A possibilidade de existir qualquer coisa mais além da morte ocupa a mente humana desde sempre, mas nunca foi além da suposição, da fé ou da imaginação. Porém, no século XXI, há quem prefira confiar na ciência do futuro, através da criopreservação do seu cadáver, na expetativa de que daqui a alguns anos seja possível reanimá-lo com sucesso.
Fundada em 2020, a primeira startup alemã ligada a este serviço — Tomorrow Bio — dispõe de um serviço de congelamento do corpo para poder regressar à vida no futuro. O processo passa por mergulhar alguém que faleceu recentemente em nitrogénio líquido numa temperatura de -198 graus. Segundo os especialistas, esta técnica permite preservar o corpo exatamente da mesma forma que ele estava quando ocorreu o óbito.
“Tenho 40 anos e, pessoalmente, acredito que durante a minha vida poderemos testemunhar a criopreservação segura e a reanimação de organismos complexos”, contou o brasileiro cofundador da empresa, Fernando Azevedo Pinheiro, ao jornal britânico “Daily Mail”.
A tabela de preços associada a este processo não é, como seria de esperar, barata. Para congelar o cadáver nestas condições, terá de pagar cerca de 200 mil euros. Existe ainda a opção de preservar apenas o cérebro. Nesse caso, o preço baixa para 74 mil euros.
Até ao momento, a startup já realizou o procedimento em seis pessoas e cinco animais. Porém, existem 650 clientes que já se inscreveram e pagam 50 euros mensalmente até chegar à sua vez.
“Somos a primeira, e atualmente, a única empresa de criogenia a oferecer crioproteção. Isso significa que iniciamos o processo de criopreservação imediatamente após o paciente ser declarado legalmente morto, usando as nossas ambulâncias adaptadas, que funcionam como salas de cirurgia móveis”, acrescentou Fernando Azevedo Pinheiro.
Para que tudo funcione de forma eficaz, a Tomorrow Bio tem várias equipas em Berlim, Amesterdão e Zurique. Quando o corpo é resgatado, mergulham-no num banho de gelo e são iniciadas massagens cardíacas para atrasar a decomposição. O objetivo é reduzir a temperatura corporal até -80 graus, para manter a integridade das células e dos tecidos.
Depois, a pessoa é levada para uma unidade de armazenamento de longo prazo na Suíça, para uma propriedade parceira da empresa, a European Biostasis Foundation. Neste local, é transferido para um contentor de aço com 3,2 metros de altura, isolado a vácuo e mantido até chegar o momento de voltar à vida.
Relativamente aos prazos, a empresa diz que são indefinidos e que os corpos podem ficar ali durante centenas de anos, desde que seja adicionado nitrogénio liquido regularmente.
“Muitos clientes estão fascinados pelas possibilidades de tecnologias e experiências futuras, como viagens espaciais. Para alguns, a motivação primária é o medo de morrer. A criopreservação oferece-lhes esperança e uma sensação de segurança, fornecendo um caminho potencial para estender as suas vidas. Outros, como eu, simplesmente amam viver e sentem que 80 anos não é tempo suficiente para explorar tudo o que a vida tem a oferecer”, contou o fundador da empresa e que também tenciona preservar o próprio corpo.
Depois do sucesso na Europa, o objetivo da Tomorrow Bio é expandir os serviços da empresa para os Estados Unidos, em 2025.