Saúde

Resumo para os marcianos: como foi um ano de Covid-19 em Portugal

Em março de 2020 foi detetado o primeiro caso da doença no País. Foram 12 meses de vitórias e derrotas com mais de 800 mil infetados.

2020 chegava como chegam quase todos os novos anos: cheio de esperança de que seja sempre melhor do que o anterior. E assim foi durante as primeiras semanas, enquanto as notícias vindas do outro lado do mundo, sobre “uma estranha forma de penumonia”, não passavam de ruído de fundo na euforia de um ano renovado.

Poucos eram os que já tinham sequer ouvido falar na cidade chinesa de Wuhan, onde se concentravam a maioria dos casos desta doença que provocava febres altas, infeções respiratórias e lesões pulmonares. O desconhecimento era geral: em Portugal, na União Europeia, nos Estados Unidos ou mesmo no alegado país de origem.

Apanhada à margem de uma visita ao Centro de Contacto do Serviço Nacional de Saúde, a diretora-geral da Saúde foi questionada pelos jornalistas, naquela que seria a primeira intervenção pública de Graça Freitas sobre a crise. “Não é um coronavírus, não é um vírus da gripe, não é um vírus da gripe aviária, não é um adenovírus e, portanto, será um agente etiológico que ainda não foi pesquisado. Novo ou não, são sabemos”, respondeu.

A máxima era a de preservar tanto quanto possível a tranquilidade. Sem mais informações, Graça Freitas arriscou uma previsão. “A boa notícia é que nada indica que haja transmissão pessoa a pessoa”, disse, antes de explicar que se tratava de um surto “localizado no espaço e no tempo, ligado a uma fonte infecciosa provavelmente de origem alimentar (…) A tranquilidade para o resto do mundo, e para não haver medidas, é não haver contágio entre pessoas”, concluiu.

Entretanto, na China, o pânico instalava-se e as previsões da DGS caíam em poucos dias. A 14 de janeiro, a OMS revelava que as primeiras análises apontavam para a possibilidade de contágio entre humanos — e revelava estar a preparar-se para a “hipótese de contágios em massa”.

Por cá, a regra era a da relativização do problema. “Os dados preliminares não revelam evidência de transmissão pessoa a pessoa”, transmitia a DGS em comunicado, com base em declarações de alguns médicos chineses que não confirmavam o contágio entre humanos, mas também não o descartavam. No dia seguinte ao alerta da OMS, a diretora-geral da Saúde vinha a público pedir calma.

A 21 de janeiro, as autoridades chinesas confirmavam o que a OMS já suspeitava — e a DGS teimava em negar. O novo coronavírus era transmissível entre humanos e os casos detetados não estavam apenas circunscritos à cidade de Wuhan. Em Portugal, as autoridades preparavam-se para a inevitável chegada da doença e procuravam despistar os primeiros casos suspeitos.

Depois de um mês de suspeitas que nunca se confirmaram, o vírus chegava oficialmente a Portugal, que foi um dos últimos países europeus a serem afetados. O infetado era um médico de 60 anos que tinha passado pelo norte de Itália, o grande foco da Covid-19 na primeira vaga.

A inevitabilidade gerou desconforto e muitos apontaram críticas, sobretudo a Graça Freitas, pela forma como menorizou o problema da pandemia — as mais veementes chegaram de André Ventura, do Chega. Sobre o tema, o primeiro-ministro decidiu encerrá-lo de vez, sobretudo numa altura em que o País se preparava para uma dura batalha de saúde pública.

O medo levou os portugueses a uma corrida às máscaras, mais ou menos eficazes, valia tudo para tentar escapar ao contágio — isto apesar das autoridades de saúde relativizarem a sua eficácia. Logo em fevereiro, Maria Neira, da OMS; declarou que o esgotar de máscaras e desinfetantes nas farmácias era “irracional e desproporcionado”. Mais tarde, Michael Ryan, diretor do programa de emergências sanitárias da organização, manifestava-se contra o uso das máscaras: “Não há provas de que o uso de máscara pela população traga benefícios”.

Lentamente, o número de infetados em Portugal começou a subir. Com a subida, chegaram também as primeiras medidas: a suspensão de visitas a hospitais e a lares, bem como nas prisões. No Norte, onde se registava o maior foco, algumas escolas começaram também a suspender as aulas. Dá-se início ao teletrabalho na função pública e uma petição exigia o encerramento imediato de todas as escolas.

O governo haveria de ceder e ordenar o fecho dos estabelecimentos de ensino até à Páscoa. Infelizmente, na mesma altura dava-se início à contagem de uma nova estatística, a dos mortos.

De Itália, o país mais afetado pela pandemia, chegavam imagens assustadoras. Hospitais com lotação mais do que esgotada, com corredores à pinha de pacientes em estado crítico, ligados a ventiladores — nos bastidores, médicos decidiam quem recebia ou não tratamento, quem vivia e quem morria.

O impacto dessas imagens foi visível em Portugal, onde a população, assustada, pedia ao governo que encerrasse tudo, de fronteiras terrestres a aeroportos, para tentar travar a invasão do vírus. Nas televisões, os telejornais procuravam consciencializar os portugueses e os pivôs transformaram-se numa espécie de pais conselheiros. Os monólogos de abertura de Rodrigo Guedes de Carvalho, no jornal da noite da SIC, tornaram-se célebres.

 

Uma situação excecional só poderia ser combatida por outra medida excecional, neste caso inédita na democracia portuguesa. Desde 25 de novembro de 1975 que Portugal não entrava num estado de emergência. O decreto dava plenos poderes ao governo para controlar a circulação da população, de forma a interromper os contágios de Covid-19.

Apesar da nova lista de poderes, o cumprimento da população foi exemplar. “As restrições à circulação têm sido cumpridas pelos portugueses e as forças de segurança têm dito que não têm necessidade, para já, de haver qualquer reforço dos seus poderes de autoridade”, disse o primeiro-ministro.

As ruas ficam vazias durante o primeiro confinamento

Tal como havia acontecido desde o início da pandemia, a Direção-Geral da Saúde e o governo, mantiveram-se sempre fiéis às orientações da OMS. E nada mudou no que envolvia o tema das máscaras.

 

Esgotadas em quase todas as farmácias e lojas, a verdade é que os portugueses continuaram a ignorar os apelos das autoridades nacionais, que pediam que estas fossem usadas apenas por infetados, profissionais de saúde ou prestadores de cuidados a infetados.

À revelia dos conselhos da OMS, alguns países começaram a decretar o uso obrigatório de máscaras em espaços fechados. Uma posição mais flexível das autoridades nacionais só chegaria um mês depois da deteção do primeiro caso oficial de Covid-19 no território português.

A viver uma situação inédita de confinamento, os portugueses prepararam-se para enfrentar o primeiro grande desafio: uma Páscoa cancelada. Ou assim deveria ter sido. A verdade é que, pelo País fora, foram muitos os exemplos de portugueses que teimaram em cumprir as tradições.

Foi o caso então célebre de dezenas de pessoas que, em Barcelos, quiseram sair à rua para acompanhar o compasso e beijarem, uma a uma, a cruz. Cruz essa que era limpa com um pano a cada beijo. Um comportamento que violou todas as normas de saúde e higiene pública — e que levou a GNR a identificar alguns dos organizadores do evento religioso.

 

Apesar da renovação do Estado de Emergência, os números da Covid-19 em Portugal eram particularmente simpáticos, sobretudo quando comparados com o caos em que estavam mergulhados alguns países europeus, Itália e bem mais perto, Espanha.

O caso de aparente sucesso de Portugal levou a que muitos meios de comunicação estrangeiros procurassem perceber o que fizeram as autoridades de diferente — e como é que dois países na mesma península poderiam viver experiências tão radicalmente diferentes. Falou-se mesmo num “milagre português”, expressão que inspirou o Presidente da República.

Com uma nação confinada às suas casas, sob fortes e duras medidas de isolamento, os eventos públicos e políticos ficaram sob fogo. As muito criticadas comemorações oficiais do 25 de abril foram repensadas, apesar de terem avançado em moldes significativamente diferentes de anos anteriores.

Ainda assim, foram várias as figuras que se reuniram na Assembleia da República, sem máscara: um facto que não passou em branco, mas que a diretora-geral da saúde quis rebater.

Um mês depois da intransigência no assunto das máscaras, Graça Freitas e Marta Temido — as duas principais caras da luta contra a Covid-19 — viriam a público dar um passo atrás e admitir a existência de benefícios no uso generalizado. Tudo isto à boleia do decreto do governo, que viria a decretar a obrigatoriedade do uso de máscaras comunitárias nos transportes públicos, escolas, comércio e locais fechados.

Entretanto, com os números de novos infetados diários a descrescer, adivinhava-se que o pico da primeira vaga já teria ficado para trás. Era altura do governo começar a debater o plano para o desconfinamento e para a reabertura gradual do País.

Apesar do regresso de uma certa normalidade, o primeiro-ministro sublinhava que a ameaça persistia. E deixava a ameaça aos portugueses que incorressem em comportamentos de risco assim que as barreiras se levantassem: o governo estaria disposto a voltar a impôr medidas mais duras.

Já com mil óbitos registados, os eventos públicos (e sobretudo políticos) voltaram aos temas do dia. No 1 de maio, Dia do Trabalhador, centenas de pessoas reuniram-se em Lisboa para marcar a data, um evento que apesar de ter observado o distanciamento social exigido, deu origem a muitas críticas. 

Centenas juntaram-se na Alameda para celebrar o Dia do Trabalhador

Ao fim de 45 dias de Estado de Emergência, renovado por três períodos, Portugal finalmente desconfinou — e os negócios puderam abrir novamente as portas. E apesar da seriedade da pandemia, havia ainda espaço para alguns momentos zen.

Um deles foi protagonizado por Graça Freitas, que na tentativa de dar o exemplo aos portugueses — para que cumprissem todos os cuidados de desinfeção —, deu aos espectadores de uma das muitas conferências de imprensa uma verdadeira epopeia de dois minutos. Uma batalha entre a diretora-geral da Saúde, uma garrafa de água e um lenço.

Questionada sobre este e outros momentos em que foi apanhada a infringir algumas das regras dadas aos cidadãos pela DGS, foi honesta: “Risco zero não há, gente perfeita também não. Se eu cometo erros, o cidadão normal vai cometer mais. Não é criticar, é uma constatação.”

 

O desconfinamento não trouxe de volta a normalidade. Eventos públicos que habitualmente aglomeravam multidões continuavam proibidos e davam origem a imagens inéditas. Foi o caso do 13 de maio no Santuário de Fátima, habitualmente à pinha e iluminado pelas velas, ficou quase às escuras. A cerimónia, essa aconteceu como estava previsto, só que sem fiéis.

Fátima comemorou o 13 de maio com o Santuário completamente vazio

A chegada do verão e do calor trouxeram uma redução do número de infetados e de mortos. No dia em que ninguém morreu vítima de Covid-19, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, emocionou-se durante a conferência de imprensa de divulgação do boletim diário. “São muitos meses a anunciar óbitos”, referiu.

Entretanto, das farmacêuticas chegavam boas notícias: os ensaios clínicos das vacinas avançavam a um bom ritmo e os resultados eram promissores. Começava a corrida às vacinas, com reservas de milhões de doses feitas, sobretudo, pelos países mais poderosos.

Não se sabia, ainda, se o clima poderia ter um impacto decisivo na disseminação da doença. Pelo sim, pelo não, o governo instaurou regras rígidas para as idas à praia, com limites de capacidade para que o distanciamento social pudesse ser observado.

Foi um verão atípico, mas um cenário o mais próximo da normalidade que se viveria durante todo o bizarro 2020.

Foi um verão sem grandes restrições — e o cenário mais normal vivido em 2020

O otimismo era palpável. Portugal tinha ultrapassado a primeira vaga com um estrondoso sucesso e apesar dos avisos constantes, havia um sentimento de alívio. Perante a possibilidade de uma segunda vaga — temida por alturas do início do outono —, as autoridades mostravam-se seguras e, acima de tudo, preparadas.

Naquela que foi uma das discussões mais acesas do verão, a realização da Festa do Avante avançou mesmo, apesar das críticas à autorização dada pelas autoridades de Saúde — isto num ano em que praticamente todos os eventos e/ou festivais foram cancelados por risco de contágio. A festa deu origem a uma batalha com uma frente política e outra social. No final, o PCP fez mesmo a festa. O desastre e o surto que se previa, também não aconteceu.

Depois de muita polémica, a Festa do Avante aconteceu mesmo

As últimas semanas de verão viveram-se numa espécie de paz aparente, apesar de uma ligeira subida nos números de infetados. Viveu-se também o surgimento de movimentos negacionistas, que apontavam críticas às autoridades.

No Parlamento, a DGS era questionada sobre eventuais falhas nos relatórios e erros no número de infetados e de vítimas mortais.

Foi um duro acordar. O final do verão trouxe uma avalanche de casos que começava a ameaçar ultrapassar os que haviam sido vividos na primeira vaga. O brutal impacto económico que o confinamento implicou deixava renitente o governo que, perante um maior número de casos, frisava que desta vez, a forma de combater a doença tinha que ser outra.

A maior abertura para eventos públicos conduziu a situações preocupantes. Uma delas foi vivida em Fátima. Cinco meses depois de um 13 de maio sem fiéis, as novas celebrações deveriam observar um conjunto de requisitos: distanciamento social, uso de máscara e um limite de participantes.

Nas imagens transmitidas pelas televisões, foi possível ver que poucas foram as vezes que essas regras se cumpriram. 

A 13 de outubro, Fátima encheu e obrigou à tomada de medidas drásticas

No espaço de uma semana, o número diário de infetados passaria da barreira recorde dos mil para uns igualmente inéditos e preocupantes dois mil. A anunciada segunda vaga começava a soar a uma ameaça real.

Pouco mais de meio ano depois de a DGS e o governo insistirem na ineficácia das máscaras como forma de travar a disseminação da doença, Portugal seguia o exemplo de vários países. A segunda vaga era real e assolava já diversos estados, europeus e não só.

Perante a ameaça — e o incumprimento de muitos cidadãos —, vários governos decidiram implementar o uso obrigatório de máscara na rua. Depois de muito se discutir, António Costa viria a ceder e, perante a média de mais de três mil infetados diários, adotaria também a mesma medida.

As medidas que iam sendo implementadas eram insuficientes para travar o crescimento da Covid-19. De mãos atadas, o governo decidiu que não haveria outra forma de aplicar regras mais rígidas para controlar os portugueses e a disseminação da doença, que não com a ajuda de um Estado de Emergência. Marcelo Rebelo de Sousa concordou.

Rapidamente foram divulgadas listas do que era possível ou não fazer. Quando é que se podia sair à rua — e quando é que isso não era permitido. A existência de justificações para quase tudo, fez com que poucos se sentissem obrigados a ficar em casa. Contornar as regras impostas por António Costa era relativamente fácil. 

Confrontado com aquilo a que chamou uma “evidente vontade de incumprimento”, o primeiro-ministro assumiu parte da culpa pela confusão vividas nos primeiros dias do estado de emergência e prometeu mudanças. E uma mão mais firme.

Vivia-se um pico de infeções e de mortos. A um mês de distância do tão desejado Natal, o cenário de celebrações canceladas era tudo o que ninguém queria ouvir. Das autoridades, chegavam palavras de conforto e cautela.

Apesar dos números dramáticos, era o Natal que ocupava parte da agenda das autoridades, dos políticos e dos portugueses. A duas semanas da data, era o próprio Presidente da República que tentava confortar a população, assegurando que as festas haveriam de se realizar — e que os encontros tão adiados poderiam acontecer.

Com a diretora-geral da Saúde fora de combate, coube ao seu subdiretor o momento zen da época natalícia. Era, por esta altura, mais do que evidente que era tarde demais para salvar o Natal e que, portanto, ele seria vivido sob restrições apertadas. Numa conferência de imprensa que ficou famosa, Rui Portugal deixou uma lista de dicas pormenorizadas para que os portugueses pudessem viver um Natal mais simples, mais seguro — e decididamente mais original.

A verdade é que os dias antes do Natal ficaram marcados por um descréscimo nos números. Baixara a média de novos infetados, o número de casos ativos descera dos 80 mil em novembro para os 60 mil em dezembro e também o número de mortos parecia querer abrandar. 

Foi também esse o pretexto para o relaxamento das medidas no Natal, que deram origem a reuniões familiares um pouco por todo o País. As festas decorreram, no entanto, sob avisos de cautela — e com a certeza de que no Ano Novo, Portugal voltaria a fechar-se em casa.

Dois dias depois do dia de Natal, outra esperança se acendia: arrancava a vacinação no País, com a chegada das primeiras doses vindas da Pfizer.

A 27 de dezembro, arranca a vacinação em Portugal

Os maiores receios confirmaram-se. Nas semanas que sucederam o Natal, os números de infetados dispararam. Muitos dos especialistas apontaram o dedo ao relaxamento durante a época natalícia e aos encontros familiares, como a principal causa dos novos surtos.

Os recordes negativos sucediam-se e Portugal atingia novos máximos: no número de infetados e, infelizmente, no número de vítimas mortais. Os hospitais começavam a preparar-se para o pior.

Nas duas semanas que se seguiram, o número diário de mortes disparou das 100 para as 200. Tornou-se evidente para as autoridades que o relaxamento das regras no Natal foi um erro.

Já com Portugal em estado de emergência, o governo avança para um novo confinamento, numa tentativa desesperada de travar uma impiedosa segunda vaga muito mais grave do que a primeira. O portugueses voltavam a fechar-se em casa (e ao teletrabalho).

O surgimento de novas variantes, mais contagiosas, sobretudo a britânica — que correspondia já a uma alta percentagem dos novos caso de infeção no País —, levaram os hospitais ao limite da sua capacidade, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo. Nas televisões, surgiam imagens de ambulâncias em fila de espera à entrada dos hospitais, incapazes de receber todos os pacientes com sintomas.

A segunda vaga entope hospitais e provoca engarrafamento de ambulâncias

Uma semana depois da decisão de manter as escolas abertas, o governo voltava atrás e mandava encerrar todos os estabelecimentos. 

À medida que o confinamento se traduzia num descréscimo dos números de infetados e mortos — e os hospitais respiravam de alívio —, a outra esperança para travar a pandemia avançava. Um mês depois do arranque da vacinação, milhares de portugueses, sobretudo profissionais de saúde, estavam já protegidos.

Pelo caminho, surgiu também a polémica da vacinação indevida, com relatos de várias pessoas fora das listas prioritárias a receberem uma dose. A justificação era quase sempre a mesma: evitar que fossem desperdiçadas doses já preparadas para administrar. O caso mais caricato aconteceu no Porto, onde o INEM decidiu vacinar funcionários de uma pastelaria localizada à porta da sede. O diretor do INEM Norte demitiu-se na sequência do caso.

As constantes polémicas fariam outra vítima: o coordenador do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid, Francisco Ramos. A logística passaria então para a mão dos militares, liderados pelo vice-almirante Gouveia e Melo.

Um ano depois da chegada da doença a Portugal, o País continua confinado, ainda na expectativa de um plano de desconfinamento, embora já longe do sufoco vivido nas primeira semanas de 2021. Com pouco mais de 68 mil casos ativos — valores registados apenas na altura do Natal e no início de novembro —, aponta-se agora à cautela, para que se consiga conter o avanço da doença até ao verão, altura em que o clima poderá servir de barreira a uma situação mais dramática. Desde setembro que não se registavam tão poucos novos casos diários e é preciso recuar ao final de outubro para encontrar valores semelhantes de óbitos em 24 horas.

Apesar do cansaço provocado pelo confinamento, Portugal é, ainda assim, um dos que menos tempo confinou na União Europeia: foram até hoje cerca de 125 dias de reclusão. Com o anúncio do plano de desconfinamento agendado para 11 de março, é previsível que as restrições sejam levantadas de forma faseada até ao final do mês, isto é, até à altura da Páscoa, data que previsivelmente será acompanhada de medidas mais duras — até para evitar outra crise como a que foi vivida após o Natal. 

Precisamente um ano depois do primeiro teste positivo e apesar da vacinação se manter em bom ritmo — com a meta dos 70 por cento necessários para a imunidade de grupo ainda na mira do governo para o final do verão —, é difícil adivinhar o que poderá acontecer nos próximos meses. Certezas, só há mesmo uma: a de que nunca voltaremos à vida que tínhamos antes de 2 de março de 2020.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT