Saúde

Nipah. Vírus respiratório que “anda à solta” na Índia pode chegar à Europa

Dores de cabeça, garganta ou musculares, febre e vómitos e complicações respiratórias são os sintomas mais comuns.
Autoridades atentas ao vírus Nipah.

Depois do SARS-CoV-2, há outro vírus respiratório a deixar o mundo em estado de alerta. Em Querala, na Índia, entre 30 de agosto e 11 de setembro, duas pessoas morreram, vítimas de uma estripe chamada Nipah. Há, pelo menos, mais quatro casos confirmados e 950 pessoas estão a ser vigiadas.

As autoridades locais estão a tentar conter o surto, por isso, encerraram todas as escolas da região e declararam zonas de contenção. Recomendaram ainda que não haja ajuntamentos, sobretudo nos locais de culto e começaram a testar centenas de pessoas.

Graças à pandemia de Covid-19, sempre que ouvimos falar de uma doença de origem viral, os alarmes soam. No entanto, o Nipah não é novo: foi identificado no final dos anos 90, após um surto na Malásia, numa vila chamada Nipah — daí o nome.

O vírus é descrito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma zoonose, o que significa que surge primeiro em animais, passando depois para seres humanos. O contágio entres pessoas, a partir de fluidos corporais, só acontece mais tarde.

À semelhança da Covid-19, pode ser assintomático, mas o vírus que está a assombrar a Índia pode ser mais letal. “Estima-se que a taxa de letalidade possa variar entre os 40 e os 75 por cento, mas depende das capacidades locais de vigilância epidemiológica e de resposta clínica”, esclarece a OMS. Não existe ainda nenhum tratamento ou vacina disponíveis. “O tratamento primário para os seres humanos consiste em cuidados médicos de apoio ao doente”, acrescenta a organização.

A lista de possíveis sintomas inclui ores de cabeça, garganta ou musculares, febre e vómitos e complicações respiratórias. Nos casos mais graves pode evoluir para uma encefalite, “uma infeção no cérebro, que pode ser mortal”.

Ao longo dos anos, já esteve na origem de vários surtos na Índia. Um deles foi precisamente em Querala, em 2018. No espaço de cinco semanas, o tempo que as autoridades levaram a conter o vírus, morreram 17 pessoas.

“Os surtos deste vírus têm sido relativamente frequentes e têm aumentado ao longo dos anos. Contudo, não sabemos se estão realmente a aumentar, ou se temos uma maior capacidade de diagnóstico. Além disso, como os sintomas são idênticos, pode ter sido confundido com Covid-19 e muitos casos podem ter sido sub-diagnosticados”, salientou Diana Fernandes, infeciologista da clínica Longeva.

Nos últimos três anos, é “possível que o vírus tenha estado camuflado pela pandemia”, sublinha a especialista. “Os esforços de saúde foram muito desviados para o combate ao coronavírus e houve menos investigação e menos diagnósticos da doença.”

Devido ao tal “potencial epidémico”, a OMS listou-o como alvo prioritário, defendendo que deve ser alvo de maior análise mas também ser acompanhado de perto.

Como nos devemos prevenir

Não há como fugir, sobretudo num mundo que vivemos em que as viagens para todos os países se tornaram banais. Porém, segundo Diana Fernandes, existem formas de prevenir esta situação. Já estamos familiarizadas com algumas delas, sobretudo desde os tempos mais assustadores da pandemia da Covid-19. A etiqueta respiratória e a lavagem das mãos são essenciais, por exemplo. Em último recurso, como se trata de uma doença que se propaga pela via área, as máscaras são novamente a melhor proteção.

Além destas, existem “as precauções básicas do controlo de infeção”, definida pela Organização Mundial de Saúde. “São um conjunto de estratégias que se implementar para evitar a propagação de infeções. A higiene é uma das regras básicas e eficaz para quebrar a cadeia de transmissão. Lavar as frutas, os legumes e o vegetais muito bem antes de os ingerir junta-se a estas regras, assim como cozinhar bem os alimentos”, refere o especialista em medicina interna.

A comunicação e a informação são também uma forma de proteção. “É importante garantir uma fácil, ágil e correta comunicação com a população (para saberem como se transmite e os cuidados a ter) e colaborar com as instâncias internacionais de saúde, como aconteceu, por exemplo, com a sequenciação genómica do vírus Monkeypox que têm causado vários casos no mundo inteiro”, conclui.

Leia também este artigo da NiT e esclareça as dúvidas sobre as zoonoses e como deve agir para as evitar.

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