“Comecei a sofrer problemas logo aos 10 anos, e desde aí que a situação foi escalando. Comecei a sofrer de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e ansiedade”, confessa Ana Marta Martins, jovem atriz e produtora de 24 anos. A condição levou a que estivesse sempre atenta ao fenómeno da saúde mental e, dessa forma, lançar a 21 de março a AMMAR, uma plataforma online que partilha conteúdos para melhorar a saúde mental, dicas de treino, de nutrição e de terapia. “A nossa missão para por acabar com o estigma e dar visibilidade às condições de saúde mental, ajudar as pessoas a lidar com o sintomas e a adotarem hábitos que melhoram as suas vidas”, lê-se no site.
Ana formou-se em representação em Portugal e mudou-se para Londres para tirar a licenciatura. Atualmente está a terminar o mestrado em produção cinematográfica. Pelo caminho, foi aprendendo a lidar com a sua própria saúde mental. “A partir do momento em que comecei a alterar o meu estilo de vida, fosse através do exercício físico ou da alimentação, consegui mudar também a minha mente”, explica. Ainda assim, a jovem reforça a importância da terapia, da qual muito dependeu.
Portugal foi o segundo país da OCDE com maior utilização de antidepressivos, em 2023. Um sinal de que há cada vez mais pesssoas a necessitarem desta ajuda. É nisso que acredita também Ana Martins. “Acreditamos que tudo o que fazemos com o nosso corpo vai ter um impacto direito com a nossa mente. O nosso objetivo passa por oferecer um espaço seguro para todos aqueles que sofrem problemas de saúde mental e que querem mudar os seus hábitos.”
Ao sentir melhorias no seu bem-estar, percebeu que queria ajudar os outros. “Senti mesmo essa necessidade”, conta. “Às vezes há fases muito solitárias, as pessoas têm muita vergonha de falar sobre estes assuntos e mesmo quando há alguma abertura, são poucas aquelas que compreendem”, confessa Ana Marta.
O ajuda que dá aos outros passa, então, pelo seu recém-nascido site. Por lá encontram-se várias receitas e dicas sobre certos alimentos, assim como conselhos para viagens e passeios. Tem também um loja online onde não faltam as T-shirts. “Schizophrenia beats being alone”, “OCDo it” ou “Bipolar : ( :” são as expressões que se encontram sem pudor nas camisolas. “É uma maneira de consciencializar as pessoas, de evitar que se mantenha um tabu. Foi uma forma que arranjei de tentar criar essa abertura”.
Ainda assim, o que distingue o AMMAR de qualquer outro site é um segmento dedicado a testemunhos, aberto a qualquer pessoa. “Surgiu no sentido de criar uma comunidade. Na altura passei por muita coisa sozinha e não tinha para onde me virar, as pessoas não compreendiam”, conta.. “É um sítio onde todos passámos pelo mesmo, onde percebemos que não estamos sozinhos”, reforça.
Não deve ser fácil reconhecer que, se tivesse passado por todas aquelas complicações nos dias de hoje, muito provavelmente teria tido mais e melhor apoio. “Ainda temos um longo caminho pela frente, mas sinto que apesar de tudo é diferente hoje em dia”, conta a jovem. “Comecei a sofrer este tipo de problemas há 14 anos atrás e simplesmente não se falava do tema. Se fosse agora, sinto que as pessoas à minha volta já teriam outro entendimento e, se calhar, a resposta poderia ser outra”, conclui.
No entanto, a atriz reconhece a ajuda do teatro no seu processo pessoal, a começar pelo facto de o mundo da representação ser composto por pessoas de espírito muito aberto. “De facto, o teatro também me deu muitos mecanismos para conseguir falar sem escrúpulos sobre os assuntos. Nós próprios trabalhamos muito as nossas emoções na profissão e esse à vontade para conversar sobre os tópicos foi uma ferramenta essencial para o que faço hoje.”
Mas se efetivamente a criação de um website nada tem a ver com os palcos, a experiência pessoal da fundadora foi o suficiente para conseguir dar o apoio que desejaria ter tido em tempos. A prova do sucesso passa pelo feedback das imensas mensagens que recebeu, assim que inaugurou a novidade. Uma delas foi marcante. “Recebi uma mensagem de uma professora que tem imensos alunos com ansiedade, depressão e TOC e quis-me agradecer pela iniciativa. Foi das melhores palavras que li”, revela a jovem.
Embora o AMMAR tenha pouco mais de uma semana, Ana Marta já tem ambições para o futuro da sua criação. “Num futuro próximo, a ideia seria marcar presença nalguma feiras relacionadas com saúde mental e através do marketing de boca a boca ir passando a palavra”. Mas não é tudo.
Também está na agenda arranjar parcerias com profissionais de várias áreas — nutricionistas, psicólogos, personal trainers — para criar uma rede de ajuda com os leitores. “Se alguém quer começar a praticar exercício físico, mas não sabe por onde começar, basta ir ao site para ver a lista dos vários especialistas, e por fim, falar com eles”. Quer ainda promover o trabalho de outras empresas entendidas da área e conseguir assim ajudar ainda mais pessoas. Contudo, a atriz sublinha que quer estabelecer um limite de custo, “para que seja o mais acessível possível”.
As correntes de apoio psicológico são muitas, variando consoante os métodos a que recorre, entre outros fatores. No caso de Marta, do psicólogo, ao psiquiatra, passando pela nutricionista e pelo PT, todos eles contribuíram positivamente para o estado da sua saúde mental. Mas conclui deixando bem claro que “qualquer pessoa deve fazer o que faz mais sentido para ela e o que funcionar melhor”.