Os avanços no processo de inseminação artificial vieram mudar completamente o paradigma da gestação. Atualmente, não são só pessoas do género feminino que têm a capacidade de gerar vida — homens transgénero também o podem fazer. Para tornar a linguagem mais inclusiva e adaptada esta realidade, um estudo realizado pela “Academy of Breastfeeding Medicine” defende que a designação “mãe” deveria ser substituída pela expressão “pessoa lactante”.
Na sequência desta investigação, a alteração na forma de tratamento acabou por ser posta em prática em países como o Reino Unido e a Austrália. No entanto, depois de algum tempo de utilização dessa expressão, surgiu um outro estudo que indicava que essa mudança pode ser prejudicial.
A novo pesquisa foi levada a cabo por 10 investigadoras na área da saúde em diversos países dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Publicado no final do mês de janeiro, chegou à conclusão de que a substituição da palavra mãe por uma expressão neutras reduz o vínculo entre a progenitora e o bebé. “A ‘assexuação’ da linguagem reprodutiva feminina foi introduzida com o objetivo de ser sensível às necessidades individuais e para ser mais gentil e inclusiva”, pode ler-se na investigação. “No entanto, esta gentileza gerou consequências não intencionais que têm sérias implicações para mulheres e crianças.”
Uma das co-autoras, Jenny Gamble, aponta que: “confundir a identidade de género e com a realidade do sexo reprodutivo traz consequências adversas para a saúde e gera uma discriminação mais profunda e insidiosa contras as mulheres (…). Sexo [uma categoria reprodutiva], género [um papel social] e identidade de género [um sentido interior do eu] não são sinónimos, mas são tratados como se fossem.” A mesma acrescenta ainda que a “gravidez, parto e a maternidade precoce são questões fundamentalmente de sexo, não de género.”
Em declarações ao “The Sunday Morning Herald”, a ativista transgénero Sally Goldner, e co-fundadora da Trangender Victoria, admite que se pode conseguir inclusão sem apagar a palavra mulher [ou mãe]. “É importante que representemos todos. As ‘mulheres cis-gênero padrão’ vão poder continuar a receber as mensagens, mas podemos adicionar as mensagens que precisamos para outros grupos em termos de amamentação e parto”, disse. “Existem maneiras de fazer isso e incluir todos, e tornar [a informação] abrangente, acessível e inclusiva (…) É muito importante que cada grupo seja consultado e tenha um senso de propriedade da linguagem; trata-se apenas de ouvir as pessoas para que os recursos estejam lá.”
Sobre esta mudança na utilização das expressões, Teddy Cook, membro da maior organização de saúde LGBTQI+ australiana, afirmou que: “Enquanto a linguagem está mudar ou a ganhar novos termos, o que estamos realmente fazer é a dar passos corajosos para sermos mais inclusivos e reconhecer que existem populações altamente marginalizadas e vulneráveis e que carregam um fardo de saúde precária que ninguém merece.”