Saúde

Amianto no Passeio Marítimo de Algés: “risco moderado” em Portugal é “elevado” para UE

Amostras colhidas na zona ribeirinha de Algés confirmam a presença desta substância altamente nociva para a saúde.
É um risco moderado.

Durante uma ação de limpeza de praia promovida pela Associação Evoluir Oeiras, em setembro de 2022, foram detetados resíduos de fibrocimento nas praias da Cruz Quebrada e do Dafundo, assim como ao longo do Passeio Marítimo de Algés. Os responsáveis pela iniciativa, cientes da possibilidade de estes materiais conterem amianto — uma substância altamente nociva à saúde pública —, alertaram de imediato as autoridades municipais e os serviços de saúde e ambiente.

“Desde então, temos insistido para que o executivo de Oeiras tome medidas concretas para proteger a saúde dos munícipes e visitantes”, comunicou a organização nas redes sociais. Apenas em maio de 2024, dois anos após o alerta, foi dado início ao processo de contratação da empresa Amiacon, que se encarregou de realizar um estudo na área afetada.

O relatório final deste diagnóstico confirmou as quatro amostras colhidas nas proximidades do passeio marítimo, da praia e da linha ferroviária de Cascais, todas apresentaram “resultados positivos quanto à presença de amianto”. As amostras incluíam amianto branco (crisótilo) e azul (crocidolite), sendo este último considerado o mais perigoso.

Os materiais identificados encontravam-se “em mau estado de conservação e dispersos por toda a parte, estando partidos e degradados, o que aumenta o risco de exposição a fibras de amianto”. Durante a análise, foram também colocadas bombas de colheita na zona para medir a concentração de fibras no ar.

“Das 15 amostras colhidas, nenhuma apresentou resultados superiores ao valor limite de exposição para expostos passivos (0,01 fibras por cm³/ml de ar)”, indica o relatório. Após a realização das análises, concluiu-se que existe um “risco moderado para todos os utilizadores do Passeio Marítimo de Algés”.

Contudo, se a nova diretiva europeia relativa à proteção contra a exposição ao amianto já estivesse em vigor — que deverá ser implementada até dezembro de 2025 —, o risco de exposição seria “elevado”. A nova norma prevê um “valor limite de exposição cinco vezes mais restritivo do que o atualmente utilizado”, alterando o limite de 0,01 fibras para 0,002 fibras por litro de ar.

A colheita realizada, que envolveu a captação de 480 litros de ar durante quatro horas, não pode ser considerada “representativa de uma situação normal”, uma vez que a área está sujeita a condições climáticas adversas, como vento, passagem de comboios ou o movimento de pessoas, “continuando a existir a possibilidade de risco de exposição ao amianto”.

No relatório, é recomendado que sejam removidos todos os materiais visíveis, acreditando-se que existam também resíduos de amianto sob o passeio marítimo e a linha do comboio, colocados pela fábrica Lusalite nos anos 1940.

A autarquia anunciou que irá proceder à reabilitação da totalidade da frente ribeirinha de Algés, estendendo o terraplano até à Cruz Quebrada, para “criar um parque urbano atrativo para toda a população, incluindo as ações necessárias que possam ser exigidas pela nova diretiva”.

O amianto é um grupo de minerais constituído por fibras microscópicas, amplamente utilizado em diversos materiais de construção, especialmente em telhados, pavimentos e isolamento de edifícios. Nos últimos anos, foi constatado que estas fibras podem ser libertadas facilmente no ar devido ao desgaste dos materiais, sendo posteriormente inaladas.

Quando estas fibras penetram nos pulmões, podem provocar pequenas lesões que, com o tempo, aumentam o risco de doenças respiratórias graves. Os sintomas mais comuns em indivíduos com exposição prolongada ao amianto incluem tosse seca persistente, rouquidão, dor torácica constante, dificuldade em respirar e uma sensação de fadiga contínua.

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