Muitos estão preocupados com André Ventura, enquanto outros dizem que a hospitalização não passa de uma suposta encenação ao estilo de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Opiniões à parte, a verdade é que o líder do Chega voltou a ser o nome mais comentado da política portuguesa após se ter sentido mal na noite desta terça-feira, 13 de maio, durante um comício em Tavira.
Pouco depois de o vídeo do momento ter chegado às redes sociais, soube-se que o deputado de 42 anos tinha sofrido um espasmo esofágico. Embora alguns meios tenham referido ser um “refluxo gastroesofágico”, tal não se pode confirmar até então. “O espasmo esofágico pode ser provocado pelo refluxo, mas não só”, conta à NiT o gastroenterelogista Ricardo Veloso.
“Ao entrar em contacto com as paredes do esófago, o refluxo ácido do estômago cria uma resposta de contrair o esófago, o tal espasmo. Isso efetivamente dá origem a uma dor chamada dor torácica não cardíaca”, acrescenta o especialista. Pode ser muito semelhante a um enfarte, mas tem algumas características diferentes.
Não se sabe exatamente o que pode ter causado este episódio a André Ventura, visto que o deputado nunca revelou se sofre de refluxo. No entanto, Ricardo Veloso fala sobre alguns gatilhos que podem desencadear esta reação. “Nas pessoas sensíveis, a ingestão de bebidas muito quentes ou muito frias pode ser um fator”, explica.
A isto juntam-se a ingestão de alimentos muito condimentados e, também, a ansiedade. “Como político, está em situação de campanha e a fazer discursos. Embora já esteja habituado, pode haver sempre momentos de maior ansiedade. Tudo isto pode provocar a resposta neuromuscular, o que leva a que os músculos se contraiam.”
O gastroenterelogista adianta que esta não é “uma situação de perigo de vida ou que vá comprometer a saúde geral de André Ventura”. No entanto, “pode ser muito incomodativa” e muitos vão até aos serviços de urgência com medo de estarem a sofrer um enfarte quando, na verdade, estão apenas a lidar com um espasmo esofágico. “É uma dor intensa que pode durar entre minutos e horas, mas que também passa espontaneamente.”
Estes episódios podem acontecer a qualquer pessoa, mas também podem ser influenciados por doenças como a diabetes e a acalásia, que afeta o aparelho digestivo e a digestão. “É sempre difícil de prevenir porque, no fundo, está relacionado com as informações recebidas pelos nervos do esófago que fazem com os músculos do mesmo se contraiam”, realça. Quando se tornam frequentes, porém, há medicação para diminuir a periodicidade e intensidade dos sintomas.
Após o susto, André Ventura recebeu alta do Hospital de Faro na manhã desta quarta-feira, 14 de maio, com recomendação de repouso e vigilância — o que é o procedimento habitual. “A causa pode ter de ser estudada, mas como não é algo cardíaco, faz-se com o tempo e com exames que tentam compreender o motivo de isto ter acontecido”, refere o especialista.
A medicação é recomendada caso haja uma relação positiva com o refluxo. “Pode-se dar medicamentos para diminuir a produção de ácido no estômago, mas as principais dicas estão mais ligadas ao estilo de vida: não beber nada muito frio ou muito quente, ter menos stress e optar por comida menos condimentada.”