Jéssica Athayde está a sofrer com um problema de saúde que tem sintomas que muitos portugueses identificam. A atriz está infetada com a bactéria helicobacter pylori, que está na origem de vários problemas gástricos como úlceras e gastrites, que desencadeiam muito mau estar e vómitos.
“Nem há um ano, fui diagnosticada com aquela bactéria do estômago, pylori. Andava a passar muito mal”, desabafou a artista no Instagram na passada quarta-feira, 8 de março. Porém, só agora começou a fazer o tratamento.
Estima-se que a infeção por helicobacter pylori atinge 60 a 70 por cento dos portugueses. A elevada prevalência no nosso País tem sido alvo da atenção da comunidade científica que procura forma de a eliminar e, assim, diminuir o risco de desenvolvimento de outras patologias gástricas. Segundo os investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade, está também “na origem de 90 por cento dos cancros que se desenvolvem neste órgão”.
Face ao problema, Jéssica Athayde decidiu começar por experimentar alguns tratamentos menos agressivos e fora da medicina convencional. “Estive nas mãos de medicina chinesa, alternativa (…) a tentar despachar este bico, e não consegui. Até que cedi finalmente ao tratamento desta bactéria e comecei a tomar esta merda”, atirou, referindo-se ao antibiótico prescrito pelo médico.
Leopoldo Matos, especialista em gastroenterologista no Hospital Lusíadas, explicou à NiT que existem duas terapias disponíveis, ambas com antibióticos. A primeira implica a toma de cinco comprimidos diários, durante 14 dias consecutivos, — o objetivo é baixar a acidez no estômago para criar um ambiente desconfortável à bactéria para a fragilizar e depois ser mais fácil tratar. O segundo, que é o que a atriz da SIC está a fazer, “é mais curto, mas também mais caro, porque não é comparticipado”. Consiste em tomar cerca de 12 comprimidos por dia: três ao pequeno-almoço, três ao almoço, três ao jantar e três a meio da tarde.
Por regra, os especialistas recomendam a primeira forma de tratamento e a segundo fica como alternativa, caso o problema não fique resolvido. Isto porque esta bactéria tem vindo a aumentar a sua resistência a antibióticos. Porém, como também notou Jéssica Athayde, o tratamento provoca sintomas desconfortáveis e destrói toda a flora intestinal. “Há quem continue a sentir mal-estar no estômago, tenha vómitos ou diarreias.”
A atriz está agora no oitavo de 10 dias em que terá de tomar 12 comprimidos diários. “Ando a passar mal, mas mal à séria”, revelou. “Se aguentei nove meses a vomitar, quando estive grávida do Oli, também vou aguentar estes 10 dias.”
Não há forma de prevenir
A bactéria só consegue sobreviver em ambientes ácidos. É, por essa razão, que não encontramos a helicobacter pylori nos pulmões ou na bexiga, por exemplo. “O único órgão com estas condições é mesmo o estômago”, explica Leonel Matos.
A transmissão deste patogéneo acontece através de água ou alimentos contaminados, ou de pessoa para pessoa, através da saliva ou gotículas respiratórias. Porém, “o portador não tem que estar necessariamente doente, pode apenas ter a bactéria e esta não se manifestar”, até porque ela atua como um “facilitador”. Isto significa que a presença da helicobacter pylori vai contribuir para que algumas doenças digestivas se desenvolvam. Porém, “não é a causa única”.
Quando existem queixas relacionadas com o estômago, é normalmente feito um despiste para a presença da bactéria. “Quando existe essa desconfiança faz-se uma endoscopia com biopsia, e, quando queremos confirmar que a erradicamos optamos por um teste respiratório.”
Se o resultado for positivo, isto significa que o tratamento das gastrites, úlceras ou outras patologias que tenham gerado a queixa, torna-se mais difícil e “pode levar mais tempo”. “Por isso é que é tão importante, neste casos, identificá-la e erradicá-la, apesar de ser um processo complicado, devido à resistência que já tem a certos fármacos”, diz o clínico.
“Normalmente transmite-se nas idades mais jovens, quando os miúdos têm menos cuidado com alguns hábitos protetores, bebem água de qualquer torneira, comem com as mãos sujas, ou bebem das garrafas de outros miúdos”.
Esta bactéria acaba por viver dentro do organismo durante vários anos e pode ou não se manifestar. “Sempre que diagnosticamos uma úlcera ou gastrite, devemos pesquisar a presença da bactéria e erradicá-la, na intenção de curarmos o problema de forma mais eficaz e de forma a que não haja uma recaída a curto prazo.”
“Não há nenhuma recomendação específica para evitar a infeção”, esclarece Leopoldo Matos . Porém, é fundamental, sob o ponto de vista da saúde geral, cultivar bons hábitos de higiene corporal e na cozinha. Entre as dicas, o especialista em gastroenterologista aconselha: lavar as mãos depois de utilizar a casa de banho e antes de comer, lavar bem os alimentos, beber água potável e não partilhar copos nem garrafas.