A busca incessante de Bryan Johnson, de 47 anos, pelo “elixir da juventude” leva-o a seguir uma disciplina rigorosa que envolve medicação, treino físico e suplementos. O multimilionário é o protagonista do documentário “O Homem Que Quer Viver Para Sempre”, que estreou a 1 de janeiro na Netflix.
Johnson partilha a sua rotina nas redes sociais, onde é assistido por uma equipa de dezenas de médicos e especialistas que monitorizam todos os parâmetros que o norte-americano analisa com grande minúcia. O seu investimento anual em medicação é colossal, atingindo quase dois milhões de euros. Agora após cinco anos de tratamento, Johnson decidiu por sua conta interromper a toma de um dos medicamentos, após descobrir que, ao invés de retardar o envelhecimento, poderia estar a acelerá-lo.
A rapamicina, um fármaco habitualmente prescrito a pacientes que se submeteram a transplantes de órgãos para inibir o sistema imunológico, é um dos componentes do seu regime. Embora tenha sido desenvolvido para este propósito, muitos cientistas acreditam que pode contribuir para retardar o envelhecimento e as doenças relacionadas com o avançar da idade.
“É um inibidor da via mTOR, que é um canal anabolizante responsável pela entrada de energia e multiplicação celular. Há um grande investimento neste suplemento no contexto da longevidade, mas só deve ser utilizado se houver alterações no estilo de vida”, explica Conceição Calhau, nutricionista e professora catedrática da Nova Medical School, à NiT.
Nos Estados Unidos, a rapamicina pode ser adquirida sem receita médica, uma vez que estudos demonstraram que está associada ao aumento da longevidade em ratos. Contudo, não tem aprovação da Food and Drug Administration (FDA) para o uso no combate ao envelhecimento. Johnson começou a utilizar este fármaco por recomendação de alguns dos médicos que o acompanham, administrando várias doses semanais na esperança de maximizar o rejuvenescimento enquanto minimizava os efeitos secundários.
“É promissor, mas não faz sentido utilizá-lo sem uma rotina de exercício e uma alimentação equilibrada. Além disso, todos os suplementos devem ser tomados com supervisão médica, em determinado contexto clínico. O foco deve estar na prevenção, e não no tratamento”, alerta a especialista em nutrição.
On September 28th, I decided to stop rapamycin, ending almost 5 years of experimentation with this molecule for its longevity potential.
I have tested various rapamycin protocols including weekly (5, 6, and 10 mg dose schedules), biweekly (13 mg) and alternating weekly (6/13mg)…
— Bryan Johnson /dd (@bryan_johnson) November 14, 2024
Recentemente, Johnson comunicou na rede social X que, apesar do grande potencial observado nos ensaios pré-clínicos, “a dosagem vitalícia de rapamicina não justifica os seus efeitos secundários, que incluem infeções da pele e dos tecidos moles, anomalias lipídicas, elevações dos níveis de glicose e aumento da frequência cardíaca em repouso”.
A decisão do multimilionário baseou-se em investigações que indicam que “o uso prolongado do medicamento perturba o metabolismo lipídico, induz intolerância à insulina e à glicose, e causa toxicidade nas células beta do pâncreas.” Johnson ainda salienta que a rapamicina poderia estar associada ao aceleramento do envelhecimento em 16 relógios epigenéticos (padrões utilizados para estimar a idade biológica) diferentes, exatamente o resultado contrário ao que pretende alcançar.
Segundo a Comissão Europeia, esta substância apresenta várias contraindicações, como reações de hipersensibilidade, neoplasias malignas (aumento da suscetibilidade a infeções e possibilidade de desenvolvimento de linfoma), diversos tipos de infeções, incluindo septicemia, e efeitos sistémicos que podem atrasar a cicatrização de feridas.
Johnson interrompeu a toma antes do lançamento do documentário, onde descreve o seu regime como “o protocolo de rapamicina mais agressivo da indústria”. “O Homem Que Quer Viver Para Sempre”, rapidamente se tornou a quinta produção mais vista na Netflix em Portugal. No filme, é retratada a dedicação extrema de Johnson ao seu objetivo, que inclui transfusões de plasma e tratamentos com gordura.
As suas experiências bizarras, no entanto, foram ainda mais longe; chegou a experimentar a utilização de sangue do seu filho adolescente, na esperança de que as características da juventude pudessem beneficiar a saúde do seu corpo mais envelhecido. Além disso, aventurou-se em tratamentos de choque para rejuvenescimento dos órgãos genitais, mas muitos desses procedimentos revelaram-se inviáveis e incertos, uma vez que os resultados não corresponderam às suas expectativas.
Leia também este artigo da NiT onde lhe contamos ao detalhe todos os métodos e hábitos que o multimilionário de 46 anos adota para “bater o recorde mundial de inversão de idade.”