Saúde

Portugueses estão a criar medicamento contra as metástases do cancro da mama no cérebro

O cancro da mama triplo afeta 13 em cada 100 mil mulheres e 15 por cento dos casos desenvolvem células cancerígenas na cabeça.
Mais um passo importante.

O cancro da mama é a doença oncológica mais frequente entre as mulheres portuguesas. “Muitas vezes, esta patologia acaba por se espalhar para o cérebro e o tumor torna-se muito difícil de tratar, devido à dificuldade de encontrar medicamentos que consigam alcançar este órgão“, explica à NiT Miguel Castanho, e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. 

O investigador do Instituto Molecular João Lobo Antunes (iMM) faz parte de uma equipa, que em conjunto com colegas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, estão a criar um medicamento que permite combater metáteses no cérebro de pacientes com cancro da mama triplo negativo. Um sinal positivo para a medicina e para a luta contra aquela que é uma das doenças mais temidas e também mais comuns no País.

Infelizmente esta patologia específica ainda não tem respostas terapêuticas razoáveis. E é nesse sentido que surge o projeto “Protecting the brain from metastatic breast cancer”.

O responsável pela investigação adianta que “o intuito é desenvolver um medicamento, inspirado nos próprios anticorpos do nosso corpo, mas capaz de chegar ao cérebro e matar as células de metástases de cancro de mama aí instaladas”.

As metástases, por definição, são tumores secundários que se formam a partir de tumores primários com origem num órgão diferente. “As metástases cerebrais são a principal causa de morbilidade e mortalidade associada ao cancro”, sublinha Miguel Castanho.

A grande dificuldade de tratamento está em conseguir veicular uma medicação até ao cérebro. Como explica à NiT o investigador “este órgão, além de muito complexo, está muito bem protegido. Só permite a entrada de certas moléculas através da corrente sanguínea”. Por isso, o objetivo foi criar uma estrutura molecular que o cérebro identificasse e permitisse a sua entrada.

“O professor João Gonçalves do grupo da faculdade de Farmácia já estava a desenvolver um composto que ajudasse no tratamento do cancro de mama triplo negativo”, conta o responsável pelo projeto. “As pacientes com este subtipo de cancro têm 15 por cento de probabilidade de desenvolver tumores no cérebro e não há tratamento específico. Como já tínhamos experiência na área de criar moléculas que consigam chegar efetivamente ao cérebro, unirmos esforços com a equipa do professor João para criar um medicamento que ajudasse no tratamento destas metástases, que até ao momento não existe”.

Ao juntar o anticorpo desenvolvido para travar o cancro de mama triplo negativo, aos compostos que conseguem chegar ao cérebro “não só conseguimos tratar o tumor em si, como conseguimos colocar a molécula no cérebro para atacar as metástases”. 

O estudo, que agora conta com financiamento, vai avançar brevemente para a fase de testes em animais, onde contam com a ajuda de duas equipas espanholas, uma para criar um modelo animal e outra especialista em técnicas “in vito” (ao vivo), para analisar o comportamento do medicamento. Nesta fase serão utilizados ratos. O passo seguinte é passar para a testagem em humanos. 

Em relação ao método, e apesar de ainda ser muito cedo para avançar como será administrado o fármaco, “está tudo preparado para que seja medicação injetável” e acessível a todos os pacientes que dela precisarem.

“Para a medicina esperamos que seja mais um avanço, não só porque é uma solução para um determinado problema que ainda não tem um solução específica, como também pode ser considerado uma estratégia e um conceito que depois pode ser aplicado noutras doenças e tipos de cancro”, resume Miguel Castanho.

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