Há cada vez mais miúdos com infeções respiratórias e os serviços pediátricos dos hospitais portugueses estão a rebentar pelas costuras. Alguns dos maiores centros hospitalares têm as enfermarias praticamente lotadas há várias semanas, tais como tem acontecido com o Hospital Amadora-Sintra.
Nos últimos dias, em média, têm sido atendidos nas urgências 738 pacientes diariamente, sendo que grande parte são crianças, segundo um representante desta unidade de saúde disse à Lusa, aqui citado pelo jornal “Público”. A mesma fonte garantiu que esta subida “é um fenómeno global, que se observa um pouco por todo País e em alguns países da Europa”, estando “relacionada com o aumento da circulação dos vírus respiratórios”.
A maior parte as idas às urgências pediátricas são motivadas pelos sintomas do vírus sincicial respiratório, o VSR. Este agente viral pode provocar doença respiratória em pessoas de todas as idades, e, geralmente, todos os miúdos até aos 2 anos são infetados por este vírus, que é responsável pela maior parte das bronquiolites agudas. Este é também responsável pela maior parte dos internamentos de miúdos nos cuidados intensivos das últimas semanas.
Segundo Manuel Magalhães, pediatra do Hospital Lusíadas no Porto, este vírus é muito comum nos invernos portugueses, mas “este ano existe um aumento do número de casos, face ao período homólogo do ano anterior. Isto pode justificar-se com o facto dos mais novos estarem com o sistema imunitário enfraquecido devido ao uso prolongado de máscara e aos períodos de confinamento vividos nos últimos anos”.
Podemos estar perante uma epidemia?
“Uma epidemia caracteriza-se pelo aumento inesperado de casos de uma doença na comunidade”, explica Manuel Magalhães. E ,”segundo essa designação, poderíamos considerar que este vírus já atingiu esse patamar”. Porém, apesar do aumento considerável do número de infeções causadas pelo VSR, Gustavo Tato Borges, presidente em exercício da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), considera que, neste momento, ainda não podemos considerar que se trata de uma epidemia.
“Os pediatras têm relatado o aparecimento precoce de infetados com o vírus respiratório. Contudo, em Portugal, ainda não existe uma gravidade tal para consideramos a doença epidémica”, clarifica o médico de saúde pública. Os profissionais e as autoridades de saúde estão atentos ao agravamento dos números, até porque neste momento, este agente viral é apenas um dos três que está a pressionar os hospitais nacionais. O inverno é sempre complicado para os serviços de urgência, mas este ano está instalado o caos porque está a acontecer uma espécie de tempestade perfeita.
“No fundo, o que se passa é que estamos a assistir a uma procura acentuada por atendimento médico profissional devido aos sintomas da chamada tripledemia . Ou seja, a circulação de três vírus respiratórios que são muito comuns nesta altura do ano”, explicou à NiT Ana Isabel Pedroso, especialista em Medicina Interna e em Medicina Intensiva. Além do vírus sincicial respiratório (VSR) que ataca sobretudo os miúdos, também existem muitos casos de gripe. E a Covid-19 continua a circular entre a população portuguesa.
Como proteger os miúdos
O VSR é a causa mais comum das infeções nas vias respiratórias até aos 5 anos de idade e um dos motivos que leva ao aumento de internamentos durante as estações mais frias. “Este ano a chegada do vírus parece ter sido antecipada, e é o que tem estado a predominar no contexto hospitalar”, revela. Os sintomas começam normalmente com secreções nasais, o chamado pingo do nariz, a tosse, a dificuldade a respirar e/ou uma respiração tipo assobio. “A febre pode, ou não aparecer”, explica o pediatra Paulo Venâncio à NiT.
Embora atinja sobretudo crianças saudáveis e bebés de termo, “os prematuros e os recém-nascidos com outras patologias associadas são os que correm maior risco de serem gravemente afetados”, refere o especialista em pediatria.
Reconhecendo estes indícios em bebés abaixo dos três meses, os cuidadores devem ir fazendo a lavagem nasal com soro ou água do mar, aspiração de secreções e ir vigiando os sinais de alarme referentes à dificuldade respiratória e ao aparecimento de febre. “Caso o bebé aparente ter algum destes sintomas mais graves é motivo para ser visto por um médico”, destaca Paulo Venâncio.
Acima desta idade, em casos de febres superiores a 38 graus os miúdos devem ser medicadas e mantidas em casa, com os devidos cuidados. “Só devem visitar um médico quando os pais não conseguem controlar a febre com medicação, ou a mesma já dura há mais de três dias”, aconselha o médico.
Caso o esforço respiratório impeça o sono, ou a tosse seja tão agressiva que deixe os mais novos com vómitos e não seja possível alimentá-los, deve igualmente procurar ajuda especializada. Em caso de dúvida, o especialista recomenda aos pais e cuidadores que se aconselhem primeiro junto do SNS 24, o pediatra ou o médico de família. “Se considerarem necessário, os profissionais farão o encaminhamento para as urgências”, refere.