A chegada do inverno é sinónimo do surgimento e propagação de diversas doenças virais. As mais comuns incluem a constipação (causada por rinovírus), a gripe (pelo Influenza), a Covid-19 (SARS-CoV-2) e as infeções pelo vírus sincicial respiratório (VSR). Estas patologias disseminam-se mais facilmente na estação fria devido à tendência das pessoas de permanecerem em ambientes fechados e com pouca ventilação, facilitando a transmissão.
A estas doenças respiratórias, junta-se outra patologia viral que também se propaga facilmente em contextos de grupo— e circula todo o ano, para desespero de muitos pais com filhos na creche, que alguns descrevem como “infectário”.
A síndrome mão-pé-boca é provocada pelo vírus coxsackievirus A16 e afeta sobretudo miúdos com menos de 10 anos, com maior incidência na faixa etária entre um e cinco anos. “É uma infeção e pode ser causada por vários vírus, sendo que é muito mais frequente em miúdos abaixo dos cinco anos, mas pode ocorrer em qualquer idade”, explica o pediatra e neonatologista, João Rio Martins, à NiT.
É facilmente identificável e a transmissão ocorre através do contacto direto com pessoas infetadas, bem como através de fezes, saliva e outras secreções, além de alimentos e objetos contaminados. A propagação da doença é facilitada pelas secreções ou pelas bolhas formadas, sendo que é mais comum em creches e escolas, onde um único caso pode originar um surto. Os sintomas típicos incluem “lesões na boca, erupções cutâneas, febre, dor de garganta, falta de apetite e irritabilidade.”
As bolhas que aparecem na pele geralmente não provocam comichão, mas podem causar desconforto e dor. Na maioria das situações, a condição não apresenta complicações e tende a resolver-se entre sete a dez dias. Contudo, em alguns casos, a dificuldade em alimentar-se pode levar à desidratação, e, em raras circunstâncias, podem ocorrer meningites ou encefalites.
Ao contrário de outras infeções virais, não existe um tratamento específico para esta patologia. “O que os pais devem fazer é garantir que os miúdos se mantém hidratados e devem dar-lhes alimentos e líquidos frios porque são mais fáceis de ingerir. As bebidas ácidas, como sumos, devem ser evitadas porque causam reação com as lesões da boca. O descanso deve ser incentivado e atividades extenuantes e intensas devem ser evitadas. E podem ser administrados analgésicos e antipiréticos para aliviar a dor e baixar a febre”, aconselha o especialista.
Os sintomas costumam diminuir após alguns dias, mas é importante estar atento a sinais de desidratação, como lábios e mucosas secas, febre persistente, sonolência constante e dificuldades em comer.
O pediatra sublinha ainda a importância de manter cuidados de higiene nas creches para prevenir grandes surtos de mãos, pés e boca. “Enquanto tiverem febre ou bolhas ativas, os filhos devem permanecer em casa com os pais para minimizar o risco de contágio”, acrescenta.
Embora os surtos possam ocorrer em qualquer altura, a incidência é maior durante o do ano letivo. João Rio Martins explica que “no seu habitat natural”, ou seja, em escolas, infantários e creches é mais frequente haver sazonalidade. Este tipo de infeção viral tende a ser mais prevalente em climas temperados, como o português, com uma maior probabilidade de aumento de casos durante a primavera, verão e início do outono.“Apesar de ser raro, é possível contrair o vírus várias vezes”, acrescenta.