“Ah, eu não posso ter diabetes porque sou magro. Só as pessoas com excesso de peso é que têm”. Quantas vezes já ouvimos estas frases? Quando se trata desta patologia, há ainda muitos mitos a ela associados. Numa publicação recente que se tornou viral, o músico Nick Jonas — que pertencia ao grupo Jonas Brothers —, revelou que não tem excesso de peso, mas que é portador de diabetes. O americano alertou os seus seguidores para os sintomas que sentiu antes de ser diagnosticado. O pretexto certo para a NiT perceber quais são os mitos associados a esta doença.
A diabetes resulta de uma deficiência na produção de insulina pelo pâncreas. Esta hormona funciona como uma chave que permite a entrada da glicose (açúcar) no interior das células. Sem ela, a glicose não entra e vai-se acumulando no sangue. A diabetes e pré-diabetes afetam mais de 537 milhões de pessoas em todo o mundo e as intervenções no estilo de vida podem prevenir ou retardar o seu desenvolvimento e complicações.
Para João Jácome de Castro, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, não se trata de desconstruir este mito que associa unicamente a diabetes ao excesso de peso, mas sim, completá-lo. Afinal, esta patologia “não aparece apenas em pessoas obesas”. Porém: “Há uma relação estreita entre estes elementos e a obesidade pode mesmo ser um fator desencadeador da doença”.
Há dois tipo de diabetes, começa por explicar o especialista. A tipo 1 (que é mais rara e é causada por uma reação autoimune) não tem como passar despercebida. “Representa 5 por cento dos casos e é mais habitual em miúdos e jovens. Só em raros casos aparece nos adultos”. As mudanças são drásticas, quase do dia para a noite. O que neste caso acontece é que o pâncreas deixa de produzir, por completo, a insulina e, assim, os valores de açúcar no sangue aumentam de forma exacerbada.
Por outro lado, a diabetes tipo 2, que representa 95 por cento dos casos, é mais comum na idade adulta, já que tem origem num mau estilo de vida. Os sinais vão surgindo de forma muito mais gradual — e podem até ser confundidos com outros problemas menores. A quantidade de açúcar no sangue aumenta gradualmente. O organismo assume estes valores como normais e pode não dar sintomas. Por isso é que se diz que a diabetes é uma doença silenciosa.
Porque é que o mito não é totalmente mentira? “A verdade é que 90 por cento das pessoas que têm excesso de peso ou obesidade têm 90 por cento de probabilidade de desenvolver diabetes e há aqui um agravamento do prognóstico”. “Nestes casos, é importante intervir antes mesmo de a doença aparecer”. Não é por acaso, então, que os novos medicamentos destinados ao tratamento da doença diretamente relacionado com o pâncreas contribuam para a redução de peso.
“Se no início dos estudos se dava importância maioritariamente aos valores da glicemia, agora sabe-se que está também associado à pressão arterial, colesterol e ao peso”. E estes sintomas passam muitas vezes despercebidos. “Há cerca de 30 por cento de pacientes não diagnosticados” e é “atrás deles que se tem de ir”. Quanto mais cedo se fizer um diagnóstico, maior a probabilidade de se evitarem as complicações — “como enfartes ou cegueira”, por exemplo.
É fundamental acompanhar as pessoas com um histórico associado à patologia, os chamados pré-diabetes. “São aqueles que têm familiares com a patologia, diabetes gestacionais e, claro, excesso de peso”. Para o especialista, é mesmo importante intervir de imediato, já que 50 por cento destes casos irão evoluir.
“Uma vez diagnosticados, é necessário um controlo rigoroso da doença”. Para isso, devem “definir-se objetivos, dependendo da pessoa que está à nossa frente”. Cada vez que a situação for reavaliada, “é preciso procurar ajustar o tratamento”. Segundo o médico, “um terço das pessoas diagnosticadas não estão a ser corretamente tratadas”.
A 12 de novembro, o artista Nick Jonas partilhou com os seus seguidores os quatro sinais que o alertaram e que levaram ao seu diagnóstico de diabetes tipo 1. Jonas, tem 30 anos, mas descobriu a doença aos 13. Desde então que promove conteúdos de conscientização sobre a diabetes.
“Lembro-me de que contei aos meus pais que precisava de ir ao médico. Algo parecia não estar bem, e eles já tinham visto a perda de peso significante e outros sintomas, então levaram-me”, revelou nesse vídeo. “Foi aí que o meu pediatra me informou que tinha diabetes tipo 1. De início fiquei devastado, naturalmente. Era o início de uma nova e louca jornada”.
O cantor relatou ainda que o impacto do diagnóstico foi tão grande para ele como para a família e amigos. Jonas cegou a pensar que teria dificuldades em continuar na carreira de artista.
Esteja atento aos seguintes sintomas
Irritabilidade
Este é um sintoma que tende a normalizar quando os níveis de açúcar no sangue normalizam, garantem os especialistas.
Visão turva
Um dos sintomas é a visão turva. Este sinal deriva do facto de termos açúcar a mais no sangue que, quando passa nos vasos sanguíneos do olho acaba por o perturbar. Contudo, esta complicação é muitas vezes ignorada: “O facto de passarmos a ver pior diz-nos que temos de ir ao oftalmologista e, assim, não associamos à diabetes.”
Urinar demasiadas vezes
Como temos muito açúcar no sangue e há uma deficiência na produção de insulina, a forma de o expelir é através da urina. Desta forma perdemos muita água. O que nos remete para o quarto sintoma.
Muita sede
Como estamos sempre a eliminar água do organismo, ficamos sempre desidratados e com uma necessidade constante de a repor. Há pessoas que chegam a beber cinco de litros de água por dia, e é comum levantarem-se a meio da noite para beber água e urinar.
Boca seca
Como ficamos desidratados, ficamos com um sentimento de secura muito grande. “Parece que a boca fica encortiçada”, refere.
Formigueiro nos membros inferiores
O excesso de açúcar no sangue prolongado afeta o nosso sistema nervoso, os nossos nervos. Por isso, um dos sintomas — não é tão comum como os anteriores — é uma espécie de formigueiro na região dos membros inferiores.
Infecções urinárias recorrentes
É um sintoma que afeta, sobretudo, as mulheres. Ao termos a urina cheia de açúcar, porque o organismo a está a tentar expelir, cria-se um ambiente propício à propagação de bactérias.
Dificuldade em tratar as infeções
Além de uma maior recorrência de infeções, há também uma maior dificuldade em tratá-las.
Perda de peso e mais apetite
É um sintoma desvalorizado e na maioria dos casos as pessoas ficam felizes por estarem mais magras — como já referimos, a diabetes afeta, sobretudo, pessoas com excesso de peso. Por mais que a pessoa coma, o açúcar ingerido não vai ser aproveitado. Ou seja, devido à deficiência ou incapacidade na produção de insulina, ao não passar para as células, o açúcar acumula-se no sangue — e não no corpo. Resultado: o organismo vai buscar energia às reservas de gordura no corpo. Por causa disto, é também comum ficar com mais apetite.
Sentimento de fadiga
Este sintoma é a consequência de todos os outros, referidos acima. O facto de o organismo não conseguir processar o açúcar faz com que tenhamos de ir mais vezes à casa de banho, fiquemos desidratados e com muito menos energia. Não nos podemos esquecer de que açúcar é isso mesmo — uma fonte de energia.“Para isso vamos às reservas de energia que são a gordura e perdemos o peso.