Alguma vez se perguntou o que o leva a tomar certas decisões — ainda que banais — no dia a dia? Afinal, como escolhe a caixa aonde vai pagar no supermercado? Esta foi a questão de partida de um grupo de investigadores da Fundação Champalimaud que estudam os processos envolvidos na tomada de decisões.
Por muito simples que pareça, a escolha da caixa de pagamento pode envolver um conjunto alargado de fatores — a contagem das pessoas em cada fila, o número de artigos no carrinho ou mesmo a velocidade de cada operador. E, claro, quanto mais complexo e extenso for o grupo de indicadores avaliados, a probabilidade de tomar a decisão menos acertada é maior.
Segundo um estudo publicado esta quinta-feira, 13 de abril, na revista “Nature Neuroscience”, o cérebro consegue avaliar várias estratégias complexas em simultâneo para decidir, em vez de se comprometer apenas com uma.
A pesquisa foi conduzida por três investigadores da Fundação Champalimaud, em Lisboa, que desenharam uma espécie de mundo virtual para ratinhos que tinham como tarefa procurar água. Neste universo paralelo, qualquer zona podia oferecer água, mas de forma inconsistente, ou seja, “repentinamente podia secar e deixar de dispensar água”, explica o estudo, aqui citado pela SIC Notícias. Desta forma, os ratinhos tinham de decidir quando sair de um determinado local e ir para outro.
Tal como no cenário das filas de supermercado, também esta decisão pode envolver várias estratégias. Para perceberem a dinâmica da escolha, os investigadores monitorizaram a atividade cerebral dos animais, enquanto estes desempenhavam a tarefa. E concluíram que, embora a função fosse a mesma, as tomadas de decisões passavam por vários processos distintos.
“Apesar de cada ratinho se concentrar na sua própria estratégia, os seus cérebros não. Este órgão pode executar várias estratégias de contagem diferentes ao mesmo tempo, o que nos remete para o conceito de superposição”, refere Zack Mainen, um dos investigadores.
Como explica a investigadora principal, Fanny Cazettes, apesar de a atividade no córtex pré-motor refletir a estratégia que o animal estava realmente a usar, refletia também “variáveis de decisão alternativas úteis para a mesma tarefa e até mesmo variáveis de decisão úteis para outras tarefas”. Apesar de ser necessário aprofundar a investigação nesta área, este estudo é considerado uma base importante para investigação futura.
“As nossas descobertas sugerem a necessidade de novas formas de pensar sobre os principais processos envolvidos na tomada de decisões e na seleção de ações. Um dos nossos próximos passos será investigar como o cérebro seleciona entre diferentes variáveis de decisão e como essas decisões são traduzidas numa ação”, adianta Fanny Cazettes.