Saúde

Cirurgiões acusados de “mortes e mutilações” são alvo de processos disciplinares

O caso do Hospital Amadora-Sintra, instaurado após algumas denúncias, já foi investigado.
Os casos são relativos a 2022.

Dois cirurgiões da equipa do Hospital Amadora-Sintra denunciaram à Ordem dos Médicos que 22 doentes operados nesta unidade “morreram ou ficaram mutilados” por “más práticas da equipa cirúrgica” durante o ano passado. A notícia partilhada no dia 13 de janeiro dava conta da acusação feita à Ordem dos Médicos.

O inquérito de averiguações relativo ao funcionamento do Serviço de Cirurgia Geral, instaurado imediatamente após os relatos, foi agora concluído. O Hospital Fernando Fonseca (HFF) determinou então a aplicação de procedimentos disciplinares aos cirurgiões que participaram no ato cirúrgico sinalizado como má opção cirúrgica.

As implicações do inquérito realizado pela instituição admitiram na íntegra — segundo um comunicado enviado à agência Lusa e citado pela SIC Notícias — as conclusões da perícia médica solicitada à Ordem dos Médicos (OM).

Essa perícia concluiu que não foram encontrados indícios de má prática generalizada, ou violação das ‘legis artis’ [conjunto de regras, procedimentos e conhecimentos que um médico deve saber para poder exercer a sua profissão] nos casos denunciados”, salienta.

Em outubro foram apontados 17 casos à direção clínica do hospital. Mais tarde, em novembro, foram reportados outros cinco. Um dos cirurgiões que participou na denúncia afirmou que “existem situações de prejuízo de vida e qualidade de vida graves, com mortalidade e mutilações desnecessárias, evitáveis, que resultam de uma prestação de cuidados ao doente cirúrgico que não coincide com a legis artis”.

Noutra menção, um cirurgião apontou que há muitos outros casos, “embora de gravidade significativamente menor, de doentes ‘perdidos’ no serviço de cirurgia geral, avaliados por jovens médicos voluntariosos, mas inexperientes, que, embora estejam a dar o seu melhor, pouco ou nada são corrigidos ou orientados”.

Um dos exemplos referidos é de um homem de 60 anos que foi operado ao baço sem ter indicação para a cirurgia programada e que morreu “ensanguinado, com perto de 15 transfusões”, logo a seguir à operação.

Outro paciente da mesma faixa etária foi submetido a uma operação ao pâncreas por causa de um tumor que, afinal, não existia. Esta situação motivou um “internamento prolongado, com complicações e nova cirurgia”. Há ainda um caso de um “doente que fez radioterapia e não tinha tumor”.

Entre todas as situações avaliadas, identificou-se apenas um cenário em que se pode considerar que terá sido tomada uma “má opção cirúrgica”. Na mesma nota, o hospital lamenta publicamente a decisão. Acrescenta ainda que irá procurar esclarecer tudo, em colaboração com as autoridades competentes.

“O hospital lamenta sinceramente esta situação e, como já foi dito anteriormente, as averiguações foram levadas até às últimas consequências e daí a instauração de processos disciplinares” aos cirurgiões que participaram no ato cirúrgico sinalizado no relatório pericial da responsabilidade da OM.

Numa mensagem de vídeo enviada à Lusa e referida pelo mesmo jornal, a diretora clínica do HFF, Ana Valverde, afirma que o perito médico que colaborou com o hospital no inquérito concluiu que este caso poderá configurar uma “má prática”. Ressalva ainda que estes processos permitirão aos cirurgiões envolvidos elaborar a sua defesa.

“Na saúde lidamos diariamente com situações de doença complicada e em fases avançadas, mas temos a absoluta confiança nos profissionais do nosso hospital, em que todos os dias fazem o seu melhor de acordo com as boas práticas médicas”, frisa a responsável.

Segundo Ana Valverde, as conclusões do inquérito do hospital foram já enviadas para todas as entidades competentes, nomeadamente para a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), Entidade Reguladora da Saúde (ERS), Ministério Público (MP), Ministério da Saúde e Ordem dos Médicos.

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