De certeza que já foi ao supermercado fazer as compras da semana e encontrou um produto de que nunca tinha ouvido falar. Por momentos, até pensou em comprá-lo para experimentar, mas quando foi ler as informações no rótulo, não compreendeu aquelas expressões complicadas e acabou por desistir. Já todos passámos por este cenário e sentimos que estamos a fazer a escolha errada nas prateleiras, até porque nunca temos a certeza de que aquele alimento é realmente o mais adequado a adquirir. Mas a verdade é que aquilo que compramos em todo o País está muito mais protegido do que pensamos, e é seguro.
Hoje em dia fala-se muito sobre a alimentação saudável, mas pouco sobre a segurança dos alimentos. Embora os conceitos possam parecer semelhantes, há uma linha que os separa. O segundo entende-se, como o próprio nome explica, por tudo aquilo que é seguro adquirirmos, sem termos de nos preocupar com a forma como é feito, os ingredientes, como chegou ao mercado e como possa afetar a nossa saúde.
A nova campanha #Safe2EatEU foi lançada em maio, pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e os seus parceiros nos Estados-Membros da União Europeia, e pretende precisamente facilitar a compreensão sobre os conceitos alimentares, disponibilizando informação clara sobre estes temas.
Um estudo realizado pela EFSA, em 2023, concluiu que apesar de 70 por cento dos europeus manifestarem interesse pela segurança alimentar, a maioria (60 por cento) considera a informação disponível demasiado técnica e difícil de compreender. Em resposta, nasceu a #Safe2EatEU, que está a comunicar a ciência por detrás da nossa alimentação de uma forma clara e simples, através de publicações nas redes sociais e artigos disponíveis no seu site.
Em Portugal, a iniciativa conta com o apoio da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e tem como principal objetivo garantir que tudo aquilo que compramos nos supermercados portugueses é seguro para o consumo, independentemente do que influencia as nossas escolhas — seja o sabor, a saúde, o preço ou até mesmo o meio-ambiente.
“Graças às importantes normas de segurança alimentar na UE e pelo trabalho das autoridades competentes no âmbito do controlo oficial dos géneros alimentícios, os consumidores podem estar seguros de que, independentemente das suas escolhas, os alimentos que compram e consomem são seguros”, afirma Filipa Melo de Vasconcelos, Subinspetora-Geral da ASAE. “A campanha visa estabelecer a ligação entre a ciência no domínio da segurança alimentar e os alimentos que acabam nos nossos pratos, ao permitir que as pessoas façam escolhas alimentares com confiança”.
Os cuidados em Portugal
A ASAE é a responsável pela fiscalização e cumprimento da legislação reguladora das atividades económicas nos setores alimentar e não alimentar em todas as etapas da cadeia alimentar. Ou seja, desde o prado até ao prato, como os responsáveis gostam de dizer.
“Se não é seguro, não é alimento. Em Portugal, estamos alinhados com as melhores práticas existentes e não fugimos à regra”, frisa Filipa Melo de Vasconcelos.
Os perigos químicos são um dos aspetos mais importantes a que devemos estar atentos. E é neste grupo que se destacam os contaminantes, como metais pesados, aditivos e alergénios.
No caso dos alimentos à base de peixe ou marisco, por exemplo, os maiores perigos chegam dos metais, em particular o mercúrio. As micotoxinas podem estar presentes com maior frequência em frutos secos e secados e em produtos derivados de cereais.
Entre os contaminantes químicos que se formam durante o processamento alimentar, destaca-se a acrilamida, que se forma durante a cozedura a alta temperatura de produtos ricos em amido, como as batatas e o pão.
Têm sido também encontrados teores de sulfitos superiores aos permitidos pela legislação em crustáceos e carne (picada e preparados de carne). Estes são utilizados como antioxidante ou conservante em diversos géneros alimentícios, sendo também classificados como alergénios.
Já no que diz respeito aos perigos microbiológicos, a maioria dos surtos de origem alimentar é causada por bactérias como a salmonella e a listeria monocytogenes (que pode provocar meningite, isto é, uma inflamação das membranas que protegem o cérebro e a medula espinal).
Através do Plano Nacional de Colheita de Amostras (PNCA), a ASAE tem como objetivo assegurar e verificar que os géneros alimentícios colocados no mercado não colocam em risco a segurança e saúde dos seus cidadãos, através da adequada informação da rotulagem.
Por isso mesmo, o plano analisa a conformidade dos alimentos, nos termos da legislação alimentar, ao nível da avaliação de aspetos microbiológicos, químicos, físicos e tecnológicos, assim como a sua rotulagem, apresentação e publicidade. “Não havendo risco zero em nada na vida, verifica-se no PNCA uma taxa de conformidade média de 92 por cento nos últimos anos, refletindo a confiança que os géneros alimentícios no mercado nacional à disposição dos consumidores são sãos e seguros”, aponta a Autoridade.
As recomendações da ASAE
Muitos alimentos exigem métodos, temperaturas ou tempos específicos de preparação ou confeção. E estes devem ser escrupulosamente respeitados. Antes de utilizar qualquer produto, o primeiro passo é verificar e seguir as instruções de preparação no rótulo, bem como ter atenção às suas advertências.
Ainda no rótulo, não se esqueça de identificar a presença de substâncias alergénicas, uma vez que estas podem prejudicar, em particular, a saúde dos consumidores que sofrem de alergias ou intolerâncias alimentares.
Tendo em conta a possibilidade de formação de contaminantes ao confecionar alimentos em casa, é importante que evite fritar, grelhar ou assar alimentos a altas temperaturas. E nunca deixe a superfície dos alimentos demasiado tostada ou queimada.
A iniciativa #Safe2EatEU era, até agora, conhecida como #EUChooseSafeFood, mas regressou em 2024 para a sua quarta edição com um novo nome. Este ano também ampliou o seu alcance e conta com a participação de 18 países que estão a ajudar os consumidores a tomar decisões informadas sobre as escolhas alimentares.
Além de Portugal, está presente em Espanha, Grécia, Luxemburgo, Irlanda, Itália, Áustria, entre outros países europeus.