A mortalidade por Covid-19 nos idosos está na origem de um rejuvenescimento da estrutura etária em Portugal. A conclusão é de um relatório do Conselho Nacional de Saúde (CNS), apresentado esta segunda-feira, 11 de julho, que analisa o impacto da pandemia nos principais indicadores sociodemográficos, na saúde mental da população e na prestação de cuidados de saúde.
“O facto de os indivíduos mais velhos terem sido os mais atingidos pela mortalidade por Covid-19 tem um impacto nas tendências de envelhecimento da população. No curto prazo, regista-se um certo rejuvenescimento da estrutura etária — não por aumento da natalidade, mas por decréscimo da sua população mais velha — e uma diminuição do índice de longevidade”, começa por explicar o documento, aqui citado pelo “Diário de Notícias”.
O estudo dá ainda conta que, só em 2020, no primeiro ano da pandemia, houve um excedente de cerca de 12 mil óbitos, comparando com o número médio de mortes observadas entre 2016 e 2019. “Este excesso de mortalidade iniciou-se logo no mês de março de 2020, continuando ao longo dos restantes nove meses desse ano, e em janeiro, fevereiro e de julho a dezembro de 2021, ainda que com menor expressão.”
O Norte, com 154 óbitos por 100 mil habitantes, o Alentejo (144 mortes) e a Área Metropolitana de Lisboa (106 mortes) foram as regiões com maior excesso de mortalidade em 2020, revela também a pesquisa.
Acrescenta: “Se o excesso de mortalidade observado em março e abril e de outubro em diante coincidiram com os picos de incidência da infeção (primeira, segunda e início da terceira vaga), o excesso de mortalidade sentido no final de maio e entre julho e agosto de 2020 não coincidiu com incidências elevadas no País.”
O relatório indica, igualmente, que, enquanto “cerca de 80 por cento dos casos de infeção registados ocorreram em indivíduos abaixo dos 65 anos”, 93 por cento dos óbitos “atingiram as franjas mais velhas de população (acima dos 65, com especial destaque para os mais de 85)”.
Até ao final de 2021, a Covid-19 vitimou cerca de 19 mil pessoas em Portugal.
Os impactos na natalidade, economia e educação
No mesmo documento, o CNS deixou um alerta: tanto a natalidade quanto a fecundidade podem ter sido, ou vir a ser, influenciadas pela pandemia e pela alteração da vida quotidiana dos portugueses. Os dados apontam que, em 2020, nasceram 84.426 crianças em Portugal, menos 2.294 do que na média dos anos 2016-2019. No final de 2021, os dados provisórios indicavam que tinham sido registados apenas 79.548 nascimentos, menos 4.878 do que no ano anterior.
“A queda entre 2019 e 2021 vem reforçar essa tendência, para a qual podem ter contribuído o medo da pandemia, os constrangimentos económicos e sociais colocados às famílias, a dificuldade de as franjas mais jovens de população acederem a condições de vida autónomas que lhes permitam sequer perspetivar um projeto de procriação”, comenta o Conselho Nacional de Saúde.
Já a esperança média de vida desceu dos 81,8 em 2019 para 81,1 em 2020, “facto a que não serão alheios os impactos, diretos e indiretos, da pandemia”, refere. Salienta ainda que, de 2020 para 2021, houve uma redução dos níveis de stresse, ansiedade e depressão dos portugueses.
Esta diminuição, clarifica o relatório, reflete uma adaptação generalizada às adversidades da pandemia. Não é tão óbvia, contudo, em alguns grupos populacionais: mulheres, desempregados e pessoas com doença crónica.
Entre as conclusões do estudo destaca-se o facto de os trabalhadores pouco qualificados e com baixas remunerações, com contratos precários ou envolvidos na economia informal, terem sido “os mais atingidos pela pandemia” e os que “suportam intensamente as suas consequências negativas sobre o seu nível de vida”.
Sobre a educação neste período, que teve dois períodos de suspensão da atividade presencial nas escolas durante 2020 e no primeiro semestre de 2021, o CNS constatou que, em relação a outros países, Portugal foi dos que “adotou uma política mais severa nesta matéria, sem que se fundamentasse verdadeiramente a evidência científica que a suportava”.
Sem contar com as férias, fins de semana e feriados, em 2020 e 2021, as escolas até ao nono ano fecharam cerca de 100 dias, “dados que contrastam com os de outros países europeus, nomeadamente Espanha, Bélgica ou França (cerca de 50)”, constata a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, referida no relatório.