A pandemia veio mudar completamente a nossa vida, mas cada um reagiu à chegada do novo coronavírus da sua maneira. Raquel Torres, de 25 anos, lidou com a situação de forma “bastante tranquila”, mas “sempre com medo de ficar infetada”. O seu maior receio tornou-se realidade há apenas dois dias, no domingo, 18 de outubro. E confessa à NiT que não foi fácil lidar com a notícia.
“Nunca tinha falado com pessoas que tivessem passado pela infeção, nem tão pouco conhecia alguém nessa situação. Agora que me calhou a mim, tenho procurado testemunhos, mas não existem. Apenas alguns vídeos brasileiros no YouTube. O mais frustrante é o medo do desconhecido. E pensamos que é sempre aos outros que acontece, mas não é”, desabafa.
Raquel, que é diretora de marketing numa agência imobiliária, ia três vezes por semana ao local de trabalho e trabalhava os restantes dias em casa. Fora isso, saía apenas para as necessidades básicas, como ir ao supermercado.
“Nunca estive em jantares ou almoços com muita gente, só com a minha família e éramos poucos. E nunca lhes dava beijos, nem nada. Além disso, cumpria sempre todas as recomendações: distanciamento, utilização de máscara e desinfetar as mãos constantemente. Mas não foi suficiente”, continua.
A gestora de redes sociais do Barreiro acredita ter sido contagiada através de um amigo com quem o namorado esteve. Na altura, o tal amigo estava com dores de garganta, “mas mais nada que fizesse crer que pudesse ser Covid-19”. Ainda assim, “estiveram sempre de máscara posta”.
O amigo do casal testou positivo para a doença, sendo que tiveram conhecimento disso apenas seis dias depois. Foi também nesse dia, 12 de outubro, que ambos começaram a sentir sintomas suspeitos: fortes dores de cabeça, no caso de Raquel; e dores nas costas, nos dois.
“O meu namorado ligou para a Saúde 24 e recomendaram que ficasse em casa. No meu caso, como não tinha tido grande contacto com ele, podia sair para ir trabalhar e fazer necessidades básicas. No entanto, como já tinha sintomas, decidi ficar em casa também — e ainda bem”, conta à NiT.
Passados apenas dois dias, os primeiros sintomas desapareceram. Estávamos a 16 de outubro quando se manifestaram outros: tosse, falta de paladar e de olfato. Foi nesse dia que Raquel fez o teste à Covid-19. O resultado chegou cerca de 48 horas depois, durante a madrugada de domingo, e era aquilo que temia: estava mesmo infetada.
Até lá, o nível de ansiedade foi tão grande que decidiu ligar duas vezes para a linha de apoio psicológico do SNS 24. “Sempre sofri de ansiedade. Ainda nem tinha a doença e já estava a sofrer com isso. Liguei para me acalmarem porque foi realmente stressante. O meu namorado ia tendo sintomas e eu tinha-os um pouco depois. Era assustador.”
A fazer a recuperação juntamente com o namorado Tiago, confessa que até as mais básicas tarefas são um desafio: “Estava a arrumar a louça e fiquei logo cansada. Ainda ontem fui lavar e secar o cabelo e os braços ficaram logo pesados, e tive de me deitar. O cansaço é muito grande.”
Agora, confessa, está menos ansiosa. Não está a ser medicada, apenas tem indicação para tomar Paracetamol em caso de dores fortes, e o acompanhamento por parte dos profissionais de saúde tem sido diário, o que também a tranquiliza. “Ainda hoje veio uma enfermeira cá a casa para ver como estávamos”.
O apelo a todos os portugueses e as redes sociais
Raquel Torres pensou bastante antes de fazê-lo, mas decidiu partilhar na sua conta de Instagram, onde é seguida por mais de cinco mil pessoas, que estava infetada. Fê-lo poucas horas após ter conhecimento do resultado do teste e não se arrepende.
“Tive muito feedback. Pessoas a desejarem as melhoras, a perguntar se precisava que levassem alguma coisa cá a casa. Houve muita solidariedade — e estou grata por isso. Quis fazer aquilo que não tive quando procurei: explicar como é passar por isto, o que sinto. Eu queria encontrar alguém que me respondesse a isso e que me dissesse como está a passar o tempo em isolamento, por exemplo.”
O apelo que tem feito nas suas redes sociais, e que deixa também à NiT, é que não se deve nunca ignorar os cuidados básicos: distanciamento social, usar máscara, desinfetar as mãos e ter cautela até nos encontros com a família. Além disso, Raquel pede que não se entre em pânico. Ainda assim, faz questão de relembrar que “isto é real”.
“Pode calhar a qualquer um, é completamente imprevisível e nunca pensei calhar-me a mim. Tinha mesmo todos os cuidados e depois percebo que é tão fácil espalhar-se e que a dimensão que isto tem é enorme. Protejam-se.”