Nos últimos anos, o colagénio parece estar em todo o lado. Com a promessa de ajudar a reafirmar a pele e suavizar os sinais de envelhecimento, entra na composição de inúmeros produtos de beleza (dos cremes aos champôs) e ainda mais suplementos alimentares (sob a forma de cápsulas ou pó).
A oferta é vasta — e a quantidade de pessoas que louvam os efeitos destes produtos nas redes sociais também. Porém, apesar da sua popularidade, não existem assim tantos benefícios na utilização de cremes ou cápsulas que indiquem ter esta substância na sua composição.
“O colagénio é uma proteína encontrada naturalmente nos tecidos corporais, que contribui para a resistência e elasticidade da pele, para a saúde dos cabelos e unhas, ossos, articulações e tendões”, começa por explicar Ana Silva Guerra, cirurgiã plástica, à NiT. Estas propriedades tão específicas levam muitos a pensar que a ingestão de suplementos de colagénio ajuda a aumentar a sua quantidade no organismo e multiplicar o seu efeito. Mas não é bem assim que funciona.
“A molécula do colagénio é tão grande que o intestino não a consegue absorver na totalidade”, revela a especialista em cirurgia plástica. E continua: “Para isso acontecer, terá de estar dividido em partículas muito pequenas. Ou seja, é necessário que a molécula esteja bem hidrolisada. Caso contrário, não vamos conseguir que ultrapasse a barreira intestinal nem que passe para a corrente sanguínea.”
O que acontece é que a maioria dos suplementos à venda no mercado, não têm a hidrolisação necessária para que o colagénio seja absorvido pelo organismo. “Isto significa que aquilo que ingerimos, acabamos por deitar fora, sem qualquer benefício.”
Uma questão de marketing?
Ana Silva Guerra admite que, mesmo que seja absorvido, o colagénio “não tem um GPS” para o guiar. “Não podemos esperar que vá diretamente para a pele, para as unhas ou para o cabelo. Irá distribuir-se um pouco por todo o organismo. E apenas poderá chegar à pele uma ínfima percentagem.”
A especialista realça que podemos fazer uma suplementação com colagénio, moderando as expectativas relativamente ao efeito da mesma. “Não vamos ficar com uma pele nova, sem rugas. Sendo absorvido, fará bem a tudo. É escusado gastar fortunas à espera de um resultado milagroso.”
O mesmo acontece com os produtos para o cuidado de pele. Muitos cosméticos têm este ingrediente na composição, e alguns afirmam que são “aliados da juventude”. Contudo, o problema é o mesmo: as moléculas são simplesmente demasiado grandes para serem absorvidas pela pele. Ou seja, não têm efeito algum, na reprodução do colagénio nos tecidos profundos. “Mais vale fazer tratamentos para estimular a produção da proteína diretamente nas células”, avança a cirurgiã estética.
A popularidade do colagénio é bem maior do que os seus supostos benefícios. Isto não significa que não seja importante para a renovação celular, — pelo contrário —, mas a verdade é que a esmagadora maioria dos produtos não conseguem replicar o colagénio produzido pelo organismo. “Não digo que não exista alguma absorção, mas há muito marketing à volta desta substância — e, muitas vezes, o efeito não vale o investimento”, realça a cirurgiã.
Uma boa dieta, praticar exercício físico, não fumar e manter uma boa hidratação diária são muito mais importantes para ajudar o nosso corpo a manter a produção de colagénio, que diminui ao longo dos anos. E, se o objetivo é atenuar os sinais da passagem do tempo, a cirurgiã plástica deixa uma recomendação: “Para uma pele com menos sinais de envelhecimento, o protetor solar é fundamental”.