Foi há apenas um ano e meio, mas parece ter sido noutra vida. Com a pandemia a ameaçar o mundo inteiro, em pouco tempo muito mudou. E isso foi especialmente visível durante os períodos de confinamento.
Em vários países do mundo, Portugal incluído, de repente o dia a dia passou a contar com a máscara e muitas relações familiares e amizade foram colocadas à espera, contando com chamadas e vídeochamadas para matar as saudades.
O sucesso de plataformas como o Zoom, que explodiram durante a pandemia, mostram que havia alternativas tecnológicas para poder compensar a distância, tanto nas nossas vidas pessoais como profissionais. Mas um novo estudo vem dar conta de um efeito imprevisto.
Entre a população com mais de 60 anos, o contacto virtual durante a pandemia contribuiu para uma maior sensação de isolamento e até depressão, inclusive do que se não tivesse havido, de todo, contacto.
Os dados surgem num estudo de que o “The Guardian” dá conta e que envolveu mais de 5.100 britânicos mais de 60 anos e quase 1.400 norte-americanos da mesma faixa etária. Os próprios investigadores admitiram a surpresa.
“Ficámos surpreendidos com a descoberta de que uma pessoa idosa que teve apenas contacto virtual durante o confinamento experienciou maior solidão e um impacto negativo maior na saúde mental do que uma pessoa idosa que não teve contacto com outras pessoas”, afirmou Yang Hu, da Universidade de Lancaster, coautor do relatório publicado esta segunda-feira, 26 de julho, na revista “Frontiers in Sociology.”
“Esperávamos que um contacto virtual fosse melhor do que o isolamento total, mas não parece ser o caso dos idosos”, acrescentou. O que explica isto? Em parte a sensação de burnout que chega com o prolongar do confinamento (e que também é sinónimo do prolongar de manter relações através de contacto virtual).
Parte desse cansaço resulta da utilização das próprias alternativas tecnológicas. Mas há que juntar a isto a dificuldade de parte da população mais velha em lidar também com estas tecnologias.
“Não é apenas a solidão que piorou com o contacto virtual, mas a saúde mental geral”, acrescentou. “As pessoas mostraram-se mais deprimidas, mais isoladas e sentiam-se mais infelizes como resultado direto do uso do contacto virtual.”
Uma das lições a retirar da pandemia para o futuro, acreditam os investigadores, passar por capacitar populações mais vulneráveis para o uso de novas tecnologias mas também deve ser dado um maior ênfase no futuro na procura de alternativas seguras, que permitiam o contacto cara a cara.