Febre alta, dificuldades respiratórias, perda de olfato e fadiga. São estes os sintomas relatados por centenas de pessoas em vídeos no TikTok, onde alegam que anda a circular um “vírus misterioso” pelos Estados Unidos. No entanto, dizem os mesmos autores, os testes para a Covid-19, a gripe ou vírus sincicial respiratório dão sempre negativo.
Uma das utilizadoras desta rede social partilhou a sua experiência, afirmando que tem sentido tonturas, náuseas e sensação de desmaio. Outra pessoa descreveu sintomas como a congestão e a falta de ar. “Há mais alguém doente por aí. O que é este vírus desconhecido?”, questiona um dos utilizadores. As publicações já alcançaram milhares de pessoas, com a grande maioria a fazer partilhas sem confirmar nada do que é dito e a especular sobre a causa desta “nova doença”.
@_ajtsanchez Anyone else experiencing similar symptoms? I just thought it was a cold…
Mas afinal, que vírus é este?
“Há muitos vírus que circulam na comunidade nacional e internacional que nós não temos capacidade de diagnosticar o agente, por terem características muito específicas de crescimento em ambiente de cultura. A janela para os podermos apanhar dentro do corpo humano também é curta”, explica à NiT, Gustavo Tato Borges, presidente da associação nacional de médicos de saúde pública, tentando desmistificar o problema.
Esta não é uma realidade nova. Já acontecia antes da pandemia. “O período da Covid-19 veio despertar esta curiosidade e necessidade de identificarmos a causa das doenças agudas e de confirmarmos todos os diagnósticos”, refere.
Este “vírus misterioso” sobre o qual tanto se fala no TikTok não deverá ser mais do que uma “simples doença respiratória sem riscos acrescidos”. “Não há necessidade de alarmes ou qualquer outro tipo de medidas”, garante o especialista. “Não havendo nenhum alerta emitido pelas instâncias próprias, como a DGS, o INSA, o ECDC ou a OMS, deverá ser apenas uma constipação normal sem qualquer tipo de impacto negativo.”
Pode também tratar-se “de um problema infecioso que se resolve com medicação para os sintomas ou antibiótico (se se tratar de uma infeção bacteriana) e pode nunca se chegar a confirmar qual o agente que causou a doença”, acrescenta Gustavo Tato Borges.
“Não existe um tempo definido igual para todos os vírus, durante o qual eles sobrevivem no corpo de uma pessoa. Num indivíduo saudável, podem ficar pouco tempo (cerca de 4 ou 5 dias), como podem perdurar mais que uma semana. Já em pessoas debilitadas, esse tempo pode ser mais prolongado. Quanto mais tempo durarem e mais debilitada uma pessoa for, há maior possibilidade de originar doença grave e ser transmissível pessoa a pessoa. Mas, depende de cada vírus e de cada pessoa”.
E se sentir algum sintoma, deverá deslocar-se às urgências? Segundo o médico, isso só deverá acontecer “se tiver sintomas graves que motivem um tratamento diferenciado”. E sublinha: “Ou seja, apenas se a febre não baixar com a medicação, se existir falta de ar ou cansaço extremo, se houver alteração do estado de consciência ou um agravar dos sintomas”.
Pode acontecer que algumas pessoas passem 15 dias adoentadas, com tosse, cansaço, febre ligeira e mal-estar geral, mas “sem necessidade de se deslocar às urgências, apenas de continuar com os cuidados genéricos de descanso e medicação para os sintomas”.
“O importante enquanto cidadãos é que tenhamos hábitos de vida saudáveis para estarmos protegidos: uma boa alimentação, a prática de exercício físico, vacinas em dia, não fumar e vigilância médica regular. Em caso de infeção respiratória, usar a máscara cirúrgica”, conclui.
Os perigos da desinformação nas redes sociais
Gustavo Tato Borges alerta ainda que as redes sociais, nomeadamente o TikTok, não são “o local mais correto para acedermos a informação científica e de saúde”. Isto porque basta alguém fazer “uma publicação que se torna viral, apenas com base numa análise individual, enviesada e não sustentada. Lança o alarme sobre algo que não existe”.
Por isso, o melhor é mesmo procurar informação sobre vírus e doenças junto das “instituições idóneas e fidedignas” nacionais e internacionais, como a Direção-Geral da Saúde ou a Organização Mundial da Saúde.