Um medicamento fabricado pela farmacêutica AstraZeneca para tratar o cancro do pulmão após a cirurgia reduz em 51 por cento a probabilidade de morte por doença. É uma das principais conclusões de um ensaio clínico realizado ao longo de dez anos por investigadores da Universidade de Yale. Os resultados foram revelados no início de junho na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em Chicago.
O Osimertinib, assim que se chama o fármaco, evidenciou “reduzir significativamente” o risco de morte em doentes com cancro no pulmão. No ensaio — apelidado Adaura — participaram um total de 682 pacientes, com idades compreendidas entre os 30 e os 86 anos.
O estudo analisou os efeitos do medicamento em doentes com cancro do pulmão de células não-pequenas, o tipo de cancro do pulmão mais comum — representa cerca de 85 por cento dos casos, segundo os dados divulgados pelos hospitais CUF. Além deste critério, os participantes tinham uma mutação do gene EGFR, isto é, uma proteína à superfície das células que permite o seu crescimento e divisão, por meio de uma mutação.
Ao fim de cinco anos, verificou-se que a taxa de mortalidade dos doentes que tomaram o comprimido diário era de 12 por cento, em comparação com os 22 por cento dos doentes tratados com placebo. As evidências representaram um aumento de cerca de 51 por cento das probabilidades de sobreviver.
Tendo em conta estes resultados, Roy Herbst, diretor-adjunto do Yale Cancer Center e o principal autor do estudo, incentiva um maior rastreio a pessoas com cancro do pulmão para investigar se têm mutação do gene de EGFR. O clínico defende, ainda, que o medicamento deve tornar-se “o padrão de tratamento” para pacientes com a mutação do gene.
“Há trinta anos, não havia nada que pudéssemos fazer por estes doentes”, afirmou o Roy Herbst. “Agora temos este medicamento potente.” O diretor revela-se especialmente satisfeito relativamente ao resultado obtido nesta doença em particular, que se revela resistente às terapias. “Realmente impactou a vida dos nossos pacientes.”
“Uma taxa de sobrevivência global a cinco anos de 88 por cento é uma notícia incrivelmente positiva (…) Ter acesso a um medicamento cuja eficácia está comprovada e cujos efeitos secundários são toleráveis significa que os doentes podem estar confiantes e desfrutar de uma boa qualidade de vida durante mais tempo”, afirma Angela Terry, presidente da instituição de caridade para cancro do pulmão, EGFR Positive UK.
O tratamento ainda não está a ser distribuído em larga escala. Apenas alguns doentes no Reino Unido, nos Estados Unidos e noutros países têm acesso ao medicamento.
O cancro do pulmão é a doença oncológica com mais prevalência no mundo, responsável por 1,8 milhões de mortes. É também a principal causa de morte por cancro em Portugal, contabilizando 4.317 mortes segundo os últimos dados divulgados pela Comissão Europeia.