Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomende o consumo de, pelo menos, cinco porções de fruta e legumes frescos por dia, apenas 13,9 por cento dos cidadãos da União Europeia atinge essa meta, segundo o Eurostat. Se olharmos para Portugal, 79,3 por cento da população consome, pelo menos, uma porção de fruta e legumes por dia. E 61,3 por cento come entre uma e quatro porções. Ainda assim, apenas 18 por cento consomem cinco doses destes alimentos diariamente. Agora, porém, há novos motivos para colocar pêras, maças e bananas nas próximas listas de compras.
Uma investigação publicada a 24 de maio revela que a ingestão de fruta é benéfica para qualquer pessoa diagnosticada com colesterol elevado. No estudo “Dietas vegetarianas ou veganas e lípidos no sangue: uma meta-análise de estudos randomizados”, os investigadores analisaram os níveis de LDL (ou lipoproteínas de baixa densidade), frequentemente designadas por colesterol mau (porque a sua acumulação pode aumentar o risco de um acidente vascular cerebral e de doença cardíaca).
Surpreendentemente (ou não), entre os participantes que seguiram uma dieta à base de plantas — em comparação com as que comiam carne e vegetais — os níveis de LDL baixaram 10 por cento. “Isto corresponde a um terço do efeito da toma de medicamentos para baixar o colesterol, como as estatinas, e resultaria numa redução de 7 por cento do risco de doenças cardiovasculares em alguém que mantivesse uma alimentação à base de plantas durante cinco anos”, afirma a autora principal do estudi, Ruth Frikke-Schmidt, professora de bioquímica clínica e médica-chefe do Rigshospitalet em Copenhaga, na Dinamarca.
“É importante salientar que encontrámos resultados semelhantes em todos os continentes, idades, diferentes intervalos de índice de massa corporal e entre pessoas com diferentes estados de saúde”, realça Frikke-Schmidt. “Se as pessoas começarem a comer dietas vegetarianas ou veganas numa idade precoce, o potencial para reduzir o risco de doenças cardiovasculares causadas por artérias bloqueadas é substancial.”
A análise baseou-se em resultados de 30 ensaios clínicos aleatórios, entre mais de 2300 deles publicados entre 1982 e 2022. Esses estudos investigaram o impacto de dietas vegetarianas ou veganas em todos os tipos de colesterol e na apolipoproteína B (apoB), uma proteína no sangue considerada uma boa medida de quanta gordura má e colesterol estão no corpo. Os resultados do estudo mais recente mostraram que ser vegan ou vegetariano estava associado a uma redução de 14 por cento nos níveis de apolipoproteína B.
“Esta grande análise confirma o que já sabíamos: incluir mais alimentos à base de plantas na sua dieta é bom para o seu coração”, garante Tracy Parker, dietista sénior da British Heart Foundation em Birmingham.
No entanto, o estudo também sublinha que o impacto destas dietas nos níveis de LDL pode ser limitado para as pessoas que “herdam a tendência dos seus fígados para produzirem demasiado colesterol, o que significa que o colesterol elevado é mais fortemente influenciado pelos nossos genes (ADN) do que pela nossa dieta”, afirma Robert Storey, professor de cardiologia na Universidade de Sheffield, no Reino Unido.
As dietas vegetariana e vegan têm imensas as vantagens, mas também suscitam imensas questões. Deixando de comer carne e peixe, como deve ser a nossa alimentação? Muitas vezes a resposta aponta para as leguminosas com maior teor de proteína, como o feijão, o grão-de-bico e as lentilhas. Outros optam por alternativas vegetais que se assemelham à carne, tais como o seitan.
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