A hora de dormir é, por norma, um dos momentos de maior ansiedade para os pais de recém-nascidos. Muitas vezes o receio dos progenitores está relacionado com a síndrome de morte súbita, da qual pouco de sabe. A quantidade de informação sobre o assunto pode deixar qualquer um confuso, quando o único objetivo é proporcionar noites tranquilas e, sobretudo, seguras para o bebé.
O síndrome de morte súbita (SMSL) define-se como a morte abrupta e imprevisível de um bebé, normalmente recém-nascido, para a qual não se encontra qualquer explicação após uma investigação completa. Também é conhecido como a morte no berço, porque acontece enquanto o bebé dorme a sesta ou durante a noite e é uma das principais causas de morte até aos 12 meses. Apesar de não se saber exatamente o que está na origem desta síndrome, sabe-se que resulta de uma combinação de fatores biológicos e ambientais.
Nádia Sepúlveda, médica de família, explica à NiT que “há bebés que são mais suscetíveis, mas não sabemos quais são, por isso, o que se pode fazer é prevenir”. Para diminuir ao máximo a probabilidade de um desfecho trágico, foram definidas algumas regras que os pais devem seguir.
“Um berço vazio é um berço seguro”
Esta é a máxima de Nádia Sepúlveda que é também mãe do pequeno Diniz. A médica de família partilhou com a NiT a melhor forma de proporcionar um sono seguro e tranquilo aos mais novos, de forma a diminuir a probabilidade de morte súbita ou asfixia.
O bebé deve dormir no quarto dos pais pelo menos até aos seis meses e, preferencialmente, até aos 12. Os pais devem sempre colocar o filho a dormir no berço, num colchão plano e firme, coberto por um lençol confortável e ajustado. Todos os extras, incluindo os famosos ninhos, brinquedos, cobertores, almofadas, roupa de cama macia, posicionadores ou amortecedores devem ser evitados. Grande parte destes elementos podem causar sobreaquecimento e, mais grave ainda, os bebé podem ficar presos neles, o que pode levar à asfixia.
Segundo a médica, “há ninhos e almofadas cujos fabricantes alegam que protegem contra a morta súbita. Porém, o mais seguro é mesmo o contrário”. Já os protetores laterais do berço, também muito utilizados, representam um grande risco de asfixia, porque o bebé podemencostar a cabeça à barreira de tecido e não conseguir voltar a adotar uma posição segura.
Ao deitar o recém-nascido deve colocá-lo sempre de barriga para cima. “De lado e bruços são posições onde não se consegue defender [porque ainda não consegue virar sozinho] e onde está sempre a respirar o ar que expira”, explica a médica. O bebé deve ser posicionado, quando possível, com os pés a bater no fundo do berço e “com a roupa até ao peito, de baixo das axilas, de forma a que fique preso”. Outra alternativa, que Nádia considera ser a mais segura, são os sacos de dormir. “Vestem-se ao bebé na hora de o deitar no berço, como uma peça de roupa. Assim, não precisam de mais nada. Só um lençol fino por baixo e vestido com o saco. Existem modelos de verão e inverno, com ou sem mangas.”
Outro aspeto a ter em conta é a inclinação. “Antigamente recomendávamos uma inclinação de 30 graus, mas hoje em dia sabemos favorece o refluxo, o que se torna perigoso porque podem asfixiar“. Atualmente, recomenda-se que durmam numa superfície inclinada entre 5 a 10 graus, no máximo.
Cama partilhada: sim ou não?
O co-sleeping ou a cama partilhada são termos utilizados para descrever a prática de alguns pais que escolhem dormir na cama com os filhos. Nádia Sepúlveda explicou à NiT que agora “há uma maior tendência de dormir perto dos bebés. Daí o surgimento dos famosos berços que podem ser colocados ao lado da cama dos pais. O que os estudos comprovam é que os recém-nascidos ficam mais calmos por causa da proximidade à mãe, do cheiro, etc.”.
A médica de família reconhece que partilhar a cama de forma segura tem realmente vantagens, sobretudo para a qualidade de sono das mães e dos bebés. Porém, sublinha que é uma opção ainda muito controversa. Há países que aprovam e oferecem ferramentas para o fazer em segurança e outros que preferem proibir, para evitar desfechos trágicos.
No passado dia 25 de junho, a Academia Americana de Pediatria (AAP) atualizou as diretrizes de sono seguro para bebés e sublinhou que dormir na mesma cama com o bebé não é seguro para o sono infantil em nenhuma circunstância.
“Sabemos que muitos pais escolhem partilhar a cama com um recém-nascido, por exemplo, talvez para facilitar a amamentação, devido a uma preferência cultural, ou à crença de que é seguro”, afirmou Rebecca Carlin, coautora das diretrizes e do relatório técnico da task-force da AAP sobre a Síndrome da Morte Súbita Infantil.
“As provas são claras: dormir acompanhado aumenta significativamente o risco de ferimento ou morte de um bebé”, frisou Carlin, professora assistente de pediatria no Centro Médico Irving da Universidade de Columbia, nos EUA. “Face a estas evidências, a AAP não pode apoiar nem recomendar a partilha da cama em nenhuma circunstância.”