O produto começou por aparecer aqui e ali, nas stories do Instagram, normalmente por influenciadores de bronze invejável. Elaina pesquisou e percebeu que na sua maioria, promoviam um medicamento chamado Melanotan-2, que prometia potenciar a capacidade da pele escurecer e manter o bronzeado durante mais tempo.
A jovem britânica tinha duas opções: a versão injetável ou o spray nasal. Escolheu a segunda, mas assim que a usou, sentiu um forte ardor na face, que ficou avermelhada. “Disseram-me que o meu corpo tinha que se habituar”, explicou à BBC.
Uma semana depois, começou a sentir dificuldades respiratórias, ao ponto de ter que ser hospitalizada. Entre os médicos, não havia dúvidas: a culpa era do medicamento. Não foi a única a sofrer sequelas provocadas pelo tal medicamento milagroso promovido nas redes sociais.
Há um motivo pelo qual o Melanotan-2 é promovido e vendido através de influencers nas redes sociais. Sem quaisquer tipo de ensaios clínicos que garantam a sua segurança — e, portanto, sem a luz verde das autoridades que regulamentam o mercado dos medicamentos —, é para todos os efeitos ilegal.
O medicamento é uma replicação sintética da melanina, a hormona que potencia a pigmentação da pele e que ajuda a conquistar o bronzeado perfeito. É isso que promete o Melanotan, mas prometer é muito diferente de cumprir.
Nos hospitais, os médicos britânicos têm assistido a vários casos semelhantes ao de Elaina, quase todos associados à toma do medicamento, que também tem provocado outras condições como lesões na pele, infeções fúngicas e abcessos. Alguns casos são ainda mais dramáticos.
Ao contrário de Elaina, Liv optou pela versão injetável. Tinha apenas que ir injetando o medicamento no estômago durante dois meses, à medida que se ia bronzeando no solário. Sentiu imediatamente um efeito secundário, fortes dores de cabeça, mas que sentia que valiam a pena se o resultado final fosse o bronze invejável que via no Instagram.
Oito meses depois, reparou num pequeno estranho sinal na coxa. “Era negro e sobressaía, tinha o tamanho de uma ervilha. Não era habitual eu ter sinais e por isso percebi que algo não estava certo”, recorda.
Foi ao hospital e o diagnóstico foi assustador. Era um melanoma, um cancro da pele, felizmente apanhado numa fase inicial. Teve que se sujeitar a uma cirurgia para remover o tecido da região afetada. De acordo com o seu dermatologista, a causa do surgimento da doença terão sido as injeções de Melanotan.
A sua venda nas farmácias e noutro tipo de lojas é ilegal e, por isso, o medicamento foi ganhando espaço no mercado negro. Por vezes era vendida abertamente em ginásios e solários. Na Internet, é promovida por influenciadores, pagos por marcas para promoverem o produto.
“Temos provas de que estes produtos são potencialmente perigosos e podem conduzir ao surgimento de cancro”, explica Catherine Borysiewicz à BBC, médica da Associação Britânica de Dermatologistas. “Existem casos comprovados de surgimento de melanomas depois do seu uso.”
Este medicamento específico é vendido por várias marcas. Muitas vezes, os influenciadores nem sequer os testam antes de os promoverem. A BBC teve acesso a vários destes kits de “bronzeado acelerado” e entregou-os parem analisados quanto aos seus componentes. Muitos continham o dito melanotan-2, mas escondiam muitos mais ingredientes que não surgiam na embalagem — em alguns casos mais de 100 componentes num só produto.
“Se não se sabe o que se está a tomar, provavelmente devemos evitá-lo”, explica Tony Cass, investigador do Imperial College em Londres. “[Usar isto] é mais como usar uma metralhadora do que uma pistola”, compara.