Saúde

Não deixe a escova de dentes perto da sanita — quem o avisa, seu amigo é

Um novo estudo revelou o que realmente acontece quando carrega no autoclismo. Prepare-se para a coisa mais nojenta que irá ler hoje.
Parece inocente, mas pode ser perigoso.

Deixar o tampo da sanita para cima ou para baixo: é uma das maiores dúvidas e o motivo para várias discussões lá por casa. Depois de ler o artigo, apostamos que não vão sobrar questões e vai olhar para a superfície aparentemente decorativa de outra forma — pelo menos enquanto puxa o autoclismo. Sim, porque as conclusões são surpreendentes.

Num novo estudo, publicado em dezembro de 2022 na revista “Scientific Reports”, cientistas da Universidade de Colorado Boulder foram capazes de visualizar partículas transportadas pelo ar, invisíveis a olho nu, que são lançadas quando um autoclismo é acionado. Sim, leu bem.

Há mais de 60 anos que se sabia que as minúsculas substâncias são libertadas durante a descarga, porém, esta investigação é a primeira confirmá-lo diretamente. O objetivo seria, então, medir a velocidade e a distância com que as partículas se espalham. Os investigadores relataram que ,em apenas oito segundos, os fragmentos subiram 180 centímetros acima da sanita. E se as gotas maiores ficam pousadas nas superfícies em segundos, as menores parecem permanecer no ar por minutos ou até mais.

As substâncias moveram-se principalmente para cima e para trás em direção à parede, mas algumas também se moveram caoticamente noutras direções. Uma vez no ar, algumas viajaram até ao teto e, depois de se espalharem ao longo da parede, entraram na sala. O fenómeno foi registado graças a lasers verdes brilhantes e equipamento fotográfico. No derradeiro momento, as luzes iluminaram a sanita e as lentes registaram a cena que parecia saída de um filme: uma espécie de fogo de artifício instantâneo. Mas, em vez de um espetáculo de pirotecnia, tratava-se de um festival onde as bactérias, vírus ou outros microrganismos são os protagonistas.

Sim, porque é essa a parte preocupante: as substâncias catapultadas e que acabam por voar para as superfícies e até mesmo para a cara das pessoas presentes na casa de banho podem transportar patógenos causadores de doenças. E o que é que costuma ficar em cima do lavatório totalmente desprotegido? Nós respondemos: as escovas de dentes.

E. coli, C. difficile, norovírus e adenovírus: se for do tipo de pessoa que não tem por hábito guardar a escova de dentes num armário fechado, saiba que esta estará carregada de patógenos transportados pelas minúsculas gotas de água. Sim, leu bem. Ainda que pareça uma ação totalmente inocente, assim que puxa o autoclismo, germes e as bactérias presentes na urina e nas fezes vão espalhar-se por todo o lado.

“Com o fluxo da água criada na sanita, as partículas que contêm microrganismos podem dispersar-se e cair nas superfícies, levando a que o contacto com as mesmas possa ocorrer através das mãos e posteriormente outras zonas do nosso corpo”, explica à NiT Daniel Coutinho, infeciologista no Hospital Lusíadas Porto. Tudo numa fração de segundos. “Do que se sabe, esses agentes patogénicos podem sobreviver em superfícies por horas ou dias”.

“Há ainda possibilidade, criando-se aqui alguns aerossóis de menor peso molecular, de haver alguma dispersão até pelo ar. Aí há o risco de inalação. Ou seja, há duas vias de transmissão: por um lado a focal oral, através da reposição dessas gotículas num objeto ou numa superfície, ou através da inalação no momento em que está em dispersão”, nota o especialista.

E não precisa necessariamente de estar doente para que esses patogénicos estejam presentes. Basta que alguém que tenha usado a sanita antes de si esteja infetado. “Os agentes patogénicos podem permanecer na água mesmo após dezenas de descargas”, conclui o estudo.

Para Daniel Coutinho a situação é preocupante. “Poderá haver um risco associado, claro”, assegura. “Isto porque há a possibilidade de haver um processo contagioso”, explica depois. O ideal, segundo o profissional, será mesmo termos as escovas protegidas num local fechado e com as tampas de proteção colocadas. E, claro, baixar o tampo da sanita é fundamental.

Ainda assim, acrescenta, “há dados que comprovam que mesmo baixando poderá haver dispersão. Afinal, são gotículas tão pequenas, que basta que a tampa não feche completamente para que consigam passar”.

Neste caso — como em tantos outros — não devemos fingir que “aquilo que vemos não existe”. Aqui torna-se mesmo impossível que o risco não é real. “Mesmo nós, que lidamos com contaminação a nível hospitalar, não pensamos muito nisso. Agora vou passar a ter mais cuidado”, confessa.

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