Duas da manhã na véspera do exame e ainda está agarrado aos livros. O cenário é, provavelmente, familiar à maioria das pessoas. A verdade é que este stress pode ser prejudicial a longo prazo. E a curto prazo, claro, pode resultar num falhanço total no exame.
O funcionamento do cérebro e da memória tem sido alvo de estudos ao longo das décadas e, neste caso concreto do estudo, chegou-se a uma conclusão, assente no fenómeno chamado spacing effect.
Trata-se de uma expressão que nasce de uma teoria que diz que é mais fácil aprender e reter conhecimento se ele for absorvido em várias sessões espaçadas no tempo — ao contrário das habituais sessões de estudo ininterrupto nas vésperas dos exames.
A comprová-lo está um novo estudo publicado a 29 de julho na revista norte-americana “Science Daily”. Uma equipa de neurobiólogos levou a cabo uma experiência com ratos com o objetivo de ter uma visão mais profunda sobre o tal spacing effect. O desafio passava por tentar perceber se a duração das pausas influenciava o resultado final e qual delas — mais longas ou mais curtas — traziam mais benefícios.
Para compreender este fenómeno, os animais foram colocados dentro de um labirinto e cada um tinha de encontrar e lembrar-se da posição onde se encontrava um pedaço de chocolate inicialmente escondido.
Para espanto dos investigadores, “os ratos que foram treinados com os intervalos mais longos entre as fases de aprendizagem não eram capazes de se lembrar da posição do chocolate tão rapidamente”, explicou à revista científica Annet Glas, um dos investigadores. No entanto, a neurobióloga acrescentou que “no dia seguinte, quanto mais longas as pausas, melhor era a memória dos ratos”.
Ao comparar a atividade neuronal dos animais durante as diferentes fases de aprendizagem, descobriu-se que após pequenas pausas, o padrão de ativação do cérebro oscilou mais do que em comparação com pausas mais longas. Isto significa que com intervalos mais longos entre as sessões de aprendizagem, os ratos ativam os mesmos neurónios e não neurónios diferentes, como acontece nas pausas mais pequenas.
Esta reutilização de neurónios pode permitir que as ligações sejam reforçadas em cada momento de aprendizagem e fazer com que o conhecimento seja armazenado no cérebro e na memória por um maior período de tempo.
“É por isso que acreditamos que a memória beneficia com pausas mais longas”, revelou Pieter Goltstein, outro neurobiólogo que faz parte da equipa de investigação.
Com este estudo, surgem assim “os primeiros conhecimentos sobre os processos neuronais que explicam o efeito positivo das pausas de aprendizagem.”
A conclusão principal: com pausas mais longas entre o estudo, embora se aprenda de forma mais demorada, há pelo menos garantia de a memória guardar este conhecimento por muito mais tempo.