O apetite, ao contrário do que muitos podem pensar, não depende apenas dos gostos (que definem muitas das nossas refeições) ou de ter passado mais ou menos tempo desde a última vez que comemos. Dependem, sim, da capacidade que o cérebro tem de comunicar com o intestino, mais concretamente, de controlar as bactérias que lá vivem.
É isto que avança um novo estudo, publicado a 22 de abril, na revista “Nature Metabolism”, que procurou compreender de que forma é influenciada a sensação de saciedade, e as consequentes flutuações de peso.
“O cérebro comunica com o intestino para indicar se está com fome ou não. Tem a capacidade de monitorizar a composição de bactérias no intestino em tempo recorde — duas horas — e, portanto, influenciar a sensação, ou a falta dela, de saciedade”, começaram por explicar os investigadores responsáveis.
A pesquisa, realizada por cientistas do Hospital Clínic de Barcelona, em colaboração com a Universidade de Santiago de Compostela e a Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, foi feita com um propósito específico: o de demonstrar que a comunicação entre estes dois órgãos significa que é possível “atuar sobre as bactérias intestinais”, e assim “controlar os nossos hábitos alimentares”.
Os cientistas esclarecem que é o hipotálamo — uma região na base do cérebro, que regula diversas funções no organismo — que controla o apetite, avançando que esta zona se “acende” quando temos fome, e que se “apaga quando o corpo está satisfeito, como um interruptor de ligar-desligar”. “Quando esta área está desligada, o corpo consome as suas próprias reservas de energia, o que ajuda a regular o peso”, complementam.
Durante a investigação, os cientistas estimularam aquela área do cérebro, procurando compreender os efeitos que causariam no intestino. Descobriram que as bactérias não reagem apenas à comida ingerida, mas a todos os sinais que recebem do cérebro.
Quando a área do cérebro que inibe a ingestão de alimentos é ativada ou bloqueada, a composição da flora intestinal altera-se rapidamente, no espaço de apenas duas horas.
“Resumindo, a modificação das áreas do cérbero, que controlam o apetite ou a fome, afeta as bactérias intestinais, que reagem como se tivessem recebido nutrientes, mesmo que não tenha sido ingerido qualquer alimento. Como resultado, enviam mensagens ao cérebro a dizer que o corpo está satisfeito ou que não recebeu qualquer alimento, quando na realidade não é esse o caso”, acrescentam.
Pretende-se que esta descoberta contribua para “desenvolver processos de intervenção para restaurar a comunicação entre o cérebro e o intestino e, assim, influenciar os hábitos alimentares”.