O que é que Michelle Obama, Kim Cattrall e Belinda Carlisle têm em comum com grande parte das portuguesas? A antiga primeira-dama dos Estados Unidos e as atrizes sofrem de um mal que afeta milhares de mulheres — os afrontamentos. Os calores e os suores noturnos aparecem por altura da menopausa e vêm juntar-se ao aumento de stress e agitação, insónias, alterações de humor, menos vontade de realizar atividades físicas, provocando desconforto.
A lista de incómodos é extensa e atormenta a vida de muitas as mulheres. Mas e se fosse possível atenuar estes sintomas com apenas um comprimido, não hormonal e eficaz? Pode parecer algo utópico, mas o fármaco existe e já foi aprovado nos Estados Unidos.
Os afrontamentos ocorrem na maioria das mulheres que passam pela menopausa. Certamente que até já reparou em alguma colega ou familiar que pegou em algo que tivesse à mão para tentar aliviar o calor que lhe deixava a cara a ferver.
Pesquisas mostram que mais de 80 por cento experimentam sensações alternadas de calor, suor, rubor, ansiedade e calafrios até cinco minutos de cada vez. “Podem começar antes da fase da menopausa e podem estender-se até depois das hormonas estarem regularizadas”, sublinha Fernando Cirurgião, ginecologista e obstetra no hospital Lusíadas à NiT.
Durante um afrontamento, os vasos sanguíneos perto da superfície da pele dilatam, o fluxo sanguíneo sobe e o corpo pode ficar rapidamente encharcado de suor. Resumindo: “[Os afrontamentos] podem ser bastante perturbadores”, diz o especialista em ginecologia. Esta condição, causada pela diminuição dos níveis de estrogénio no organismo, pode aparecer de forma inconveniente ao longo do dia, ou durante o sono.
Para algumas pessoas, a terapêutica hormonal— que é frequentemente prescrita para tratar os sintomas da menopausa — resolve o problema. No entanto, nem toda a gente pode recorrer a este tratamento. “Normalmente não é recomendada a quem tenha propensão para desenvolver cancro da mama, do ovário ou do útero, porque pode aumentar ligeiramente o risco dessas doenças.
As pessoas com tensão arterial elevada não tratada, coágulos sanguíneos, acidentes vasculares cerebrais ou alguns problemas cardiovasculares também são geralmente desaconselhadas”, explica o clínico.
Nestes casos uma medicação não hormonal, ou seja, sem estrogénio, pode ser uma alternativa. “Em Portugal já existem alguns tratamentos, feitos à base de extratos de pólenes que podem ter resultados razoáveis no tratamento”, refere Fernando Cirurgião. Porém, não resolvem o problema.
Contudo, uma nova esperança chega do outro lado do Atlântico. A Food and Drug Administration dos EUA aprovou o uso de Veozah, um medicamento oral não hormonal que pode tratar afrontamentos moderados a graves. “Este tipo de tratamento é uma alternativa importante para as pessoas que não podem começar — ou não tiveram sucesso — com a terapêutica hormonal”, explica.
A molécula atua mediante recetores no cérebro que controlam a temperatura. O que significa que apenas atua nos afrontamentos e não nos restantes sintomas da menopausa, ao contrário do que acontece, como realça Fernando Cirurgião, com a terapêutica hormonal.
Embora seja uma opção útil para algumas pessoas, outras podem ter que esperar até que um tratamento mais acessível para a menopausa esteja disponível, avança o ginecologista. “Provavelmente, todas as pessoas, exceto as que têm problemas de fígado, [poderiam tomar este medicamento para tratar os afrontamentos], e isso seria ótimo, fantástico, se o pudessem pagar”, explica. “Está previsto que seja muito caro”.
Segundo a Reuters, o Veozah deverá custar 550 dólares, cerca de 514 euros, por uma embalagem para 30 dias. Mas não faltará muito para o comprovarmos, uma vez que um porta-voz da Astellas, fabricante do fármaco, disse à NBC News que o medicamento poderia estar nas prateleiras das farmácias numa questão de semanas.
“Para as mulheres portuguesas, um fármaco do género seria também interessante”, diz Fernando Cirurgião. Porém, admite que os valores são impraticáveis para a maioria das mulheres. “Teria de ser algo mais económico”.