“Peguei nela e submergi-a até ao pescoço na piscina. Aquilo tirou-lhe o foco da birra, porque ficou com frio. Desde então nunca mais fez birras na piscina.” As declarações de Joana Mascarenhas em julho de 2023, sobre a educação que dava à filha Julieta, na altura com três anos, chocaram o País. Muitos dos que assistiram aos vídeos da criadora de conteúdos denunciaram os vídeos que levaram a uma investigação do Ministério Público (MP). A influencer acabou por ser acusada de violência doméstica (MP) e vai ser julgada em outubro, revela o “Jornal de Notícias”.
Joana Mascarenhas, de 36 anos, submeteu a filha, segundo o MP, “a um tratamento indigno, inesperado e suscetível de lhe causar frio, choque térmico, desconforto, angústia e de a atemorizar”. O objetivo, segundo a investigação, foi o de “intimidar” e “compelir a filha a não repetir tais condutas”.
A criadora de conteúdos é acusada de optar por “por castigos exagerados” em vez de “procurar métodos pedagógicos adequados”. Em tribunal, o MP vai tentar provar que o que Joana Mascarenhas fez à filha enquadra-se num quadro de violência doméstica e pedir que se arbitre uma quantia para reparação dos prejuízos.
Com a hastag #maternidadecomaJu na legenda, Joana começou em julho de 2023, a partilhar uma série de vídeos para recordar o quão difícil tinha sido o último mês com a filha de três anos. “Nas últimas semanas antes de concluir o curso, [a 15 de junho] a Julieta estava com alguns terrores noturnos. Acordava a meio da noite a gritar e quem passou por isso sabe que não podemos acordá-los à bruta, porque eles não reagem. É horrível. Só temos de esperar que voltem a dormir”, explica.
“Por serem tantos episódios, acho que a Julieta ganhou uma manha, porque a certa altura já não tinha terrores noturnos, só acordava a fazer birras.” Sempre que a filha lhe pedia colo, pedia para ir para a cama dos pais e sentia que estava sozinha. Joana não cedia aos pedidos da bebé. “Pensei que estava a criar uma rainha”, disse.
Continuação do vídeo pic.twitter.com/ZotezNP4pa
— PIDE FICTION (@PIDE_DGS) July 14, 2023
As birras aconteciam em diferentes locais. Uma altura estavam na piscina e a miúda começou a chorar a pedir à mãe que a fosse buscar porque não conseguia andar. “Chorou durante 15 minutos sem parar”, contou nos vídeos. A solução de Joana Mascarenhas para pôr fim a estes episódios foi recorrer a banhos forçados. “Ela odeia água fria. Por isso, peguei nela e submergi-a até ao pescoço na piscina. Aquilo tirou-lhe o foco da birra, porque ficou com frio. Desde então nunca mais fez birras na piscina”.
Como viu que a água era forma de acabar com o choro, Joana tentou fazer o mesmo à noite. “Antes de ontem, eram para aí cinco da manhã, e a Julieta acordou a berrar porque queria que fosse para perto pé dela. A gritaria era tal que se poderia ouvir no prédio todo. Peguei nela, levei-a para a banheira e dei-lhe um banho de água fria ainda com o pijama. No final despi-lhe as roupas molhadas, ficou só de fralda, embrulhei-a numa toalha, deitei-a na cama e dormiu logo durante três horas. (…) Hoje dormiu tranquilamente e às 7h20 veio para a nossa cama e deitou-se calmamente, sem chorar. Quem ganhou?”, questionou Joana Mascarenhas.
As medidas educativas foram desaprovadas por muitos português e profissionais de saúde. Na altura, o pediatra Manuel Magalhães disse à NiT que “a ser verdade, é surreal e indescritível”. “Fazer a um miúdo aquilo que sabemos que não gosta, é um método usado na tortura. Depois, é claro que em situações semelhantes não vai voltar a fazer uma birra porque sabe qual a consequência. Trata-se de violência infantil”, afirmou.