O Natal é considerado por muitos a celebração mais bonita do ano. Contudo, nem todos partilham do mesmo espírito natalício. A solidão, bem como a ansiedade provocada pelo convívio com alguns membros da família podem minar a alegria, o amor e o contentamento que muitos reconhecem à quadra.
Nem todos conseguem sentir-se tranquilos e felizes nesta época do ano, apesar da enorme pressão externa nesse sentido. A psicóloga familiar Rute Agulhas vai mais longe e revela que muitas pessoas experienciam ansiedade, tristeza, raiva. “Emoções desagradáveis que, naturalmente, impactam negativamente o bem-estar de qualquer pessoa”, refere a especialista em psicologia.
Muitos não sentem apenas tristeza — o Natal é mesmo sinónimo de elevado stress e ansiedade. Seja pelas pessoas significativas que perderam e que, agora, deixam um lugar vazio à mesa, seja pelos conflitos familiares que durante o ano são vividos à distância (e, por isso, mais fáceis de aceitar), seja pelas dificuldades económicas que podem estar à atravessar. “Para os pais separados ou divorciados esta é também uma altura especialmente desafiante, tantas vezes carregada de conflitos e disputas em relação ao tempo que passam com os filhos”, acrescenta a psicóloga..
Este ano será diferente dos últimos, o que poderá revelar-se especialmente desafiante. Com o fim das restrições impostas durante a pandemia, muitas famílias alargadas vão voltar a juntar-se, incluindo pessoas que não veem ao vivo há muito tempo. O reencontro pode ser visto por muitos como algo positivo, porque “anseiam estar próximas de familiares e amigos”, mas para outros não é será bem assim. “Antecipam-se tensões e conflitos familiares, o que gera desde logo apreensão e ansiedade. Como algumas pessoas dizem, é um momento para ‘fazerem de conta’ que está tudo bem”, conta Rute Agulhas. Porém, se nem todos os elementos da família estiverem alinhados com esta forma de gerir a tensão latente, tudo pode descambar antes da sobremesa. “Neste contexto, entendemos porque muitas pessoas dizem que o Natal é acima de tudo uma altura de fingimento e de hipocrisia”, avança a especialista em psicologia familiar.
No lado completamente oposto, há quem odeie esta quadra natalícia porque a passa completamente sozinho. “Quem está só, sente esta altura do ano como particularmente difícil. É como se a solidão ficasse ainda mais nítida e saliente”, descreve a profissional.
Como manter a saúde mental
As tradições não são iguais em todas as famílias, mas há um facto comum a todas: as expectativas. Criadas pela natureza humana e alimentadas por todos os anúncios e conceitos inerentes à época, o ideal de família descreve-a como um lugar de tranquilidade, harmonia e amor. Quando não é assim, a primeira coisa a fazer, segundo a psicóloga, é ajustar as expectativas, de forma a que não se gere uma frustração.
As imagens veiculadas pela ficção — seja na televisão, cinema ou até nas redes sociais — não são devem ser consideradas modelos a seguir. Todos os relacionamentos reais envolvem momentos de tensão e as relações entre elementos de uma família não são exceção. Partir do princípio que podem acontecer é uma forma de evitar reações desproporcionadas.
Para evitar ficar ansioso e triste, Rute Agulhas refere a importância de cuida dos três grandes pilares da saúde psicológica: “sono, alimentação e exercício físico”. E ao mesmo tempo, descansar, dedicar tempo ao lazer e a fazer coisas que dão prazer (muitas vezes colocadas em segundo plano ao longo do ano). “Também dedicar algum tempo a conviver com as pessoas de quem se gosta e restabelecer contactos com pessoas mais distantes pode ser muito benéfico para a saúde mental”.
Relaxar antes dos momentos que podem gerar maior tensão também pode ter efeitos positivos. Tomar um banho demorado ou fazer uma sesta antes do jantar de Consoada podem ajudar a evitar o cansaço e ansiedade, fatores que contribuem para o descontrolo emocional e para uma maior suscetibilidade emocional.
Nos casos das pessoas que se sentem sozinhas e desamparadas “é fundamental investirem em respostas sociais que minimizem um pouco a sua solidão, tendo como foco a sua saúde psicológica”. Caso conheça alguém que está a passar por isso pode incentivá-lo a pedir ajuda e a tentar ativar, na medida do possível, a rede de suporte social de proximidade. Uma forma de o fazer é procurar eventos comunitários organizados por entidades locais (como juntas de freguesia ou paróquias) onde possa conviver com pessoas em situações semelhantes durante estes dias.