Saúde

O cancro de Sam Neill é muito raro e agressivo. Muitas vezes é considerado incurável

Apesar de estar em remissão e medicado, o ator diz que é “provável que morra” da doença que lhe foi diagnosticada em 2022.

Sam Neill enfrenta um dos cancros de sangue mais agressivos. O ator de 75 anos fez a revelação no seu livro de memórias “Did I Ever Tell You This? A Memoir” (“Já te contei isto? Memórias”, em tradução livre), que deverá ser publicado ainda este mês.

O protagonista de “Jurassic Park” escreveu que está a receber tratamento para um linfoma não Hodgkin que foi detetado em março de 2022. Neill adiantou ainda que o cancro está em remissão, mas terá de continuar a fazer quimioterapia preventiva até ao fim da vida.

“A questão é esta: estou mal. Possivelmente a morrer. Talvez tenha que apressar este livro”, escreveu. E continuou: “Não vou fingir que o último ano não teve os seus momentos negros. Mas foram esses momentos negros que me mostraram a luz nos momentos de alívio, que me tornam grato por cada dia e imensamente agradecido a todos os meus amigos. Fico feliz por estar vivo.”

Sabe-se que o ator foi diagnosticado com um linfoma angioimunoblástico de células T (AITL), um dos mais agressivos, explicou Eduardo Espada, hematologista do Hospital Santa Maria, à NiT. “É um subtipo de linfoma de células T periférico que tem uma aparência característica ao microscópio e sintomas clínicos únicos. É muito raro — representa cerca de 10 a 15 por cento de todos os linfomas de células T e apenas 1 a 3 por cento de todos os linfomas não-Hodgkin”, adianta o clínico. “Em Portugal são diagnosticadas cerca de 20 a 50 pessoas, no máximo, com esta doença”, acrescenta.

Após o diagnóstico, os pacientes são submetidos a uma terapêutica inicial, que inclui sessões de quimioterapia convencional. Nos casos em que estes tratamentos não funcionam os médicos acabam por apostar em terapias alternativas, indicadas para este tipo de linfoma. Chamam-se terapêuticas de resgate ou dirigidas e servem para modificar a informação genética das células tumorais.

“Estes tratamentos podem ajudar a controlar a doença e fazer com que o tumor entre em remissão, porém, desconhecem-se os efeitos a longo prazo. Por isso, fazem-se até haver uma progressão da doença, falência da terapêutica, ou por intolerância aos sintomas”, descreve o médico.

Será uma terapia preventiva deste género que Sam Neill estará a fazer. Apesar de não ter sido revelado exatamente em que consiste, os especialistas em oncologia admitem que o ator possa estar a tomar um fármaco experimental, no âmbito de algum ensaio clínico. Em entrevista ao “The Guardian”, o neo-zelandês revelou que estava em remissão há oito meses, mas que teria de tomar um novo medicamento para o resto da sua vida.

Este tipo de abordagem terapêutica a esta doença não é inédito, realça Eduardo Espada, “as terapias continuadas são métodos muito utilizados”. Isto porque este tipo de cancro tem poucas probabilidade de cura e, por isso, é muitas vezes considerado incurável. “Em média, apenas um terço dos dentes sobrevive nos cinco anos seguintes ao diagnóstico, e outros fazem tratamentos até ao fim da vida”, revela o hematologista.

Os sintomas da doença

Os linfomas desenvolvem-se a partir de um tumor no sistema linfático, que faz parte do nosso sistema imunitário — cuja principal função é combater infeções e outras doenças. “Manifestam-se maioritariamente nos gânglios linfáticos como adenopatias, podendo também afetar o baço, fígado, medula óssea e trato gastrointestinal”, detalha Eduardo Espada.

Este tipo de cancro ataca intensivamente o organismo. Os sintomas mais comuns incluem o aumento dos gânglios no pescoço, axilas e/ou virilhas —  um dos que se sabe que o ator teve —, febre alta, suores noturnos, cansaço extremo e perda de peso sem razão. “Podem ainda verificar-se, ainda que menos comum, lesões da pele com ou sem comichão, dor abdominal ou de cabeça, abdómen inchado ou sensação de enfartamento”, acrescenta o especialista em hematologia.

Em caso de sintomas, os médicos recomendam marcar uma consulta com alguma urgência, para que o diagnóstico seja o mais breve possível.

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