Se começou a ouvir mal, sente o ouvido tapado e desconfia que pode ser excesso de cera, a resposta não está na farmácia, ainda que seja o local de eleição para quem procura uma solução rápida e eficaz para o problema.
“Em 90 por cento dos casos, os portugueses procuram ajuda junto dos farmacêuticos”, refere Carlos Alexandre, otorrinolaringologista do Hospital Garcia de Orta. “Pensam que o problema é cera e aplicam umas gotas ou um spray, já que atualmente existem vários produtos para estes casos. No entanto, de modo geral, nunca funcionam”, alerta.
A substância natural presente no interior do ouvido, também chamada cerúmen, é produzida pelas glândulas do canal auditivo com o objetivo de agir como uma barreira protetora, impedindo a entrada de agentes externos e evitando que a zona fique seca ou irritada.
Normalmente, acaba por secar e cai do ouvido sem necessidade de intervenção, por si própria. No entanto, algumas pessoas tendem a produzir mais do que outras, o que pode levar à sua acumulação.
O que fazer
Em vez de procurar ajuda na farmácia, o melhor é seguir diretamente para o consultório de um otorrinolaringologista, o profissional de saúde mais indicado para avaliar a situação e proceder à possível remoção. “Mesmo que os farmacêuticos vendam o produto adequado, não sabem qual a quantidade a aplicar, já que não conseguem observar o ouvido”, explica Carlos Alexandre.
“Se existir uma acumulação relativamente grande, o que acontece com frequência, com 1 ou 1,5 centímetros de comprimento por 1 de diâmetro de cera compacta, a pequena quantidade que aconselham a colocar não é suficiente para derreter ou descolar a cera do canal”, explica. “Só vai atuar no princípio da acumulação e o ouvido fica mais tapado, pois faz uma espécie uma camada pastosa. E, se ouvia mal, vai ficar a ouvir pior.”
Por norma, é nestes casos que as pessoas procuram ajuda médica “e, muitas vezes, não se trata de cera. Nesses casos, é feita uma observação e exames complementares para confirmar qual o problema para não ouvir”.
Há soluções caseiras?
O uso frequente de cotonetes, que tendem a empurrar a cera mais para dentro do ouvido, dificultando a sua eliminação natural, é desaconselhado. Além disso, o uso contínuo de auscultadores ou de aparelhos auditivos também pode impedir que saia.
Apesar de garantir que as lavagens já caíram em desuso, o especialista lembra que este tipo de procedimentos não devem ser realizados em casa já que os riscos são muito superiores aos eventuais benefícios.
“Muitas pessoas já sabem que não se devem lavar os ouvidos, pois, se não existir cerúmen, a pressão da água injetada para o canal pode furar o tímpano, o que faz com que a pessoa fique mais surda do que já estava”. Por outro lado, se existir, “força necessária para fazer com que a água entre e a remova poderá levar à mesma situação e dificultar a sua saída na totalidade.