As intolerâncias alimentares não são propriamente uma novidade. As alergias também não. Porém, ainda existem muitas dúvidas sobre estas duas patologias que são tantas vezes confundidas uma com a outra. O que poucos sabem é que uma pode conduzir à morte, enquanto a outra só cria indisposições. Nos últimos anos o número de pessoas com estas condições de saúde parece ter aumentado. Os especialistas acreditam que pode estar relacionada com a forma como os alimentos são processados, assim como o estilo de vida da população e a existência de doenças autoimunes.
Sara Sousa Pinto começou a notar diferenças no seu organismo em 2017, mas nunca pensou tratar-se de uma alergia alimentar. Pouco depois de uma viagem a Paris, sentiu uma forte indisposição, em que os sintomas se confundiram com uma gastroenterite muito aguda. “Nessa noite vomitei dez vezes e perdi mais de cinco quilos”, conta à NiT. E continua: “A partir daí foi um inferno. Passei a fazer visitas diárias ao hospital, e a tomar medicação intravenosa. Demorei um ano a voltar a comer normalmente, mas houve coisas que o meu organismo deixou de tolerar”.
Deixou de beber leite e os iogurtes não lhe “caem bem”. Já o queijo não lhe causa qualquer problema. “Algo totalmente diferente do que me acontece com o óleo, onde é mais do que uma intolerância”, explica. O diagnóstico tardou a chegar. Só depois de várias endoscopias, colonoscopias para despistar a doença celíaca, de Chron e a gastrite nervosa é que os médicos descobriram que a jornalista da TVI era, afinal, alérgica ao óleo. “Era quase como um veneno para mim. A partir daí não como nada frito. Aliás, nem me lembro do sabor de uma batata frita”, revela. Atualmente, Sara sente-se “muito melhor” e a situação está controlada. Contudo, falta-lhe fazer o teste das alergias alimentares, para perceber se é alérgica a todo o tipo de óleos ou apenas ao de girassol.
Margarida Clara é farmacêutica e descobriu no ano passado que era intolerante ao glúten. Aos 44 anos decidiu procurar a origem do que a andava a incomodar há muito tempo. “Na hora das refeições sentia-me nauseada e não conseguia comer. E tinha muitas indisposições gástricas”. Depois de alguma análises e de um teste genético percebeu que o seu organismo não reagia bem à lactose e ao glúten.
Após o diagnóstico mudou os seus hábitos alimentares. Começou a fazer as refeições a horas e retirou os produtos com estas substâncias da sua alimentação. Passou a sentir-se melhor, já consegue comer e nunca mais se sentiu indisposta como antes.
Qual é a diferença entre alergia e intolerância alimentar?
Há alimentos que provocam apenas mau estar e outros que podem causar um impacto negativo na saúde. “Em reações graves a alergia pode levar à morte”, começa por explicar a nutricionista Ana Valente à NiT. Por outro lado, a intolerância alimentar causa apenas desconforto. E, embora não seja positivo, consegue-se viver com isso. Mas quais são as verdadeiras diferenças?
“A alergia é uma resposta imunológica de hipersensibilidade do organismo desencadeada por uma proteína. Independentemente da quantidade a que esteve exposto”, conta. Este problema pode manifestar-se através de lesões cutâneas, urticária, inchaço, enjoos, espirros e até pode causar descidas repentinas da tensão arterial, por exemplo. As reações mais comuns são ao leite e derivados, aos frutos secos, aos ovos, aos citrinos e marisco.
No entanto, se for alérgico não basta evitar estes alimentos. É necessário que tenha a certeza que não come outros que tenham estado em contacto com os que possuíam alergénio.
No caso da intolerância alimentar, define-se como “uma reação adversa, não imunológica, do nosso organismo a um certo alimento”, explica Ana Valente. Os sintomas mais frequentes são gases, cólicas, azia, dores de cabeça e um mal estar generalizado. De acordo com a especialista em nutrição, o leite, a proteína do leite, a lactose, o glúten e as fibras presentes nos legumes são as condições mais comuns.
Os sintomas manifestam-se de forma mais rápida na alergia e de forma gradual quando se trata de uma intolerância. Os tratamentos são idênticos: alterar a alimentação. “No caso das alergias temos de erradicar os produtos a que são alérgicos. Com as intolerâncias depende. Eu não sou defensora da eliminação por completo dos ingredientes que causam os sintomas. Caso a caso podemos ver se teremos de eliminá-los ou apenas reduzir”, remata a nutricionista.