Saúde

Renascer depois do cancro: Luciana venceu um tumor muito raro que lhe deformou a cara

A comunicadora começou por ser diagnosticada com um abcesso. Mais tarde descobriram que se tratava de um tipo de osteossarcoma .
A Luciana acredita que renasceu.

Aos 39 anos Luciana Mendes descobriu um ligeiro inchaço na gengiva. Decidiu marcar uma consulta com um dentista, que a diagnosticou com um abcesso. Algo muito comum. No entanto, depois de vários antibióticos e fármacos, nunca passou. Seguiram-se cirurgias para tentar remover o mesmo e uma frustração por não conseguirem perceber o que era.

Estávamos em março de 2020, ou seja, o mesmo momento que marca a chegada da pandemia Covid-19 ao País. As portas começavam a fechar-se e Luciana a desesperar sem saber o que tinha na boca. Entretanto cruzou-se com uma dentista que tinha estagiado no IPO e percebeu que havia ali mais alguma coisa. Decidiu enviar uma amostra do tecido para ser analisado e alertou a jovem natural do Porto que poderia ser um tumor. “Só aí é que comecei a ficar mesmo alarmada”, conta à NiT a criadora de conteúdos.

A resposta tardou, mas veio. Em maio Luciana recebeu a notícia que lhe tirou o chão. Em vez de um simples abcesso, tinha um tumor maligno na mandíbula, um chamado osteossarcoma. Um dos cancros mais raros que existem, que atinge os ossos.

“Comecei logo a perguntar-me porquê eu, o que fiz de errado. Mas isso não é assim. É um jackpot”. Mas ao início Luciana não compreendia dessa forma e os primeiros dias foram muito difíceis. “Passei os dias a chorar, inconsolável e com medo. O meu namorado e uma amiga que veio do Porto para a nossa casa em Lisboa é que me ajudaram a reerguer”.

A estratégia para sobreviver

Passados estes primeiros dias, Luciana mudou de atitude. Começou a pesquisar pelo nome do tumor para perceber como é que ai definir a sua estratégia de sobrevivência. “Li imensos estudos e não desisti até encontrar alguém com o meu problema”. Não foi fácil, mas encontrou: “primeiro foi uma modelo. Li uma entrevista dela na revista “The Vice”. Depois encontrei outra mulher britânica e contactei ambas pelo Instagram para perceber que tratamentos tinham feitos e para me contarem mais sobre as suas experiências”. Todas passaram por um processo diferente, mas havia algo em comum: “nenhuma tinha feito radioterapia, porque todos os médicos diziam que não seria eficaz neste tipo de cancro”, refere Luciana. Este conhecimento foi determinante na decisão da doente. “Quando me apresentaram o plano de tratamentos, a médica sugeria a quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Eu recusei este último, deixando a especialista em oncologia muito admirada. Mas acabou por concordar”.

Luciana nunca parou de pesquisar mais sobre o seu tumor. “Não sou médica, mas o corpo é meu e queria perceber aquilo que me podia acontecer”. Depois de vários meses a analisarem as hipóteses, quando o diagnóstico chegou o tumor tinha crescido e por isso a cirurgia não podia ser adiada. “Retiram o tumor e tiveram também de cortar osso ao qual este estava agarrado. No mesmo momento recolocaram carne e osso da minha perna na minha mandíbula”. Foram mais de 14 horas de operação, quando acordou não consiga nem andar, nem falar. “Tinha cicatrizes em sítios que nem sabia que podia ter. Foi duro. Sentia-me um bocadinho Shrek. A minha cara estava muito inchada”. No entanto nunca teve medo se olhar ao espelho e encarar a sua nova imagem. “Todos os dias após a operação tirava uma fotografia à minha cara, logo de manhã, para registar a minha evolução”.

O pior veio a seguir. Os tratamentos de quimioterapia foram devastadores. “Fiz as doses mais fortes deste tratamento para aniquilar de vez este tumor, até porque como é um tipo de cancro pouco estudado, não sabiam muito bem como é que este iria reagir. Então preferiram prevenir”.

Luciana reagiu muito mal aos tratamentos. “O meu corpo foi se muito abaixo. Enjooei muito e não conseguia comer”. A isto ainda juntou mais uma mudança radical na sua vida: “tornei-me vegan, numa tentativa de oferecer o melhor ao meu corpo e cortei muita coisa, que agora penso que talvez tenha sido um erro”. Esta alteração foi tão radical que Luciana não tinha força para enfrentar os tratamentos e tinha de ser internada.

“Desistir nunca foi opção”

Durante este processo o que mais lhe custou foi o medo que via nos olhos dos seus familiares e amigos. “Eles tinham sempre muito medo que eu morresse. Isso custava-me”. Mas conseguiu sobreviver. Em dezembro de 2020 terminou os tratamentos e em março já fazia oito quilómetros a caminhar.

Porém, nessa altura percebeu que tinha uma infeção na boca. Mas no meio de uma pandemia e vários confinamentos, só conseguiu agendar a cirurgia para o final do ano de 2021. A operação não correu bem e Luciana deparou-se com uma nova imagem ao espelho .“Durante o procedimento retiraram-me um pouco do osso que em tinham colocado anteriormente. Como tiveram de me retirar dentes, e agora osso, a minha cara foi como afundasse”. Perdeu suporte e projeção e isto não só mexeu com a auto-estima da criadora de conteúdos de 41 anos, como ainda lhe adiou o passo que tanto ansiava de colocar implantes.

O especialista em medicina dentária que vai tratar desta parte, explicou-lhe, em consulta, que teria de fazer uma cirurgia de reconstrução, antes de avançarem. Luciana não tardou em procurar os melhores profissionais da área para a ajudarem e neste momento já fez a primeira operação. “Ainda é um primeiro passo e eu já me sinto muito feliz. Já me sinto mas Luciana. Apesar de saber que nunca mais vou ser a mesma. Este cancro ensinou-me muito”.

Neste momento Luciana Mendes encontra-se em remissão, mas o capítulo mais difícil da sua vida ainda não está fechado. Porém, os braços nunca baixam. “Desistir nunca será uma opção”. Esta é a mensagem que gosta de passar nas suas redes sociais onde partilha todo o processo de uma sobrevivente de cancro.

Carregue na galeria para ver algumas imagens de Luciana ao longo do processo.

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