É provável que já tenha reparado, nas prateleiras dos supermercados, nos frascos com um pó chamado creatina. Afinal, o que é realmente? Trata-se de um suplemento amplamente utilizado por atletas e pessoas com elevados gastos calóricos, pois ajuda a aumentar a energia.
“A creatina é um aminoácido que faz parte da proteína. Está presente em alimentos de origem animal e é também produzida pelo nosso organismo. Em média, necessitamos de cerca de duas gramas de creatina por dia, sendo que metade é sintetizada pelo fígado e pelos rins e a outra metade provém da nossa alimentação”, explica Gabriela Ribeiro, nutricionista e investigadora da Nova Medical School, à NiT.
A especialista sublinha que “quem mantém uma alimentação equilibrada, consome fontes de creatina na sua dieta e tiver um dispêndio energético normal, não precisa recorrer a suplementos”. No entanto, se houver necessidades específicas relacionadas com a prática desportiva, “a situação muda de figura”, acrescenta.
Para detalhar o funcionamento deste suplemento no organismo, Gabriela explica que a creatina facilita os processos energéticos nas células, especialmente em tecidos com maior necessidade, como os dos músculos, fígado e cérebro. O efeito deste aminoácido neste último órgão que “está relacionado com a sua potencial importância em doenças neurodegenerativas”.
Um ensaio recente, publicado na revista Current Developments in Nutrition, em julho, indica que a creatina pode ter efeitos positivos na prevenção e tratamento da doença de Alzheimer, uma condição neurodegenerativa crónica. A investigação foi realizada em ratos ao longo de oito a nove semanas e observou melhorias na “bioenergética cerebral geral.” Embora os resultados preliminares sejam promissores, o teste foi feito apenas em animais, não havendo ainda perspetivas sobre uma eventual realização em humanos.
“A cretina melhorou alguns parâmetros, mas isso não significa nada. Se os resultados forem replicados em humanos, não podemos garantir que terão o mesmo impacto. Penso que a investigação está muito centrada em parâmetros biológicos, enquanto há outros fatores a considerar, como alterações cognitivas e funcionais, que também devem ser avaliados”, esclarece a nutricionista.
Até ao momento, “não existem estudos relevantes em humanos que permitam concluir que a utilização deste suplemento possa ter efeitos significativos na prevenção do Alzheimer”. Contudo, Gabriela destaca que têm sido realizados esforços importantes na prevenção da doença através da modificação de fatores de risco, como o consumo de álcool, obesidade, tabagismo, depressão, isolamento social, inatividade física e diabetes.
O interesse por investigar os efeitos da creatina no contexto de doenças neurodegenerativas surgiu devido ao seu uso como um potenciador de energia, pois “existem teorias menos exploradas sobre o metabolismo energético do cérebro e a sua relevância”.
Com a crescente discussão sobre os prós e contras da utilização de suplementos, a profissional considera que a nova ligação entre a creatina e as doenças mentais pode impulsionar o seu consumo. “Acredito que isso pode ocorrer por duas razões: as pessoas são bastante influenciáveis, especialmente em relação à alimentação e nutrição, e no que diz respeito ao envelhecimento. Todos desejam melhorar o desempenho cognitivo.”
Se está a considerar incluir a creatina na sua dieta, a nutricionista ressalta a importância de realizar uma avaliação profissional prévia, levando em conta os seus objetivos pessoais e o seu histórico clínico.
“Qualquer suplemento, seja proteico ou de outros nutrientes, deve ser adequado às necessidades energéticas de cada indivíduo. Todos temos necessidades específicas de proteína e, ao sobrecarregar o organismo, uma pessoa saudável pode lidar com isso durante algum tempo, mas poderá tornar-se problemático. É importante ter consciência de que, em Portugal, o consumo de proteína na dieta já é superior ao recomendado.”