Com o número de casos de varíola dos macacos a aumentar de dia para dia — em Portugal já se registaram 49 e a nível mundial a última atualização dava conta de mais de 200 —, procuram-se soluções para combater o surto.
Neste sentido, a empresa farmacêutica Moderna encontra-se a testar potenciais vacinas contra a doença em estudos pré-clínicos, avança a “Reuters”. A agência de notícias britânica solicitou mais detalhes sobre as inoculações à empresa mas, até ao momento, não obteve resposta. Por enquanto, os ensaios que estão a ser realizados têm lugar em laboratórios e não envolvem voluntários humanos.
Numa publicação de 23 de maio, publicada pela Moderna na sua página oficial da rede social Twitter, a empresa começou por lembrar que, em março de 2022, assumiu o compromisso de avançar com programas contra patógenos que possam representar uma ameaça para a saúde pública.
E acrescentou: “Ressaltando esse compromisso, e como o Monkeypox é de importância para a saúde pública global, conforme identificado pela OMS, estamos a investigar possíveis vacinas contra a varíola num nível pré-clínico”.
In March of 2022, we announced our commitment to advancing programs by 2025 against #pathogens that pose a threat to public health.
— Moderna (@moderna_tx) May 23, 2022
Varíola dos macacos: que doença é esta?
A varíola dos macacos, como é conhecida, é uma patologia viral, geralmente transmitida pelo toque ou mordida de animais selvagens portadores do vírus Monkeypox, como macacos e roedores na África Ocidental e Central. O período de incubação da doença é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar entre 5 e 21.
A Direção-Geral da Saúde alerta que “os indivíduos que apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço, devem procurar aconselhamento clínico”.
Na presença de sintomas, é importante “abster-se de contacto físico direto com outras pessoas e de partilhar vestuário, toalhas, lençóis e objetos pessoais enquanto estiverem presentes as lesões cutâneas, em qualquer estadio, ou outros sintomas”, acrescenta. Aos contactos de risco recomenda-se o isolamento por 21 dias.
Esta enfermidade é, em muitos aspetos, semelhante à varíola humana erradicada em 1979 — mas menos transmissível e menos mortal. Por isso, o risco para a saúde pública é considerado baixo, mas, em alguns casos, a doença pode evoluir para sintomas mais graves.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a interrupção da vacinação contra a varíola humana em 1980 como um dos motivos que justificam o surto de infeções que se tem vindo a registar em muitos países.
Vacina contra a varíola irá voltar ao plano nacional?
A vacina da varíola deixou de fazer parte do Programa Nacional de Vacinação em 1977. Dado o contínuo aumento de casos de infeções por Monkeypox, a NiT questionou Gustavo Tato Borges, presidente em exercício da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), se a inoculação poderá voltar a ser incluída no plano regular de vacinação.
O especialista em saúde pública explicou que “apesar do aparecimento de casos da varíola do macaco, ainda não se justifica, nesta fase, introduzir a vacinação massiva com a vacina da varíola humana”. Destacou, porém, que a mesma “pode ser uma ferramenta para ajudar os contactos de risco a reagirem de uma forma mais eficaz contra este vírus”. Ainda assim, sublinha que “não precisa de ser administrada a toda a população”.
Portugal adquiriu, em 2008, vacinas de primeira geração contra a varíola, que iriam fazer parte da reserva estratégica de medicamentos do País. António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, revelou a 19 de maio que “o stock existente pode ser utilizado nos contactos de alto risco”. O governante sublinhou, no mesmo momento, que “as medidas preventivas são a sensibilização para evitar comportamentos de risco. Esta patologia não é uma doença de grupos de risco é uma doença de comportamentos de risco ao qual todos estamos sujeitos”, adiantou.
Neste momento, “o tratamento dos pacientes é feito de forma sintomática”, explica Gustavo Tato Borges. Ou seja, “é dirigido aos sintomas que desenvolvem, pois ainda não existe um tratamento específico para a doença”, acrescenta.
À data, a aquisição de vacinas contra a varíola foi decidida na sequência dos ataques de 11 de setembro de 2001, de modo a existir um escudo-protetor em cada país face ao risco de o vírus ser usado como arma de guerra. Quatro anos depois, foi dito que a validade dessas vacinas era “muito prolongada”. Até ao momento ainda não foi revelada a quantidade de vacinas contra a varíola humana existentes no stock nacional.
Leia também sobre a descoberta, feita em Portugal, que pode ser fundamental para perceber a origem do surto e as causas da rápida disseminação da doença.