Saúde

Comer: a desculpa que todos precisávamos para evitar o tão temido (e odiado) jet lag

Acabar com o cansaço, dores de cabeça, ou mau-humor assim que aterrámos num novo destino é mais fácil do que pensámos.
Saiba o que fazer.

“Chegámos ao destino, mas parece que o organismo ficou preso ao país de partida.” Antes dos aviões a jato, atravessar o Oceano Atlântico, de Londres a Nova Iorque de barco, por exemplo, demorava semanas. Após a travessia marítima veio a primeira tentativa de voo transatlântico, com um dirigível, em 1928. A era destes gigantescos meios de transporte chegava ao fim de maneira trágica, a 6 de maio de 1937. Uma aeronave alemã pegou fogo quando se preparava para aterrar e ficou completamente destruída em menos de 30 segundos — morreram 37 pessoas.

Em 1952 tudo mudou, com o aparecimento dos Comets, os primeiros aviões a jato (ou jet, em inglês), que faziam voos comerciais. Fazer milhares de quilómetros passou a demorar apenas um par de horas e, como consequência, o organismo não conseguia habituar-se tão facilmente ao novo horário. Se antes, os viajantes percorriam os diferentes meridianos do planeta (que definem os fusos horários) e o corpo tinha tempo para se habituar progressivamente à mudança, agora não o conseguiam fazer tão rapidamente. O impacto destas novas viagens de avião no organismo, passou então a ser descrito como jet lag (de jet = jato e lag = diferença de horário)

O resto da história já sabemos: sempre que viajamos para o outro lado do mundo, os primeiros dias são perdidos com dores de cabeça, cansaço, irritabilidade, mau-humor. O jet lag é um dos piores pesadelos de quem viaja — mas pode ter os dias contados.

Um dos fatores que determina a intensidade dos sintomas é o sentido em que viaja. Quando voamos a “favor do vento”, além da viagem ser mais rápida, sentimos menos efeitos. Quando seguimos “contra o vento”,  voo é mais demorado e a probabilidade de acabarmos com jet lag é mais elevada. Isto porque os ventos dominantes, no hemisfério norte, rodam em sentido horário; no sul, em sentido anti-horário. Assim, acima dos trópicos, a viagem oeste-leste é mais rápida e isso faz com que o organismo consiga regular-se mais facilmente.

A expressão jet lag é usado para descrever as alterações físicas e cognitivas que afetam algumas pessoas quando há uma “desordem do ritmo circadiano”. “Todos temos um ritmo biológico interno que regula o sono, a temperatura corporal e todos os processos biológicos acontecem durante 24 horas e são adaptados aos nossos ritmos: de sono, de deitar, entre outros”, explica à NiT Ana Isabel Pedroso, especialista em Medicina Interna do Grupo Lusíadas.

Por que é que isto acontece?

É simples. Antes de partir numa viagem, o seu corpo está sincronizado com a hora do local onde este. Quando se entra num novo fuso horário, os ritmos do corpo deixam de estar alinhados com p relógio. E é nessa altura que surgem os sintomas de jet lag.

“Ficamos com sono quando queremos estar acordados, podem aparecer as insónias e até enxaquecas, se já tiverem predisposição para isso. Fica-se com fome a meio da noite e pode sentir-se inchado ou com náuseas se comer durante o dia”, refere a especialista em medicina interna. Mas isto não acontece com toda a gente. “É mais natural em quem já tenha algum distúrbio do sono, ou ansiedade, por exemplo, porque ficam a antecipar o problema, mesmo antes de existir.”

Porém, não é só o ritmo circadiano o culpado deste conjunto de fatores — a luz solar também tem influência. “A melatonina é segregada quando existe o escuro e nos diz que é para dormir. Quando temos luz, a hipófise, a glândula que regula todo o organismo, diz-nos que é hora de acordar. Quando vamos para um sítio com mais luz solar pior é, parece que alongamos o dia”, explica Ana Isabel Pedroso.

A desidratação e o stress também ajudam a desencadear os sinais. “Quando viajamos de avião não podemos levar tanta água connosco a acabamos por desidratar. A situação agrava-se com o ar condicionado e a pressão atmosférica a que estamos sujeitos. Ficamos mais cansados, com uma maior dificuldade em adormecer, dificuldade em estar concentrado, alterações no apetite.”

No entanto, tentar ajustar os horários de sono e forçar-se a dormir pode não ser a solução. “Essas atitudes podem desencadear distúrbios de sono que provocam insónia ou ter sono durante o dia.”

Como evitar o jet lag?

Tudo começa mesmo antes da viagem. “É importante ter um sonho descansado nos dias anteriores à viagem. Assim, se tiver mais dificuldades a dormir nos primeiros dias no novo destino, o impacto não será tão grande.” Se nos primeiros dias de sono não aguentar a sonolência, o segredo são as power naps. “Podemos tentar fazer sestas ao longo do dia, mas sem ser muito longas.”

Outros fatores importantes, são manter um bom nível de hidratação e fazer uma alimentação saudável. “A conversa é sempre a mesma, mas tem efeito”, sublinha Ana Isabel Pedroso. “Evitar consumo de álcool e cafeína tanto no voo como na chegada ao destino para que o corpo possa autorregular e adaptar-se ao novo horário”, acrescenta.

Dar prioridade “ao estômago” é mesmo a forma mais segura do corpo se habituar a outro ciclo, conclui um estudo realizado por investigadores da Northwestern University e do Santa Fe Institute, nos EUA, publicado a 5 de setembro, na revista “Chaos”. Os cientistas recorreram a um algoritmo para “recriar a complexa interação entre os sistemas do nosso corpo” para determinar o que agrava e o que ajuda a evitar o jet lag.

Fazer uma refeição maior no início da manhã do novo fuso horário pode ajudar a superar o jet lag“, explicou Yitong Huang, um dos autores do estudo.

“A mudança constante dos horários das refeições ou a realização de uma refeição à noite é desaconselhada, uma vez que pode levar a um desalinhamento entre os relógios internos.”

Se chegar ao destino de noite, prefira as bananas em vez de chocolate, já que os frutos rica em melatonina ajuda a regular as hormonas do sono; enquanto os doces, como as framboesas, despertam e dão energia.

Os alongamentos também o podem ajudar a dormir melhor. Estes exercícios 10 a 15 minutos para relaxar a tensão muscular; fazer exercícios de respiração, concentrando-se nas inspirações e expirações; manter-se hidratado, aplicando sempre uma camada de creme em todo o corpo antes da viagem; e fazer meditação no assento, enquanto espera por adormecer.

Em casos mais extremos, em que não consegue dormir devido ao jet lag, Ana Isabel Pedroso aconselha o uso de medicação à base de melatonina, “devidamente receitada”.

No entanto, os famosos parecem ter outro truque. John McClane, Naomi Harris, Lea Michelle e Gwyneth Paltrow juram que andar descalço é a forma mais simples de recuperar de voos e viagens longas — como já lhe contámos neste artigo.

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