Todas as semanas somos bombardeados com promoções que nos deixam um pouco mais felizes. As reduções parecem estar em todo o lado: nos spots publicitários da televisão, nos outdoors, na nossa caixa de mensagens, nos feeds das redes sociais. E nem sempre conseguimos resistir aos preços imbatíveis.
A inflação fez subir o custo médio do cabaz alimentar cerca de 15 por cento. Desde agosto de 2022 que os cereais e a carne estão 20 por cento mais caros. Já os laticínios e vegetais registaram aumentos neste período, mas ainda assim acima dos 10 por cento. A esta subida generalizada dos preços dos alimentos, as cadeias de fast food responderam com ofertas e reduções.
O Burguer King e o Mcdonald’s destacam-se com as descidas de preços nos menus e com promoções especiais em snacks. Mas não estão sozinhos, a Teleppiza, a Pizza Hut e Domino’s também alinham no jogo com campanhas de leve dois, pelo preço de um. E outras cadeias, como a 100 Montaditos têm dias onde quase todas as propostas da ementa custam 1 euro. O que têm em comum estes restaurantes e os seus descontos? Aliciam ao maior consumo de alimentos processados.
A oferta deste tipo de restaurantes é maioritariamente definida pelas elevadas percentagens de açúcar, gordura e sal, bem como pela escassez de proteínas e fibras. “Este tipo de comida destina-se a ser conveniente e saborosa, mas diminuem a qualidade da dieta”, explica à NiT a nutricionista Sónia Marcelo. “E muitos destes alimentos também contêm aditivos com efeitos negativos para a saúde.”
Todos sabemos que a fast food não é benéfica para o organismo, porém, num dia atarefado, quando não há tempo para cozinhar ou se está em viagem, a fast food acaba por parecer a melhor opção. “Basta passar por um outdoor a anunciar uma promoção que, inevitavelmente, a nossa vontade imediata é comer o hambúrguer e as batatas fritas que acabámos de ver”, refere a nutricoach. E tornar-se mais evitar — sobretudo quando estamos com fome.
Este tipo de comida não se iguala, do ponto de vista nutricional, à comida preparada com recurso a alimentos frescos. O aquecimento e reaquecimento constante destas refeições resulta em perdas de nutrientes, o que faz com que percam qualidade e não satisfaçam as necessidades energéticas do organismo por tanto tempo. “Ao fim de duas horas já estamos com fome”, realça Sónia Marcelo.
A especialista em nutrição acredita que “alguém que tem como prioridade manter uma rotina alimentar saudável, dificilmente irá cair na tentação de comer este tipo de refeições”. Porém, isto não significa que de vez em quando não o possa fazer, sobretudo se for estimulado a isso, como acontece quando somos expostos às tais promoções.
“Quem, por norma, não se foca tanto em manter uma alimentação saudável — e face ao aumento dos preços dos bens alimentares —, pode acabar por fazer mais refeições nestas cadeias que, aparentemente, tem preços mais baixos”, conclui.
Uma guerra de preços que faz muitas vítimas
“Se as pessoas começarem a investir mais em alimentos processados, a longo prazo, podemos vir a ter um problema de saúde pública, relacionado com o excesso de peso”, refere Sónia Marcelo.
A obesidade pode dar origem a condições graves, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e até com estados depressivos e de ansiedade. E esta patologia metabólica é desencadeada pelo aumento do peso, que é agravado com o consumo de alimentos ricos em sal, gordura e açúcar.
Segundo o último relatório “Health at a Glance”, da OCDE, realizado em 2019, 67,6 por cento dos portugueses acima dos 15 anos têm excesso de peso. A probabilidade, caso o consumo alimentos processados aumente, é que esta percentagem continue a subir.
Como nos podemos proteger do ataque das promoções?
“O primeiro passo é olhar para estes alimentos como algo depreciativo, que vão prejudicar o meu bem-estar e saúde”, diz Sónia Marcelo.
Depois, é importante não usar como desculpa a inflação e a crise económica para preferir este tipo de comida. Se compararmos os preços dos alimentos propostos por cadeias de fast food com o de um quilo de leguminosas (como o grão ou o feijão, por exemplo), este custa em média 0,80€ e acaba por render para várias refeições. “Neste caso estaremos a preferir um alimento que confere uma sensação de saciedade e muito mais interessante em termos nutricionais, rico em vitaminas, fibras e minerais”, frisa.
Outra dica é preferir a fruta e legumes da época e os mercados locais. “Os preços são muito mais em conta do que nas grandes superfícies.” E Sónia Marcelo deixa ainda outra recomendação: “Há cabazes com produtos quase a terminarem a validade, ou com frutas e vegetais que não são tão bonitos, que acabam por ser vendidos a preços mais simpáticos”.
Finalmente, se ficar com muita vontade de comer o que acabou de ver em promoção num cartaz, o melhor é optar por comprar os ingredientes e preparar uma versão caseira. Será sempre mais saudável do que as que se vendem nos restaurantes de fast food.
Comer sempre antes de sair de casa (incluindo o tomar o pequeno-almoço) e levar uma marmita para o trabalho também podem ajudar a enfrentar o marketing agressivo dos outdoors. “Porque estando saciados não vamos pensar em comida e as promoções não nos vão seduzir tanto”, conclui a nutricoach.
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