O consumo de canábis tem vindo a aumentar desde o início do século. De acordo com os dados do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Substâncias (ICAD), divulgados esta quarta-feira, dia 3 de abril, 12,2 por cento dos portugueses entre os 15 e os 64 anos já fumaram pelo menos uma vez — o valor mais alto de que há registo desde os últimos estudos, realizados em 2001.
Também o consumo apelidado “ao longo da vida” sofreu um aumento nos géneros masculino e feminino, passando de 15,6 por cento para 17,5 no caso dos homens e de 6,6 para 7,1 no caso das mulheres. Deste modo, é possível concluir que a canábis é a droga mais consumida em Portugal, comparativamente às restantes. As outras apresentam prevalências inferiores a dois por cento, mantendo taxas regulares dos inquéritos passados.
Com base em 12 mil entrevistas, conduzidas pelo Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, concluiu-se que 1,1 por cento dos portugueses entre os 15 e os 64 anos referem já ter consumido cocaína — ou seja, apenas menos 0,1 por cento a menos do que em 2017 e 2012 (1,2%). Os chamados consumos recentes — portanto, registados nos 12 meses anteriores ao inquérito — e atuais (nos últimos 30 dias) também não apresentaram variações substanciais: 0,2 e 0,1 por cento, respetivamente.
O estudo não confirma, então, a perceção generalizada de um aumento da utilização de cocaína, embora se ressalve que a amostra não abrangeu a população sem-abrigo, que tem aumentado, e pode ter interferência para a análise da população geral.
Por sua vez, o recurso ao álcool e tabaco aumentaram bastante. A ingestão de álcool recente passou de 59,4 por cento para 63,5 e o consumo atual de 49,1 para 56,4 por cento. O acréscimo das taxas deve-se ao crescimento da consumação por parte das mulheres. É na região norte onde se regista uma maior incidência, sendo os Açores o local com os valores mais baixos.
A subida das taxas do tabaco também sofreram uma subida, embora mais ligeira. Os valores de aplicação recente (últimos 12 meses) subiu de 31,7 por cento para 33,1 e no último mês de 30,6 para 31,9 por cento.
O estudo trata-se do quinto realizado no século XXI — 2001, 2007, 2012, 2017 e 2022 — sendo o primeiro após o Covid-19. A partir dos resultados globais, o ICAD inferiu que, ao contrário do que se julgava, “a pandemia não teve um impacto a ponto de alterar significativamente as taxas de prevalência”. Portanto, “não produziu um efeito estruturante nos comportamentos de consumo”.