Fundada em 1902, a Fundação Fontilles foi criada em Espanha para combater a epidemia de lepra. Sete anos depois, em Alicante, era inaugurado um sanatório para acolher estes doentes estigmatizados. As populações vizinhas ergueram-se em protesto.
Ninguém queria viver ao lado destes doentes, muitos com deformidades físicas provocadas por uma doença que a maioria julgava ser altamente infeciosa — é contagiosa, mas não tanto como se pensava. Assim, restava uma única solução para manter intacto o sanatório San Francisco de Borja: isolá-lo da melhor forma possível.
Duas décadas depois, terminava a obra que erguia uma muralha de três metros de altura e três quilómetros de comprimento. Seria a barreira que acalmaria os ânimos das populações vizinhas e que, um século depois, voltaria a ser tema de conversa.
No meio de outra crise de saúde, o sanatório que hoje ainda está em funcionamento manteve-se incrivelmente isolado e livre de Covid-19, mesmo com mais de cem idosos residentes, quase todos grupo de risco. Num tom bem-humorado, a própria Fundação Fontilles atribuiu o sucesso vivido durante o último ano à enorme muralha centenária — mas o segredo foi outro.
Desde o surgimento da pandemia, no final de 2019, que o sanatório não registou qualquer infeção em funcionários ou residentes. Hoje, todos estão já vacinados e é provável que isso signifique que o sanatório é um singular caso de sucesso, mesmo perante outros riscos.

Apesar de se situar na zona montanhosa da província espanhola, está a pouca distância da costa mediterrânica, zona de turismo de massas. Muitos dos trabalhadores da Fontilles deslocam-se também à Índia, país onde se detetam 70 por cento dos casos mundiais de lepra todos os anos. E nem assim a doença parece conseguir penetrar na fortaleza espanhola.
A muralha, erguida na sua totalidade em 1929, tinha como objetivo isolar uma pequena cidade dentro dos seus 740 mil metros quadrados. Pretendia-se que fosse autossuficiente e que contivesse, em si, tudo o que uma pequena comunidade necessitava para sobreviver. Em San Francisco de Borja existia uma igreja, um teatro, oficinas, uma clínica médica e até uma pequena prisão.
Hoje, apesar da diminuição drástica do número de casos de lepra, a Fundação Fontilles — que se tornou numa referência mundial da doença e que a combate em diversos pontos do globo — ainda alberga alguns infetados, muito longe dos 450 que chegou a acolher na década de 50.
Hoje, vivem no sanatório pouco mais de uma dúzia de leprosos, alguns já curados e sem risco de contágio, mas que por ali ficaram. A doença, erradicada em Espanha, regista pouco mais de uma dezena de casos anuais, todos eles facilmente curáveis.