Saúde

Lúcia ficou com sequelas da vacina contra a Covid-19 — e quer processar o Estado

A mulher desenvolveu mielite após a administração das duas doses. Deixou de andar e gastou 140 mil euros na recuperação.
Um caso raro.

Nos últimos quatro anos, grande parte da população portuguesa foi vacinada contra a Covid-19 várias vezes, se contarmos com as doses de reforço. Ao todo, registaram-se mais de 39 mil reações adversas (RAM) em Portugal até ao final de 2022, o que corresponde a 1,4 casos por cada mil fármacos inoculados, indica um relatório do Infarmed.

Lúcia Martins foi uma das pessoas que ficaram com sequelas após a administração da dose. A mulher começou por sentir dores musculares alguns dias após a primeira toma e, na segunda dose, deixou de andar. Quando pediu ajuda ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), não obteve resposta em tempo útil.

“Começaram [a aparecer] dores musculares. Estaria tudo bem, não começassem a intensificar de dia para dia, com pés a escaldar, com cãibras noturnas, com dificuldades de marcha, muito cansaço. Ttudo se foi intensificando”, descreve em declarações à CNN Portugal.

Desde que apareceram os primeiros sintomas, Lúcia viu-se obrigada a gastar 140 mil euros em hospitais privados para recuperar. Por isso mesmo, quer avançar com um processo contra o Ministério da Saúde, a Infarmed e a Pfizer.

Embora afirme que não é negacionista, a doente diz não ter dúvidas de que o que aconteceu ao seu corpo se deve à vacina. Se no início andava com recurso a uma muleta, neste momento deixou de ser autónoma e tem de andar de cadeira de rodas.

Assim que recorreu a uma médica de medicina interna, no Hospital da Cruz Vermelha de Lisboa, foi referenciada para a neurologia. Já na CUF Tejo, deram-lhe o diagnóstico que confirmava um dos efeitos secundários reconhecidos pela Agência Europeia do Medicamento (EMA).

“A doente tem sofrido de um processo de doença imunológica, que tem atingido sucessivamente várias estruturas do sistema neurológico, com envolvimento inicial dos músculos e, posteriormente, dos nervos periféricos e de estruturas centrais medulares, levando aos diagnósticos de miopatia inflamatória grave, polineuropatia axonal de predomínio sensitivo e de mielite”.

Em causa, está um cenário que acontece com uma frequência de um a cada quatro casos por milhão de vacinas. Feitas as contas, é tão raro que acontece a 0,0004% das pessoas. Nos exames complementares, não foi detetada outra causa além da toma das duas doses da vacina da Pfizer.

Lúcia esteve 24 meses à espera de um certificado de multiusos e as consultas no serviço público, revelou, demoravam mais de um ano. “Todas as reservas de uma vida foram”, acrescentou o marido da doente.

À medida que o estado de saúde se agravava, a família da mulher continuava à procura de respostas. No entanto, continuaram sem respostas, já que Ministério da Saúde a reencaminhava para o Infarmed e a Autoridade do Medicamento, por sua vez, dizia que o assunto era da responsabilidade da Direção-Geral da Saúde.

Contactada pela CNN, a Pfizer optou por não comentar a situação. Já o Infarmed afirma que não houve qualquer problema com as vacinas tomadas por Lúcia Martins.

 

 

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