Um estudo da Universidade Estadual do Michigan acredita que bactérias no intestino podem ajudar-nos a entender melhor a resposta dos bebés ao medo. A curiosa experiência foi publicada a 2 de junho na revista “Nature” e pode dar pistas para antecipar alterações emocionais muitos anos depois.
O estudo focou-se no microbioma, a soma de microorganismos nos tecidos e fluidos humanos. A ideia era perceber se um desequilíbrio no microbioma intestinal permitiria identificar diferenças.
Ao todo, 34 bebés participaram no estudo que envolveu diferentes experiências em que um homem, com uma máscara de Halloween, entrava numa sala. “Tivemos cuidado para que, no geral, fosse uma experiência agradável para as crianças e os pais”, explica, citada pelo “Science Daily”, Rebecca Knickmeyer, pediatra e neurocientista que é uma das autoras do estudo.
Amostras das fezes dos bebé, recolhidas com um mês de vida e depois com um ano de idade, foram analisadas para perceber se havia alguma relação entre a composição do microbioma intestinal e os níveis de medo demonstrados.
Todos os bebés estavam amamentados, e sem tomar nenhum antibiótico nos momentos da experiência, com os pais por perto caso fosse necessário intervenção. Sempre que o homem mascarado entrava, analisavam-se as diferentes respostas motoras e emocionais das crianças, além das posteriores análises às fezes.
Os resultados sugerem que as crianças que têm maior número de bactérias Veillonella, Dialister, Bifidobacterium, Lactobacillus apresentaram, em média, reações de medo mais intensas do que bebés em que o microbioma se encontrava mais equilibrado.
“Os nossos resultados sugerem que o microbioma intestinal infantil pode contribuir para o desenvolvimento da reação ao medo”, destacou Rebecca Knickmeyer. A pediatra explica que “as reações de medo são parte normal do desenvolvimento das crianças”. Mas os tipos de resposta podem indicar outros problemas.
As diferentes máscaras de Halloween usadas no estudo eram importantes porque a presença de estranhos cairia num âmbito social. Já a máscara seria visto não como algo social, o que facilitaria maiores reações.
Bebés com reações mais exacerbadas de medo, e que parecem não o conseguir aliviar quando estão num contexto seguro, podem “correr um risco maior de desenvolver ansiedade ou depressão quando forem mais velhas”, destacou. Por outro lado, no espectro oposto, crianças com respostas praticamente nulas ao medo, sem reações emocionais, podem antecipar comportamentos antissociais em fases posteriores ed desenvolvimento.