Num recente episódio da série “Bom Partido”, criada pelo humorista Guilherme Geirinhas, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, confessa qual foi um dos momentos-chave da sua vida: “Com 20 anos conformei-me que ia ser calvo. Bonito, mas calvo”. Revela que, na altura, um médico lhe disse que ou tinha muito dinheiro para gastar, ou ia ter de aceitar a calvície. O que se sabe hoje é que não é bem assim.
A conversa, partilhada no canal de YouTube do comediante, onde entrevista os candidatos às eleições legislativas com perguntas incómodas e divertidas, tocou neste tema que é, precisamente, uma das maiores preocupações estéticas dos homens portugueses.
A calvície — cujo nome técnico é alopecia androgenética — afeta tanto homens como mulheres, e em mais de 90 por cento dos casos é hereditária. Quem o diz é a dermatologista Marta Ribeiro Teixeira, especialista em cabelo. “[A calvície] é crónica, não tem cura, mas tem tratamento”, explica.
“Caracteriza-se por uma miniaturização dos folículos pilosos em áreas específicas”. Começam a aparecer entradas e o topo da cabeça também é afetado. No caso das mulheres, a perda de cabelo pode ser mais difusa. Mas se for detetada numa fase inicial, há possibilidade de incentivar o crescimento de folículos.
Aos 30 anos, a calvície afeta cerca de 30 por cento dos homens e 3 a 6 por cento das mulheres. Acima dos 70 anos estima-se que cerca de 80 por cento dos homens tenha esta condição, contra 42 por cento das mulheres.
Ainda na conversa entre Geirinhas e Raimundo, o comediante conta ao secretário-geral do PCP que, numa mesa cheia de homens de 35 anos, a calvície (que todos sentem a aproximar-se) é tema central. O humorista refere que a solução que muitos já experimentaram (e apresentam como quase milagrosa) é o Minoxidil.
Para quem anda nas redes sociais, é quase impossível não se ter cruzado com algum conteúdo sobre este medicamento. Geralmente, são vídeos de homens jovens, que incluem a aplicação tópica de Minoxidil na sua rotina, a mostrar o crescimento do cabelo ao longo de alguns meses.
Este medicamento “tem uma história muito curiosa”, realça a dermatologista, em conversa com a NiT. “Foi desenvolvido como medicamento para a tensão, em comprimido, e aquilo que se verificou é que as pessoas que tomavam Minoxidil para a tensão alta começavam a ter mais cabelo e mais pelos”. E por isso a ideia não demorou a surgir: Minoxidil para aplicação direta na pela. Resultou e passou a ser utilizado em pessoas com calvície.
O medicamento existe em cremes e espumas, mas também é possível tomar em comprimido. Só esta última versão precisa de receita médica para ser adquirida. Ainda assim, Marta Ribeiro Teixeira garante que o melhor é “ser visto por um médico, até porque nem tudo é alopecia androgenética”, convém ter a certeza do problema que está a tratar.
A primeira linha de tratamento
Quando aplicado na pele, o Minoxidil pode deixar o couro cabeludo irritado e provocar alguma descamação. “Algumas pessoas queixam-se de oleosidade, em casos mais raros, e se a aplicação não for feita corretamente e se deixar escorrer, é possível que aumente também o pelo facial, por exemplo”.
Importa frisar que este medicamento faz parte de uma “primeira linha de atuação”. Uma pessoa que tenha alopecia androgenética num estado avançado irá precisar de outro tipo de tratamentos para ter resultados — nos casos mais gritantes, recorre-se ao transplante capilar.
Cada vez mais há novas clínicas de tratamento capilares, uma área que “dá muito dinheiro”. Ao mesmo tempo, “temos visto cada vez mais pacientes mal tratados”, diz Marta Ribeiro Teixeira. “Começam tratamentos de segunda ou terceira linha”, mais caros e indicados para estados mais avançados, antes de tentar métodos mais simples.
“Nota-se claramente o aumento da procura de dermatologia no sentido de tratar desde muito cedo a alopecia androgenética, cada vez tenho pacientes mais jovens e que após o aparecimento dos primeiros sintomas recorrem logo à consulta”. A dermatologista tem pacientes que aparecem em consulta pela primeira vez aos 16 anos. “Quanto mais cedo que se começar o tratamento melhor”, há mais probabilidade de conseguir estimular o crescimento dos cabelos.
Sobre o motivo que leva mais e mais pessoas, principalmente homens, a procurar aconselhamento dermatológico relativamente à calvície, a médica não tem grandes dúvidas: “Isto está naturalmente ligado ao facto de se associar a imagem a um homem com cabelo, a uma imagem mais masculina, sensual, etc.”.
O uso é “diário e para sempre”. Se parar há risco de regressão. De forma geral, os resultados começam a surgir ao final de três meses, e o efeito vai aumentado daí para a frente. Marta Ribeiro Teixeira, explica ainda que é bastante comum que nos primeiros tempo haja queda de cabelo. “Isso até costuma ser um fator preditor de sucesso do tratamento”.
E não se pode dizer que este é um tratamento caro: na Wells, uma embalagem de 60 mililitros (que dura cerca de um mês) custa 15,60€.
Além do Minoxidil
O Minoxidil não está sozinho na primeira linha do combate à alopecia androgenética. Aliás, na maioria das vezes, é usado em associação com doses baixas de finasterida ou dutasterida. Em doses mais elevadas, estes dois compostos são utilizados na regulação da hiperplasia da próstata. Os três medicamentos podem ser receitados a mulheres, mas o Minoxidil está contraindicado durante a gravidez e amamentação, e os outros dois devem ser avaliados caso a caso, por um dermatologista.
A taxa de eficácia destes tratamentos medicamentosos é “muito alta — não funcionam em todas as pessoas, mas em quase todas”.
Quando à finasterida e dutasterida, Marta Ribeiro Teixeira explica que já foram registados efeitos colaterais mais “polémicos”, como diminuição da libido e depressão. O Infarmed alertou, na passada sexta-feira, 9 de maio, para a possibilidade de fármacos com finasterida poderem causar pensamentos suicidas e aconselhou os utentes que estejam a tomar um miligrama do medicamento, via oral, a interromper o tratamento e a procurar aconselhamento médico, caso sintam alterações de humor.
“Os estudos científicos não são muito claros, não se consegue fazer uma relação muito direta, ou seja, é possível, mas parece ser menos prevalente do que se pensava”, diz a dermatologista.
Em casos mais avançados, quando os fármacos já não conseguem resolver o problema, há outras opções. É possível recorrer ao PRP, um plasma rico em plaquetas colhido do sangue do paciente, que é depois injetado no corpo do doente. Normalmente são feitos “três tratamentos com quatro semanas de intervalo e depois um tratamento de manutenção anual”. Também é possível acelerar o crescimento de folículos capilares através de microagulhamento e, em casos mais avançados, o transplante capilar é a solução utilizada por excelência.
Mesmo neste último caso, “é necessário manter a terapia médica, em alguns casos com Minoxidil” ou através de PRP no pós-transplante.