ou tempeh.
Ao fim de um mês, entra-se na fase dois. “Esta é a parte divertida — onde pode voltar a comer os alimentos que evitou, um de cada vez, e a comparar a sua experiência. É durante este processo que irá descobrir os alimentos que podem ter um impacto negativo na sua energia, sono, humor, desejos, digestão e muito mais”, explicam.
Bastante simples, aparentemente. No entanto, esta não é uma dieta “assim tão fácil de seguir”, considera a nutricionista Helena Cid. “É muito restritiva e o que acontece é que, ao fim de pouco tempo as pessoas acabam por desistir”, começa por explicar à NiT.
Não, não há cá restrições calóricas, medições, nem obrigação de que tudo seja orgânico, e até estimula a procura pela diversidade de legumes — um dos poucos pontos positivos apontados pela especialista em nutrição. Contudo, “é excessivamente rica em proteína e impõe um corte radical nos hidratos de carbono”. Isto porque, ao cortar nos alimentos considerados comummente como acompanhamentos, “acabamos por aumentar a quantidade da carne e do peixe”, mas também “precisamos de descobrir mais opções vegetais para não estar sempre a comer o mesmo”.
Mais arriscado do que benéfico, “mesmo quem consegue completá-la acaba por engordar ainda mais, porque o organismo não se adapta”, explica a nutricionista. Para Helena Cid, além de ser “fundamental ter um acompanhamento profissional” antes de se iniciar este processo, seria também importante “fazer um teste genético para perceber quais os nutrientes que fazem falta a cada organismo”.
“Ninguém é igual a ninguém e o que pode funcionar com uma pessoa pode não funcionar com outra.” Segundo a profissional, há mesmo quem tenha uma mutação genética responsável pela compulsão alimentar, e para esses portadores “este tipo de dietas não funciona”. “Até podem estar cheios de vontade, mas os cortes só vão fazer com que tenham dificuldade em controlar a saciedade e que sintam necessidade de comer alimentos de satisfação rápida, ou seja, doces.”
Segundo os relatos de pessoas que experimentaram seguir a Whole30 que podemos ler no site, a dieta não leva a perdas acentuadas de peso, mas pode ajudar a reduzir o inchaço e desconforto abominais. Os testemunhos também referem melhorias notórias no aspeto da pele e na qualidade do sono.
Nas primeiras semanas é habitual sentirem-se alguns efeitos secundários, “como cansaço, dores de cabeça ou stress”, referem no site. A longo prazo, frisa a nutricionista Helena Cid, também pode trazer problemas renais ou hepáticos devido “ao grande aporte proteico”. Ainda que possa ajudar quem sofre de diabetes ou anemias, “é preciso fazer os ajustes corretos nas refeições”, realça.
“O programa Whole30 é famoso pelo seu ‘amor duro’ [uma forma severa de mostrar carinho], mas não fique nervoso — tem mais amor que dureza. Muitos de vocês querem mudar de vida, mas não têm a certeza se conseguem realmente fazê-lo. Se passaram toda a vida a fazerem dieta sem obterem resultados, estão céticos e desconfiam que o Whole30 seja realmente diferente. Juro que é.” As palavras são de Melissa Urban, a cofundadora do Whole30, que não deixa de apelar à experiência.
Já Helena Cid realça que nem todos estão preparados para fazerem esta dieta e que, por isso mesmo, não devem adotá-la cegamente. “Ou o organismo está pronto e a pessoa segue tudo de forma muito disciplinada”, ou não irá resultar. “Se começar esta ou outra dieta, o melhor mesmo é pedir aconselhamento profissional”, reforça novamente.
“Está mais do que estudado e provado que a dieta mediterrânea tem o padrão mais saudável do mundo”, lembra. E acrescenta: “Por mais que apareçam novas dietas que se tornam moda por causa dos famosos, não há nenhuma como a nossa”. Não obstante, a profissional reconhece que mesmo o padrão alimentar mediterrâneo pode — e deve — ser adaptado aos tempos modernos. “Uma das coisas a que devemos prestar mais atenção é às doses. O português come em grandes quantidades”, explica.
Uma forma de alterar as doses é rever as proporções dos alimentos, diminuindo a quantidade de uns e aumentando a de outros. Os legumes podem ser um “bom ponto de partida” , uma vez que “devemos aumentar o seu consumo”, defende. Através deles garantimos o aporte de fibras, vitaminas e minerais. “Uma coisa é cortar no açúcar, outra é eliminar radicalmente os hidratos como acontece na Whole30 “, conclui a nutricionista Helena Cid.
E como estamos numa época onde se torna difícil resistir aos doces, se não consegue evitá-los, é melhor saber quais as escolhas menos prejudiciais. Carregue na galeria e descubra os pais natas de chocolate que deve evitar comer (e oferecer) este Natal.