Saúde

Rock no bloco: guitarrista de 27 anos foi operado ao cérebro enquanto tocava Deftones

Christian Nolen foi diagnosticado com um tumor que lhe afetava a função motora. O músico foi submetido a uma cirurgia peculiar.
Christian tem 27 anos e é guitarrista.

Até dezembro de 2023, Christian Nolen tocava covers de System of Down e Deftones em concertos pela Flórida, nos EUA. Porém, no início do ano, trocou os palcos por um bloco operatório em Miami, onde tocou guitarra enquanto era submetido a uma cirurgia ao cérebro.

A ideia de ser operado enquanto se está acordado pode parecer, no mínimo, assustadora. Porém, era a única forma de garantir que o músico norte-americano poderia ser operado a um tumor, sem perder a função motora. O artista tocou vários temas dos anos 80 e 90 enquanto os médicos tratavam de remover a massa.

Nolen tem 27 anos e é um ávido guitarrista. Há um par de meses começou a sentir uma dormência e tremores na mão esquerda, quando tocava. Acabou por ser diagnosticado com uma massa no lobo frontal direito do cérebro, que lhe estava afetar a sua função motora. Porém, para chegar a resultados mais específicos, a equipa de neurologistas precisava de fazer uma cirurgia minuciosa, em que retiraria o máximo possível do tumor que iria depois para análise.

No entanto, não era uma operação comum. Christian teria de estar acordado durante todo o procedimento e, se possível, a tocar guitarra. O objetivo, explicaram os especialistas do Sylvester Comprehensive Cancer Center da Faculdade de Medicina Miller da Universidade de Miami à Fox News Digital, era assegurar que Nolen conseguia controlar as funções cerebrais, à medida que avançavam na delicada cirurgia.

“Quando um tumor envolve ou está próximo de uma parte crítica do cérebro — por exemplo, a que controla a capacidade de falar ou compreender a linguagem, ou de se mover — queremos fazer a cirurgia com os pacientes acordados para monitorizar continuamente os sinais vitais e saber se procedimento está a começar a violar as funções cerebrais normais. Isto torna-se impossível de fazer se o paciente estiver a dormir”, detalhou Ricardo Komotar, um dos neurologistas que participou no processo.

Dada a profissão de Nolen, pareceu-lhes mais indicado que passasse a cirurgia a tocar. A operação aconteceu 10 dias após o diagnóstico, a 18 de dezembro e o artista estava entusiasmado por fazer uma coisa que “só tinha visto em filmes”. O norte-americano foi sedado para a primeira parte do procedimento. A meio acordaram-no e passaram-lhe a guitarra. “Fiquei um pouco assustado, mas concentrei-me e comecei rapidamente a tocar System of Down e Deftones. A partir daí não me custou nada”, explica.

Enquanto Nolen dava um concerto de rock no meio do bloco operatório, os médicos controlavam a função motora. “Quando estávamos a terminar de retirar a parte de trás do tumor, reparámos que a função começou a diminuir”, referiu Komotar. “A massa estava encostada a uma parte do cérebro que controla o movimento das mãos. Felizmente, conseguimos removê-lo todo, sem sequelas.”

Este tipo de cirurgias ão cada vez mais realizadas porque, apesar do risco dos pacientes acordarem sobressaltados, envolvem menos anestesia. Isto significa, segundo o neurologista, que a recuperação é mais rápida e tem menos efeitos secundários. Além disso, os médicos conseguem ser mais agressivos na remoção do tumor, porque têm sempre o feedback do doente.

Christian Nolan teve alta um dia após a cirurgia. As duas semanas seguintes não foram fáceis, sobretudo devido “às restrições pós-cirúrgicas”. O músico foi aconselhado a estar em repouso, longe da guitarra e a manter uma alimentação saudável, rica em vitaminas e nutrientes.

“Os dias estavam realmente a arrastar-se”, contou Nolen à Fox News Digital. “No entanto, com um forte sistema de apoio, tenho sido capaz de me concentrar nos aspetos positivos.”

Aos poucos já voltou a fazer exercício e a tocar guitarra, com melhorias significativas na mão esquerda. Neste momento está a aguardar os resultados da biópsia para começar os tratamentos complementares que, à partida, vão envolver sessões de quimioterapia e radioterapia.

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