Depois de um dia de trabalho, chegar a casa e sentar-se em frente à televisão é um ritual que muitos não dispensam. Se faz parte deste grupo, a sua saúde pode estar em risco. Um novo estudo conclui que sentar-se diariamente a ver mais de uma hora de televisão está associado a um risco acrescido de doença coronária, independentemente da composição genética.
Especialistas britânicos analisaram os hábitos de saúde e de ver televisão de 370 mil pessoas. E os resultados não podiam ser mais inesperados: ver menos televisão poderia prevenir 11 por cento dos casos de doenças cardíacas.
Estas patologias matam cerca de 30 mil portugueses, 64 mil britânicos e mais de 350 mil americanos, por ano. Das várias doenças cardíacas, as mais graves são as coronárias, que ocorrem quando a gordura se acumula dentro das artérias com o mesmo nome, fazendo com que estas se estreitem reduzindo o fluxo de sangue para o coração. As consequências extremas mais frequentes são os acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e enfartes. Os sintomas mais comuns de doença coronária são dor no peito (angina) e falta de ar. Uma das causas da elevada mortalidade provocada por estas patologias pode ser o tempo que se passa em frente à televisão. De acordo com os especialistas, reduzir o tempo gasto em frente de uma televisão pode diminuir o risco de desenvolver este tipo de doenças.
Os investigadores da Unidade de Epidemiologia do Conselho de Investigação Médica das Universidades de Cambridge e Hong Kong avaliaram cerca de 373.026 voluntários, caucasianos, com idades compreendidas entre os 40 e 69 anos durante 13 anos e as conclusões foram publicadas no passado dia 31 de maio na revista “BMC Medicine”. O objetivo era tentar perceber se existia alguma relação entre o tempo passado a ver televisão, o ADN de cada indivíduo e o seu risco de doença coronária. Os investigadores concluíram que 11 por cento dos casos de doenças coronárias poderiam ser evitados se as pessoas vissem menos de uma hora de televisão por dia.
Durante a investigação perceberam que aqueles que viam mais de quatro horas de televisão por dia tinham um risco maior de vir a sofrer de doença coronária, independentemente da sua predisposição genética. Os indivíduos que viram duas a três horas de televisão por dia tinham uma probabilidade seis por cento menor de desenvolvimento da doença, e os que indicaram ter visto menos de uma hora de televisão tinham uma taxa de risco 16 por cento mais baixa. Os cientistas descobriram que isto estava especificamente associado à televisão — a utilização de um computador para lazer não demonstrou ter o mesmo impacto no risco de doença.
Durante 13 anos os profissionais examinaram as diferenças entre as pessoas que viam televisão e as que utilizavam um computador para lazer, avaliando as suas respostas aos questionários. Na altura em que foram selecionados, nenhum dos participantes do estudo tinha doença cardíaca coronária nem sofrido um acidente vascular cerebral. No entanto, ao longo do estudo, os investigadores encontraram 9.185 casos da doença entre os voluntários.
A pesquisa sugere que — após serem considerados o risco genético de doença coronária, calculado para cada participante, bem como fatores como o índice de massa corporal, idade, sexo, tabagismo, dieta, atividade física e nível sócioeconómico — quanto mais tempo passavam a ver televisão, maior o risco de desenvolver doença cardíaca coronária.
Os investigadores, aqui citados pelo jornal britânico “The Daily Mail” afirmaram que: “a tendência manteve-se em todas as idades e todos os níveis de risco genético, embora aqueles com maior risco genético de doença coronária tenham maior tenham maior probabilidade de desenvolverem a doença”.
Assim, assumindo que vertelevisão está na base do aumento do risco de doença cardíaca coronária – algo que é impossível provar a 100 por cento – o estudo estima que cerca de 11 por cento dos casos de doença cardíaca coronária poderiam ser evitados se as pessoas reduzissem as horas passadas a ver televisão para menos de uma hora por dia, mesmo depois de contabilizar o risco genético e outros fatores.
“Limitar a quantidade de tempo passado sentado a ver televisão poderia ser uma mudança útil, e relativamente leve ao estilo de vida, que poderia ajudar indivíduos com uma elevada predisposição genética para a doença coronária a gerirem o seu risco”, disse Youngwon Kim, Ph.D., autor do estudo, professor assistente na Universidade de Hong Kong, e investigador visitante na Unidade de Epidemiologia do MRC, em comunicado.
A pesquisa conclui também que passar tempo livre em frente de um computador “não parece influenciar o risco de doença”. Porém, pode haver uma explicação para isto. “A visualização de televisão tende a ocorrer à noite, após o jantar, muitas vezes a refeição mais pesada do dia, levando a níveis mais elevados de gorduras e colesterol no sangue”, referem os investigadores.
Outras razões podem estar relacionadas com os comportamentos associados a ver televisão — pesticar, por exemplo, é mais comum do que quando utilizam um computador. Por outro lado, ver televisão tende a ser uma atividade mais prolongada e os utilizadores de computadores têm tendência a fazerem pausas, descreve o estudo..
Se tem o hábito de petiscar enquanto vê televisão, carregue na galeria para saber o que pode comer com moderação à noite para evitar comer um pacote inteiro de bolachas, por exemplo.