Saúde

Os sapatos barefoot para os miúdos estão na moda: será que valem o investimento?

Além do conforto de parecer que andamos descalços, permitem que os pés cresçam e se desenvolvam de forma mais natural.
Na infância, os pés estão numa fase importante de desenvolvimento

O que têm em comum lojas como a Pécoli, Little Step, Barebound ou Bunny Barefoot? Todas acompanham a mais recente tendência no que diz respeito aos sapatos para os mais novos — os modelos barefoot, ou seja, respeitadores da anatomia do pé. 

O conceito começa a dar os primeiros passos em Portugal e existem cada vez mais pares que permitem movimentos mais livres, acompanhando o desenvolvimento dos pés dos miúdos. Mas será que é assim tão importante apostar neste tipo de sapatos desde os primeiros anos de vida?

Miguel Vila Pouca, podologista da Andar Clinic, não tem dúvida de que valem o investimento e são uma mais-valia, em especial na infância. “Este é um calçado minimalista, que se destaca por uma sola fina, que varia entre 3 e 10 milímetros, e um design flexível, que permite que o pé se mova naturalmente em todas as direções, sem restrições.”

Além disso, tem um amplo espaço para os dedos e drop zero, que é o mesmo que dizer que “a inclinação entre o calcanhar e a ponta do pé é zero. Significa que não há elevação do calcanhar”. 

Apesar de também poderem ser usados por adultos, os benefícios para os mais novos são mais evidentes, pois, durante a infância, “os pés estão numa fase importante de desenvolvimento. O uso de sapatos barefoot permite que os pés cresçam e se desenvolvam de maneira mais natural, sem as limitações e restrições que o calçado tradicional pode impor. Isso pode originar uma formação mais saudável da estrutura musculoesquelética”, destaca.

Na infância, o desenvolvimento sensorial e motor também é importante e o calçado barefoot “aumenta a sensibilidade ao solo. Isso é essencial para o desenvolvimento da coordenação motora e equilíbrio nos miúdos”. 

Ainda assim, nota que nem todos podem beneficiar deste tipo de calçado. “É essencial garantir que os usam em ambientes seguros, onde não haja risco de lesões por objetos cortantes ou perigosos.”

Quais as diferenças face aos sapatos normais?

Para Miguel Vila Pouca, existem várias características distintivas entre os dois tipos de calçado, já que têm propósitos diferentes. “Enquanto os barefoot visam promover uma experiência de caminhar ou correr que imita o estar descalço, os modelos ‘normais’ procuram oferecer conforto e suporte imediatos, usando tecnologias modernas para melhorar a experiência de caminhada ou corrida.”

E enquanto os pares minimalistas apresentam “um design simplificado, com menos camadas e materiais, os convencionais tem uma construção mais complexa, com múltiplas camadas de materiais amortecedores, estabilizadores e de suporte”. 

Todos podem usar barefoot? 

Apesar de reconhecer que podem existir benefícios na utilização deste tipo de calçado, o podologista realça que não é indicado para todos os tipos de pés, nem para todas as pessoas. “Cada indivíduo tem características biomecânicas e necessidades específicas, que podem influenciar a adequação deste tipo de calçado. É importante fazer uma correta avaliação clínica por um profissional e, sobretudo, ter atenção durante a transição entre tipos de calçado.” 

A adaptação de quem utiliza modelos barefoot aos modelos convencionais pode variar de pessoa para pessoa. “A adaptação ao uso de sapatos comuns pode ser facilitada se a transição for feita de forma gradual”, explica.  

“Alternar entre os estilos pode ajudar o pé a readaptar-se. No entanto, algumas pessoas podem ter condições específicas, como pé chato ou outras patologias ortopédicas, que influenciam na sua capacidade de adaptação entre os tipos de calçado.”

Anomalias que os barefoot ajudam a resolver

No caso do pé plano (chato) “incentiva o fortalecimento dos músculos do pé e pode ajudar a melhorar o arco natural”, destaca. Além disso, também pode ajudar “na redistribuição da pressão nos pés, aliviando a dor nas cabeças dos metatarsos [ossos dos pés]”.

O design mais amplo e livre “pode ajudar a reduzir a pressão sobre os dedos, aliviando desconfortos associados a joanetes, e promover um melhor alinhamento do corpo e redução do impacto, ajudando na recuperação e prevenção de inflamações na fáscia plantar”.

Já a flexibilidade e espaço adicional dos sapatos barefoot podem auxiliar “na correção dos chamados ‘dedos em garra’, permitindo que os dedos se posicionem de forma mais natural”. E também podem ser úteis para os corredores, já que “fortalecem os músculos estabilizadores do pé e tornozelo, ajudando a evitar lesões de sobreuso”.

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